18 de novembro de 2012

Mobilidade urbana

Este comentário foi inicialmente publicado no post Ciclistas


É engraçado como as pessoas se acostumaram a opinar sobre a "mobilidade dos automóveis", esquecendo-se de que atrás de cada volante existe uma pessoa, um cidadão, um morador da cidade.

Se fizermos uma pesquisa sobre o meio preferido de transporte dos cidadãos, penso que o automóvel ganha disparado. E porque isso? Simples. Desde Juscelino Kubitscheck elegeu-se o automóvel como sonho de consumo e ao mesmo tempo suporte industrial e econômico de parcela considerável da nossa economia.

A decisão tomada nos anos cinquenta nos afeta até hoje. Até porque nada foi feito para alterar o andar da carruagem.

Acrescente-se à essa história o fato recente do governo lula/dilma incentivarem à exaustão a compra e utilização do carrinho da familia, como símbolo do sucesso das políticas do governo às classes menos favorecidas. Orgulhosamente, propala-se com um sorriso mal disfarçado nos lábios: agora carro não é só pra classe A e B. 

Pois bem, se levarmos em conta que os poderes executivos criaram apenas poucos centímetros de estradas e vias de locomoção nos ultimos dez anos, resulta óbviamente o congestionamento que se vê por aí diariamente. E como diz Jordi, vai piorar. Claro que vai.
Mas vamos e venhamos, querer fazer todo mundo andar de bicicleta, como sonham nossos valorosos pensadores utopistas, num sistema que nos obriga a cumprir horarios e prazos cada vez mais impossiveis, é de uma pobreza intelectual atroz. Desde a invenção da roda, já passamos por vários meios de transporte. E a bicicleta já teve o seu lugar sim, até uns quarenta anos atrás, quando era possivel seu uso e aceitáveis suas mazelas (sim, lembro muito bem quando tinha que ir à escola de bicicleta, por dez quilometros, muitas vezes sob chuva ou geada). E, claro, eu ainda não tinha passado dos sessenta...

A corrente de pensamento que "endeusa" o biciclo já é tão poderosa hoje, que está próxima a se tornar dogma. E dogma chiita. Porque a simples menção contrária a seu uso, ou favoravel ao uso do automóvel, já transforma o autor em herege. Tanto que poucos tem a coragem de se manifestar contráriamente ao grupo dominante.

Assim, nossos Ipujes vão pontilhando riscos e mais riscos no chão, à guisa de "ciclofaixas" (eu chamo de ciclofarsas), espaço este sonegado das pistas de rolamento já escassas em sua largura, dificultando cada vez mais a fluencia do transito, para o uso de meia duzia (sim, meia duzia) de ciclistas, que por se sentirem inseguros nos limites daqueles dois risquinhos, acabam transitando no outro lado da rua, no meio dos carros. Já cansei de testemunhar isso na ciclofarsa da rua Dona Francisca, no Saguaçu, onde moro. E vou dizer mais: a maior parte dos ciclistas que usam essas pseudo ciclovias o fazem nos fins de semana, por recreação.
Portanto, vamos falar sério. O automóvel, da forma como concebido nos dias atuais é problema? Sim, concordo que seja. É poluidor e ocupa espaço consideravel. Mas é a ele que nossa população está sendo empurrada pela política governamental e pelo sistema capitalista vigente e aprovado a cada nova eleição. Sim meus amigos, a grande maioria dos candidatos eleitos nas eleições pertence ao enorme grupo que prega a manutenção do status quo.
Voltar à bicicleta pode ser uma solução? Pode, claro. Pessoalmente, não pretendo voltar à ela. Já a usei muito e pra mim, é coisa do passado. Mas se for do interêsse da maioria o seu uso, tudo bem. Mas não nesse sistema que está aí. O buraco é muuuuuito mais embaixo minha gente. A primeira coisa que tem que acabar é a nossa já conhecida e famigerada "Sociedade de Consumo". Alguém está disposto a abrir mão? As corporações multinacionais vão se render? Vão parar de criar necessidades para inutilidades? Deixaremos de ser uma sociedade egocêntrica e egoísta? Deixaremos de ser comandados pela mídia? Só vejo um jeito pra isso. Começar do zero. E isso vai doer um bocado! Alguém está disposto??

Pois bem, enquanto isso não acontece, voltemos à nossa discussão de mobilidade. Estamos discutindo isso faz anos. E dessa discussão, pelo menos em Joinville, as poucas conclusões que temos visto são quase todas no sentido da "demonização" do automóvel e de soluções urbanas como os "famigerados" elevados. E nada de concreto se faz.

Caramba, não sei onde foram buscar a idéia de que um elevado não resolve nada e é dinheiro publico jogado fora. Já ouvi gente aqui neste espaço, ou no chuva ácida, alegar que elevados só serviriam de teto para pedintes e "sem terras". Putaqueospariu!!

E o que dizer da organização do trânsito em nossa cidade? Céus, o pessoal do agora denominado ITRAN nunca ouviu falar em semáforos inteligentes? O conceito de "onda verde" (nada a ver com plantação de arvores) já existe ha mais de quinze anos, menos aqui.

Centrais de Controle de transito, monitorando os pontos de congestionamento em tempo real? Ah! isso é dinheiro jogado fora.

E o que dizer de outro grande tabu, que é o estacionamento? Esse mesmo Itran só sabe eliminar os poucos que ainda restam. Criar bolsões nas áreas centrais ou de maior movimento, nem pensar. Pelo menos uns 20 por cento dos automoveis circulando pelo centro, estão ali a procura de uma vaga, contribuindo com o congestionamento.

E pra não esquecer, alguém já mencionou a largura das vagas nas vias onde elas ainda existem? Pois é, na sua quase totalidade, são mais estreitas que qualquer automóvel. Foram desenhadas para fiats 147 ou fusquinhas. Estão fora da realidade. E recentemente, começaram a demarcar a nova Max Colin. Quequeéisso? Já viram a largura das faixas? Para veículos um pouco maiores, tipo uma Hilux, mal cabem entre os dois riscos. E a faixa da esquerda então, é calamidade pura.
Fizeram ali faixa de rodagem, mas esqueceram de tirar os bueiros...
Descontada a largura da ciclofarsa, dividiram o que restou por três, e o resultado foram faixas de rodagem sem a menor condição de segurança. E assim querem melhorar a fluidez???
Sem querer defender este ou aquele candidato recente, tivemos um em Joinville que "heréticamente" propôs a construção de vários elevados, eliminando enormes pontos de congestionamento. Propôs também uma Central Inteligente de Controle, tecnologia já usada em muitas cidades do país e do mundo. 

Bem, foi fragorosamente derrotado por ser no mínimo sonhador, ou no outro extremo, farsante.

Então tá. Vamos continuar batendo palmas para os riscos no chão (que ninguém usa), vamos criar binários e mais binários (que maravilha), e botar os guardinhas azuis do Itran nas esquinas pra levantar um troco pra festinha do natal que se aproxima. (só pra sacanear, alguém já viu um guardinha do Itran orientando tráfego?)

E acabei de lembrar: Ô pessoal do Itran!! já existe semáforo a LED de alta intensidade, viu? Voce enxerga de longe e dura muito 

Nelson Jvlle.

3 comentários:

  1. É isso aí NELSON !!! concordo com você e já citei várias vezes em comentários : o Sonho Brasileiro é casa própria (minha casa minha dívida) e carro na garagem !! Esta é a demanda !! e o gestor público tem a obrigação de atender o desejo da população !
    Só pseudo-intelectuais com suas casas em bairro nobre e carros na garagem e que defendem a bike e o Bus ! vai fazer uma pesquisa no terminal , quem quer continuar de BUZÃO ????
    Maior absurdo as farsa-faixa !!! principalmente aquela da Otto Boehm !! Piada né !!! e de mau gosto !!

    O Câncer de nosso trânsito chama-se SEMÁFORO , não podemos passar numa Blumenau com 6 semáforos em 2 ou 3 Kms !!! temos que ter além de elevados as PASSARELAS para pedestres !!
    isso sim melhoraria o trânsito !!! PASSARELAS... e menos semáforos !

    um abraço

    du grego

    ResponderExcluir
  2. Grego,

    Achava durante muito tempo que o melhor investimento que poderíamos fazer e enviar nossos gestores públicos a viajar. Que pudessem conhecer outras realidades. Ver como outras cidades lidaram com os problemas que hoje enfrentam as cidades brasileiras.

    A grande vantagem de ser um pais jovem é que poderíamos aprender com os erros dos outros, poderíamos cometer nossos próprios erros e não precisaríamos repetir os mesmos.
    Hoje sei que é desperdiçar dinheiro. Vem mais não enxergam nada. Viajam e não aprendem nada. Uma pena.

    ResponderExcluir
  3. Me perdoem .. Nelson, Grego e Jordi.

    Já é muito tarde para tapar o sol com a peneira.

    Quem já viu aquelas projeções futuristas. Aquelas cidades enormes. Carrinhos flutuando, gramados extensos, supervias.

    Só não tem gente hahahahaha
    Os caras fazem uma cidade sem gente. Pô! aí é mole. não tem transito nem engarrafamento

    Muitos estudo e argumentos para tratar dos efeitos, mas não vi comentario sobre a causa - Gente pra cacete. Crescimento sem planejamento. No mais amplo sentido .... desde o controle de natalidade até o limite de adensamento urbano.
    Carro sozinho não engarrafa. O que engarrafa (e também mata, fica estressado ... ou é morto, ou fica improdutivo, ou inválido ... ) é gente.
    A praga do estresse urbano é gente.
    solução - ou eliminamos ou educamos.
    sem demagogia, sem falso moralismo .... não tem milagre.
    O problema é simples. a conscientização é que não é.
    acabe com o estacionamento paralelo à calçada e a grande maioria da "gente" não vai ter onde parar seus preciosos e inocentes carros.
    Se não tiver onde parar, ninguém vai pro centro de carro.
    No centro do rio de janeiro não existe vaga na rua. Numa area equivalente entre a estação de trem e a prefeitura - não tem vaga. cabou! ponto final. Quer parar, fica no edificio garagem e paga 80 reais pelo periodo de 8 horas.
    Não gostou? vai de metro, de onibus, de taxi a pé .... ou não vai.
    Ah ... dirão alguns. Mais é no Rio.
    Putz! Joinville tem mais carro por habitante do que Rio e São Paulo.
    Viaduto, sinal inteligente, ciclobosta, binario ....
    Tudo ilusão. Isso é tratar câncer com aspirina
    Pra quem gosta de futebol - bota 50 pessoas em cada time e me diz se isso ainda é futebol.
    Pode botar viaduto, juiz inteligente, quatro gols, dez bolas ....
    Não - ISSO NÃO SERÁ MAIS FUTEBOL.
    E da mesma forma ... isso que nós temos hoje em nossas ruas, não é mais mobilidade, não é mais transporte.
    Não me cobrem solução. Se a tivesse vendê-la-ia por milhões ao mundo todo.
    Talvés, como sugestão, começar a ensinar as crianças de 10 anos o conceito de transito. Quem sabe em uma ou duas gerações nós consigamos.

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...