8 de julho de 2008

Ponto e Contraponto

Este blog é um espaço aberto e plural, que defende e propicia o debate publico sobre temas de interesse.

Um dos temas sobre os que neste blog temos nos posicionado é sobre os parques que Joinville não tem, sobre os que tem e sobre os que deveria ter.

Como a unanimidade é burra, nada melhor que publicar também opiniões divergentes das defendidas e propostas por este espaço.

O Arquiteto Marcel Virmond Vieira, tem nos encaminhado, ao nosso pedido, o texto que publicou no jornal Noticias do Dia, que transcrevemos a seguir. Em azul e itálico o texto original, os comentários em vermelho.

Inicialmente
destacar que conheço o Marcel, desde faz muito tempo, e que o considero um profissional capaz e principalmente um apaixonado por Joinville, de posições fortes, nas que não sempre temos estado do mesmo lado, mas um homem inteligente e aberto ao dialogo. O que é mais importante alguém que tem coragem de colocar as suas opiniões em publico e assinar o que escreve. Que é muito mais do que se pode dizer da maioria.

Os Parques Invisíveis

A propósito da recente polêmica sobre a necessidade de um parque para Joinville, julguei procedente apresentar à opinião pública algumas informações sobre o modelo curitibano de parque urbano. Porque mais interessante do que ir até Curitiba para passear em um de seus belos parques, é verificar que estes são o resultado de ações integradas de planejamento urbano e saneamento ambiental. Parques como o Barigui, o São Lourenço e o Iguaçu foram criados no início dos anos 70 como áreas de proteção de fundos de vale e de controle de vazão dos rios de mesmos nomes.

A idéia da utilização daquelas áreas para o lazer foi a contribuição criativa dos arquitetos para enriquecer uma solução técnica apontada por sanitaristas. Mais recentemente, um novo ciclo de parques foi criado em Curitiba, desta feita em áreas degradadas, como forma de recuperação ambiental. Igualmente na concepção desses novos parques, não se pensou apenas no lazer pelo lazer, mas se buscou integrar soluções ambientais, culturais e de desenvolvimento humano.

Interes ante e esclarecedora esta informação, que seria muito útil se o modelo de desenvolvimento urbano, a topografia e a historia de Joinville e de Curitiba fossem semelhantes ou comparáveis.

Importante a diferenciação que faz quanto ao uso e a função do parque, hora como equipamento de preservação e educação ambiental, hora como ferramenta de recuperação de áreas degradadas, porem os parques que estão em discussão em Joinville hoje, por parte da população, a partir basicamente da iniciativa do grupo RBS, são parques voltados ao lazer.

Até em função que Joinville já dispõe de uma serie de espaços urbanos que com o nome de parques, mesmo sem sê no sentido popular da acepção, estão destinados a cumprir as funções educativas e de preservação.

Aliás, o parque urbano de Curitiba criado no centro da cidade com foco em lazer é o Passeio Público, concebido nos anos 40, através do Plano Agache. Este, curiosamente, parece não corresponder ao modelo de parque para Joinville propalado pela mídia.

Existe uma diferencia de mais de meio século, entre o Passeio Publico de Curitiba e o Parque Central de Joinville, existem também diferenças em área, função e conceito, que não permitem que os dois modelos possam ser comparados.

Mas esse modelo “Barigui/Ibirapuera” é um parque para quem? Não está vinculado à educação ambiental, nem tampouco atende aos conceitos atuais de preservação da natureza. Deseja-se um parque para exibir o tênis novo comprado no shopping ao lado, e para paquerar fazendo o footing ao redor do lago artificial.

Neste momento, reconheço que fiquei um pouco decepcionado, a linha de articulação era tão didática, tão transparente e tão nítida, tão bem estruturada, que não esperava uma derrapada como esta.

O Parque que os joinvilenses estão dizendo que querem, e que estão dizendo como deve ser com certeza que não é um parque voltado a preservação da natureza, nem de educação ambiental, as pessoas tem se manifestado e tem expressado claramente a sua vontade. Querem um parque para o lazer, para passear, para levar os seus filhos, para tomar sol, para sentar na relva, para paquerar, para conviver, para usar, para passear de bicicleta, de tênis novo ou de chinelo de dedo.

O modelo deste parque urbano, esta muito mais para um Ibirapuera ou um Aterro do Flamengo, se usamos referencias nacionais, ou um Central Park, ou o Englischer Garten, ou Les Jardins de Luxembourg, por citar algumas referencias internacionais, entre tantas outras.

Se localizado no centro de Joinville – área do batalhão, por exemplo – continuará tão distante da grande maioria da população quanto o parque Zoobotânico, aquele que ninguém vê, ali embaixo do nosso nariz.

Parece-me maniqueísta explorar a dicotomia centro/bairro. Não estamos falando de uma cidade? Ou queremos agora estimular a idéia que o centro é o local para a elite e os bairros são locais para outro tipo de joinvilenses. Inclusive alguns dos que se manifestaram com as suas opiniões, deixaram claro que melhor ter um parque bom que uma dúzia de espaços perdidos, mal equipados e pior mantidos.

Mas por que o Zoobotânico não serve? Por que o Parque Caieras não conta? Parafraseando Ítalo Calvino, parece que temos em Joinville “parques invisíveis”.

Não serei quem diga que o Zoobotânico não serve menos ainda quem possa asseverar que o Caieras não serve. Quem diz isto são os joinvilenses que não vem nestes "parques" à resposta aos seus anseios e consideram que estes parques não os atendem.

Lembro uma frase de Luiz Carlos Meinert, “Aqui no serviço publico, é o poste que mija no cachorro" Me sinto do mesmo modo. Como pode ser que os joinvilenses não percebam a maravilha que são os parques que tem. Não são os parques que são invisíveis, os invisíveis são os joinvilenses que os visitam. Quanto investimento mal feito, quanto dinheiro jogado fora. Porque será que as pessoas não freqüentam os belos parques que temos? Com certeza que a culpa é destes cidadãos, que não estão satisfeitos com tudo o que fazemos por eles.

Quem sabe se no passado, o poder publico tivesse feito como o jornal A Noticia fez agora, perguntar as pessoas o que eles querem, o resultado seria outro.

Talvez porque para chegar até o Caieras é preciso passar pelo “bairrão”, muitos formadores de opinião sequer o conheçam. É uma pena, pois o lugar é lindo, tem vistas para a Lagoa e para a Serra, e ainda agrega sítios históricos e arqueológicos.

De novo esta visão maniqueísta, de acordo com dados publicados recentemente, o Parque Caieras, esta maravilha visível, recebe em finais de semana de tempo bom, uns 2.000 visitantes. Porque será que tão poucos joinvilenses prestigiam um parque tão maravilhoso? Por muito que me esforço não consigo imaginar, porque alguém pegaria o seu carro para ir ao Parque Malwee, ou ao Parque Barigui, tendo aqui ao lado uma das 7 maravilhas da natureza,

Para esses formadores de opinião, porém, nem o Caieras, nem nenhum dos parques em implantação na nossa cidade, financiados pelo BID e Fonplata, vai ser chique o bastante. Afinal, foram concebidos com ênfase em preservação do meio ambiente, controle da vazão de bacias hidrográficas, educação ambiental e preservação do patrimônio cultural. As equipes técnicas não se preocuparam com a marca de seus trainnings, nem criaram pistas de jogging asfaltadas. Na maior parte deles não se poderá entrar de carro, e como se não bastasse, o plano é interliga-los por ciclovias, não por viadutos.

Pode ser que justamente, por aqui consigamos avançar numa solução de consenso, os parques não foram concebidos para atender aos desejos da população, foram projetos feitos para receber uns recursos voltados a ações de preservação do meio ambiente. Ação meritória, na qual o Arquiteto Marcel se empenhou, com denodo, para garantir que estes recursos viessem para Joinville, e os meus parabéns por isto.

Mas não são estes os parques que a população quer, será que é tão difícil escutar as pessoas. Nada contra que tenhamos uma rede de espaços verdes preservados, só que não é só isto o que as pessoas querem. Não é o que mostram as pesquisas.

Para esses poucos, talvez a solução continue sendo pegar o carro, entrar na BR-101 duplicada e pedagiada, e passear no Barigui. Para os demais joinvilenses, no entanto, vai aumentar muito a oferta de lazer, independente de qualquer debate.

Aqui novamente a minha decepção, se no parágrafo anterior, fica claro que os parques que estão sendo licitados e implantados pela prefeitura municipal de Joinville, com recursos do Fonplata “... porém, nem o Caieras, nem nenhum dos parques em implantação na nossa cidade, financiados pelo BID e Fonplata, vai ser chique o bastante. Afinal, foram concebidos com ênfase em preservação do meio ambiente, controle da vazão de bacias hidrográficas, educação ambiental e preservação do patrimônio cultural." Viu o grifo não é meu, o texto é seu e nisto discordamos muito, queremos parques de lazer. Porque como na musica dos Titãs, "A gente quer comida, diversão e arte. A gente quer inteiro e não pela metade."

Como escrevi no começo, o Arqto. Marcel Virmond Vieira é um profissional competente, ainda que neste tema, não seja completamente isento, porque participou e liderou com competência a equipe que elaborou os projetos e buscou os recursos do Fonplata e do BID, o que alias só o engrandece. Tal vez se tivesse tomado um tempo para escutar o que a população de verdade desejava, alguns dos parques e dos espaços verdes propostos estariam voltados ao lazer e não precisaríamos ter que busca-lo longe de casa.

Marcel Virmond Vieira
Arquiteto e Urbanista

2 comentários:

  1. Prezado Jordi,

    Continuo achando que a campanha dos parques é exagerada e equivocada. Primeiro porque nega os parques que já existem, e que se prestam perfeitramente para as atividades citadas: "para o lazer, para passear, para levar os seus filhos, para tomar sol, para sentar na relva, para paquerar, para conviver, para usar, para passear de bicicleta, de tênis novo ou de chinelo de dedo."
    Poderia ser uma campanha pedindo "Mais parques para Joinville" ou então "Melhores parques". Mas não é.

    Em segundo lugar, acho que se o parque modelo da campanha é o Barigui, cabe perfeitamente o histórico e a comparação. Você também cita em sua resposta vários parques em cidades tão distintas, como " se o modelo de desenvolvimento urbano, a topografia e a historia de Joinville e de Curitiba ( e Rio e São Paulo e Londres e Paris) fossem semelhantes ou comparáveis."

    Há menos opções de lazer no Barigui do que no Caieras. A diferença é que o Barigui é vizinho aos bairros Batel e Champagnat, e atrai uma população de poder aquisitivo mais alto. Diferente do que ocorre com o Parque Iguaçu, por exemplo, que quase nenhum joinvillense conhece. O maniqueismo não é meu. Mas pergunto novamente aos leitores do Blog: o que que o Barigui tem que o Caieras não tem, ou porque o Zoobotânico não conta e não serve? Eu os visito e meus filhos adoram. Se encantam particularmente com os animais do Zoobotânico.

    Por último, reafirmo que urbanismo só se faz levando em conta a localização dos equipamentos e as fontes de recursos. Propostas que não levam isto em consideração não tem compromisso nenhum com a comunidade, só com a vaidade de seus autores. Podemos então propor um parque na Wetzel, mais central que o batalhão, ou um metrô grátis até o Caieras. Quem sabe um aeromóvel ligando o Caieras ao Barigui, dando assim ao público as duas opções.

    Enfim, como você, defendo com a própria vida nosso direito de pensarmos diferente.

    Abraço,

    Marcel

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  2. É importante o dialogo e o debate, pena que alguns setores da administração municipal, tenham gazetado esta aula.
    Abraço

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