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Ciclistas
É engraçado como as pessoas se acostumaram a
opinar sobre a "mobilidade dos automóveis", esquecendo-se de que
atrás de cada volante existe uma pessoa, um cidadão, um morador da cidade.
Se fizermos uma pesquisa sobre o meio preferido de transporte dos cidadãos,
penso que o automóvel ganha disparado. E porque isso? Simples. Desde Juscelino
Kubitscheck elegeu-se o automóvel como sonho de consumo e ao mesmo tempo
suporte industrial e econômico de parcela considerável da nossa economia.
A decisão tomada nos anos cinquenta nos afeta até hoje. Até porque nada foi
feito para alterar o andar da carruagem.
Acrescente-se à essa história o fato recente do governo lula/dilma incentivarem
à exaustão a compra e utilização do carrinho da familia, como símbolo do
sucesso das políticas do governo às classes menos favorecidas. Orgulhosamente,
propala-se com um sorriso mal disfarçado nos lábios: agora carro não é só pra
classe A e B.
Pois bem, se levarmos em conta que os poderes executivos criaram apenas poucos
centímetros de estradas e vias de locomoção nos ultimos dez anos, resulta
óbviamente o congestionamento que se vê por aí diariamente. E como diz Jordi,
vai piorar. Claro que vai.
Mas vamos e venhamos, querer fazer todo mundo andar de bicicleta, como sonham
nossos valorosos pensadores utopistas, num sistema que nos obriga a cumprir
horarios e prazos cada vez mais impossiveis, é de uma pobreza intelectual
atroz. Desde a invenção da roda, já passamos por vários meios de transporte. E
a bicicleta já teve o seu lugar sim, até uns quarenta anos atrás, quando era
possivel seu uso e aceitáveis suas mazelas (sim, lembro muito bem quando tinha
que ir à escola de bicicleta, por dez quilometros, muitas vezes sob chuva ou
geada). E, claro, eu ainda não tinha passado dos sessenta...
A corrente de pensamento que "endeusa" o biciclo já é tão poderosa
hoje, que está próxima a se tornar dogma. E dogma chiita. Porque a simples
menção contrária a seu uso, ou favoravel ao uso do automóvel, já transforma o
autor em herege. Tanto que poucos tem a coragem de se manifestar contráriamente
ao grupo dominante.
Assim, nossos Ipujes vão pontilhando riscos e mais riscos no chão, à guisa de
"ciclofaixas" (eu chamo de ciclofarsas), espaço este sonegado das
pistas de rolamento já escassas em sua largura, dificultando cada vez mais a
fluencia do transito, para o uso de meia duzia (sim, meia duzia) de ciclistas,
que por se sentirem inseguros nos limites daqueles dois risquinhos, acabam transitando
no outro lado da rua, no meio dos carros. Já cansei de testemunhar isso na
ciclofarsa da rua Dona Francisca, no Saguaçu, onde moro. E vou dizer mais: a
maior parte dos ciclistas que usam essas pseudo ciclovias o fazem nos fins de
semana, por recreação.
Portanto, vamos falar sério. O automóvel, da
forma como concebido nos dias atuais é problema? Sim, concordo que seja. É
poluidor e ocupa espaço consideravel. Mas é a ele que nossa população está
sendo empurrada pela política governamental e pelo sistema capitalista vigente
e aprovado a cada nova eleição. Sim meus amigos, a grande maioria dos
candidatos eleitos nas eleições pertence ao enorme grupo que prega a manutenção
do status quo.
Voltar à bicicleta pode ser uma solução? Pode, claro. Pessoalmente, não pretendo
voltar à ela. Já a usei muito e pra mim, é coisa do passado. Mas se for do
interêsse da maioria o seu uso, tudo bem. Mas não nesse sistema que está aí. O
buraco é muuuuuito mais embaixo minha gente. A primeira coisa que tem que
acabar é a nossa já conhecida e famigerada "Sociedade de Consumo".
Alguém está disposto a abrir mão? As corporações multinacionais vão se render?
Vão parar de criar necessidades para inutilidades? Deixaremos de ser uma
sociedade egocêntrica e egoísta? Deixaremos de ser comandados pela mídia? Só
vejo um jeito pra isso. Começar do zero. E isso vai doer um bocado! Alguém está
disposto??
Pois bem, enquanto isso não acontece, voltemos à nossa discussão de mobilidade.
Estamos discutindo isso faz anos. E dessa discussão, pelo menos em Joinville,
as poucas conclusões que temos visto são quase todas no sentido da
"demonização" do automóvel e de soluções urbanas como os
"famigerados" elevados. E nada de concreto se faz.
Caramba, não sei onde foram buscar a idéia de que um elevado não resolve nada e
é dinheiro publico jogado fora. Já ouvi gente aqui neste espaço, ou no chuva
ácida, alegar que elevados só serviriam de teto para pedintes e "sem
terras". Putaqueospariu!!
E o que dizer da organização do trânsito em nossa cidade? Céus, o pessoal do
agora denominado ITRAN nunca ouviu falar em semáforos inteligentes? O conceito
de "onda verde" (nada a ver com plantação de arvores) já existe ha
mais de quinze anos, menos aqui.
Centrais de Controle de transito, monitorando os pontos de congestionamento em
tempo real? Ah! isso é dinheiro jogado fora.
E o que dizer de outro grande tabu, que é o estacionamento? Esse mesmo Itran só
sabe eliminar os poucos que ainda restam. Criar bolsões nas áreas centrais ou
de maior movimento, nem pensar. Pelo menos uns 20 por cento dos automoveis
circulando pelo centro, estão ali a procura de uma vaga, contribuindo com o
congestionamento.
E pra não esquecer, alguém já mencionou a largura das vagas nas vias onde elas
ainda existem? Pois é, na sua quase totalidade, são mais estreitas que qualquer
automóvel. Foram desenhadas para fiats 147 ou fusquinhas. Estão fora da
realidade. E recentemente, começaram a demarcar a nova Max Colin. Quequeéisso?
Já viram a largura das faixas? Para veículos um pouco maiores, tipo uma Hilux,
mal cabem entre os dois riscos. E a faixa da esquerda então, é calamidade pura.
Fizeram ali faixa de rodagem, mas
esqueceram de tirar os bueiros...
Descontada a largura
da ciclofarsa, dividiram o que restou por três, e o resultado foram faixas de
rodagem sem a menor condição de segurança. E assim querem
melhorar a fluidez???
Sem querer defender este ou aquele candidato recente, tivemos um em Joinville
que "heréticamente" propôs a construção de vários elevados,
eliminando enormes pontos de congestionamento. Propôs também uma Central
Inteligente de Controle, tecnologia já usada em muitas cidades do país e do
mundo.
Bem, foi fragorosamente derrotado por ser no mínimo sonhador, ou no outro
extremo, farsante.
Então tá. Vamos continuar batendo palmas para os riscos no chão (que ninguém usa), vamos criar binários e mais binários (que maravilha), e botar os
guardinhas azuis do Itran nas esquinas pra levantar um troco pra festinha do
natal que se aproxima. (só pra sacanear, alguém já viu um guardinha do Itran orientando
tráfego?)
E acabei de lembrar: Ô pessoal do Itran!! já existe semáforo a LED de alta
intensidade, viu? Voce enxerga de longe e dura muito
Nelson Jvlle.