28 de julho de 2008

Calçadas socialistas


Uma das melhores leituras dominicais que existem na imprensa do mundo é a entrevista curta e certeira, seca, sempre muito bem editada por Deborah Solomon na revista do New York Times.

A entrevista do dia 9 de junho de 2008, traz Enrique Peñalosa, o ex-prefeito que reinventou Bogotá. Claro que Joinville não é Bogota, mas que os nossos candidatos poderiam considerar alguns dos trechos desta entrevista.

Qual a primeira coisa que você diz para prefeitos fazerem? Nos países em desenvolvimento, a maioria das pessoas não têm carros. Então digo: quando você faz uma boa calçada, está construindo democracia. Calçadas são símbolos de igualdade.

Calçadas não me parecem prioridades nos países em desenvolvimento. São a última coisa que fazem. A prioridade é fazer estradas e avenidas. Fazemos cidades para carros, carros, carros, carros. Não para pessoas. Carros foram inventados muito recentemente. O século 20 fez um desvio horrível na evolução qualitativa do habitat humano. Construímos, hoje, pensando mais na mobilidade de carros do que na felicidade das crianças.

Mesmo em países nos quais a maioria não tem como comprar carros? As pessoas de maior renda nos países em desenvolvimento nunca andam. Elas vêem a cidade como um espaço ameaçador. Passam meses sem andar uma única quadra.

Isso também não é verdade para os EUA? Não em Manhattan, mas há muitos subúrbios em que não há calçadas, o que é sinal de falta de respeito para com a dignidade humana. As pessoas sequer questionam isso. É como a França pré-revolucionária. As pessoas achavam que a sociedade estava normal, assim como as pessoas acham normal, hoje, que o acesso à praia em Long Island seja particular.

Você está comparando pessoas com casa com vista para o mar em Long Island com aristocratas franceses corruptos? Se a democracia prevalecer, o bem comum deve vencer interesses privados. A pergunta é: a maioria das pessoas seria beneficiada com acesso à praia em Long Island? Todas as crianças deveriam ter acesso à praia sem precisar freqüentar um country club. […]

Onde você estudou? Duke University. Me formei em economia e história.

Você devia ser o único socialista em Duke. Acabei percebendo que o socialismo era um fracasso como sistema econômico. Mas a igualdade não morreu. O socialismo morreu. Mas o desejo de igualdade não está morto.

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