Essa cena me ensinou muito sobre gerenciamento de projetos, gerenciamento de crise e resolução de problemas
Osni Passos
Sem informações confiáveis as possibilidades de consecução de qualquer planejamento é mero exercício de futurologia.
Celso Santos
Quando se toma conhecimento da forma como são elaborados os estudos e projetos para planejar e definir o futuro de Joinville, a frase de Celso Santos ganha uma força e uma atualidade, que alguns podem considerar assustadora.
A falta de informações e pesquisas adequadas e confiáveis, levam a tomar decisões equivocadas que acabamos pagando todos.
Zoneamento do Morro do Boa Vista
A oficina convocada pela Fundema permitiu definir os critérios para o zoneamento da Unidade de Conservação do Morro do Boa Vista. O trabalho que teve uma boa participação e uma excelente organização serviu para que a sociedade se manifestasse e disse sem meias palavras o que quer e o que não quer. De novo a participação cidadã deu um banho.
O que chamou a atenção, foi o nível e a qualidade das propostas e a participação de todos, como destaque a unanimidade da sociedade em exigir que a ferida aberta resultado do projeto amalucado de um ginásio em área de preservação, seja recuperada e revegetada. Não permitir que a prefeitura tome parte da área verde para implantar um estacionamento e a proposta de desenvolver um modelo de ocupação sustentável para as 20 famílias que ocupam ilegalmente uma área desde faz mais de 30 anos. A idéia de implantar um projeto eco-sustentavel, que busque em alternativas inovadoras a sua viabilidade, com energia renovável, com esgoto tratado por zona de raízes, com construções feitas com materiais recicláveis, que possa servir de modelo e de referencia, são alguns dos pontos a destacar positivamente.
Entre os pontos negativos, a flagrante e corriqueira dissintonia entre os diversos órgão da Prefeitura, que falam idiomas distintos, alguns membros do segundo andar do paço municipal falariam de linguajares divergentes. Em quanto o morro precisa de uma Zona de Amortecimento (ZA) para evitar ou minimizar a pressão sobre a unidade de conservação, o projeto de macro-zoneamento encaminhado a Câmara de Vereadores, propõe para a região em volta do morro o critério de adensamento prioritário. Em português para leigo, verticalizar, adensar e acabar ocultando o morro para a cidade.
Que a prefeitura tem inchado muito não é de hoje, mas que esta parecendo uma torre de babel, com muita gente falando e se achando no direito de mandar e pouca gente escutando é preocupante, porque evidencia desorganização e falta de coordenação, imprescindível em quaisquer organização com mais de três funcionários.
Escrever sobre falta de planejamento, sobre imprevidência ou simplesmente sobre desorganização, equivale hoje a chover no molhado. Podemos dizer que tem se convertido em algo tão habitual que ninguém mais se surpreende e menos ainda se impressiona. A novidade seria que fosse possível planejar e executar no prazo, com as especificações e no preço orçado e previsto.
A menos de 3 meses da inauguração do novo shopping, a imprensa local informa que não existe ainda um projeto definido, nem um orçamento, menos ainda uma definição clara de quem vai pagar a conta das mudanças no transito, para poder fazer frente ao impacto que a inauguração do novo shopping gerará. O objetivo deveria ser o de minimizar o desconforto que o novo pólo gerador de trafego trará para os usuários da rotatória das universidades, para os que trafegam pela Rua Santos Dumont, pela Avda. Edgard Meister, ou que precisem se dirigir a Univille ou a Udesc. Parece porem que o foco das diversas alternativas consideradas é o de facilitar o acesso ao Shopping.
Mesmo depois de transcorrido um ano da aprovação da obra do shopping, parece que o tempo no foi suficiente para poder analisar com tempo e propor as melhores alternativas para resolver um problema, que alem de antecipado por todos, estava previsto desde antes do inicio das obras. Deixar tudo para o ultimo momento, ainda mais conhecendo a tradicional lerdeza do serviço publico para executar quaisquer serviço evidencia uma terrível falta de planejamento e um amadorismo que em outros setores da sociedade poderia ser considerado incompetência.
Faz mais de 15 anos, que um grupo se reunia para debater e pensar Joinville, como muitos outros o fizeram antes de nos e espero que o façam tambem depois. Naquele tempo éramos mais jovens e não tínhamos consciência que algumas coisas não poderiam ser feitas. Com o entusiasmo de uma época e de uma idade fizemos o que não deveríamos ter feito. Ousamos pensar uma Joinville diferente. Uma outra Joinville. Em lugar de pensar ou debater uma cidade possível, imaginamos uma Joinville impossível.
Dos debates e da troca de idéias, nasceu uma forma de pensar, que baseada numa acracia participativa e democratica, típica de idade e da imaturidade, se dedicou a sonhar uma outra Joinville. Sem estar atrelados, naquele tempo, a partidos ou grupos determinados, éramos livres para pensar, debater e propor. Sem ter que preocuparmos com o que seria ou não possível, ou caberia dentro de um orçamento, participativo ou não, ou de um plano de governo, aqueles livrinhos cheios de objetivos, que são distribuídos até a saciedade, em época eleitoral e permitem ver ao cabo de quatro anos, tudo que não foi feito. Depois o tempo cuidou que as ideais fossem absorvidas e descaracterizadas pelo “status quo”. E o sonho, não de construir uma cidade impossível, o sonho de sonhar uma cidade melhor, foi esvaindo se aos poucos.
A prefeitura contratou um Planejamento Estratégico, que coubesse no próximo plano de governo, gente boa inclusive, se empenhou em propor uma Joinville viável, o que seria possível, e as obviedades e platitudes ocuparam o lugar das idéias, a falta de visão foi ocupada por uma sucessão ordenada de objetivos, que conduzem com passo firme a mais do mesmo. O que poderia ter sido a “Primavera de Praga” acabou do mesmo modo que a original, com os tanques soviéticos ocupando as ruas, os grupos dispersando se e alguns próceres da nossa sociedade aparecendo na foto. Com o mesmo olhar que o caçador utiliza ao se fazer fotografar com o ultimo elefante abatido.
Existiu sim um tempo em que se pensou outra cidade, uma cidade melhor, não maior, nem inchada, uma cidade em que a qualidade de vida ocupasse um espaço maior, os valores fossem mantidos e a cidade fosse mais competitiva, mais justa e plural. Evidentemente faltou ao grupo compreender que este modelo de cidade, poderia enfrentar oposição, naqueles que durante décadas tem sido e continuam sendo os donos do pedaço. Vocacionados para a preservação do modelo atual. Com uma visão que dificilmente supera o horizonte dos 4 anos do mandato do prefeito. Que se concentra no que é possível, no que pode ser feito.