12 de julho de 2008

Maior ou Melhor


Em vários dos nossos posts, temos abordado a diferença entre ser maior e ser melhor, entre crescer e desenvolver, ou como Arno Kumlehn escreve, entre crescer e prosperar.
Crescer pelo gosto de crescer parece ideologia de célula cancerígena, não parece que seja muito inteligente e o que é pior não tem nós garantido bons resultados.
Este tema, com outras abordagens tem sido postado aqui no blog, recomendo dar uma lida nos textos: A desambição e o desenvolvimento, Quantidade vs Qualidade

MAIOR OU MELHOR ?

Constantemente nos bate a porta através de vários meios, um processo de ufanar (vangloriar-se) a cidade de Joinville como a maior cidade do estado, a terceira maior do sul do Brasil, entre outros predicados. Quantitativamente alguns números não mentem: maior colégio eleitoral e maior arrecadador de tributos de Santa Catarina. Isso gera certo orgulho bairrista no cidadão do lugar (o que é esse lugar?), porém, quais as vantagens que nós moradores usufruímos destes dados quantitativos?

O processo de crescer é quantitativo e inerente à palavra cidade, portanto “comparáveis a organismos vivos. Estruturas que sofrerão doenças, traumas..., mas que etapa a etapa, tal qual um corpo humano, precisarão de cuidados e intervenções para que se adaptem à nova situação de forma rápida, preferencialmente de maneira preventiva.”¹

Como faremos essa transformação, de trocar o verbo crescer para “prosperar”¹, em suma qualificar? Neste ponto surge o primeiro problema, pois “qualidade tem muitos significados, pessoas diferentes dão importância a coisas diferentes”². Poderíamos agora sugerir inúmeros exemplos de qualidades requeridas pelo usuário da cidade para eventos do cotidiano, porém, manterei o discurso conceitual. Voltemos então ao lugar, ao espaço geográfico ou natural que cuja presença do homem transformou e que sofreu transformações pelos processos de produção. Nesse lugar se dão todas as relações, onde somos afetados por fenômenos: ambientais (quente/frio/sol/chuva) e ecológicos, funcionais, econômicos e estruturais, visuais, inter-pessoais, psicológicos, simbólicos e culturais. É nesse lugar ³ que queremos prosperar, no sentido amplo da palavra riqueza e não apenas quantitativa. Um prosperar sustentável que responda as necessidades do presente sem comprometer as capacidades futuras.

Nós devemos procurar formas para essa qualificação, estabelecer alguma forma coletiva de cobrar as dimensões do prosperar, que no meu entendimento devem passar pelo prosperar ambiental na sustentação dos ecossistemas, o prosperar social com a melhoria nos processos e acessibilidade a educação e saúde, prosperar politicamente na construção da cidadania que visa à incorporação dos indivíduos ao processo de desenvolvimento, prosperar econômico na gestão prioritária e eficiente de recursos, prosperar demográfico quanto aos limites do lugar em relação aos seus recursos, prosperar cultural e o prosperar institucional no que tange a criar um processo de relação na sociedade para garantia de suas vontades. Esse exercício conceitual de pensar o prosperar, o qualificar pode agora sugerir individualmente inúmeros requisitos desejáveis para a maior cidade, porém “em primeiro lugar, é mister nos igualarmos , pelo saber, a essa visão, tomar posse dela, dizer o que é nós e o que é ver, fazer, pois como se nada soubéssemos, como se a esse respeito tivéssemos que aprender tudo.”4 Algum dia então um poderemos realmente nos orgulhar não de sermos os melhores, mas sim de termos apreendido com nossos erros.

Arno Kumlehn
Arquiteto e Urbanista


Bibliografia
1. Mandelli, Pedro, Gestão das Mudanças , Campus 2003
2. Kotler, Philip, Marketing Para o Século XXI, Futura 2000
3. Queiroz, Luiz Augusto de , A Teoria do Lugar Central, USP,19824. Merleau-Ponty, M. , O Visível e o Invisível, Perspectiva 1973

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