O Arquiteto Sérgio Gollnick, tem contribuído com vários posts para este blog, o de hoje é um texto forte, que pela sua pungente atualidade, merece ser lido com atenção.
Enfim vi confirmar o que já prognosticava há cerca de seis meses. O prefeito iria enfiar goela abaixo os corredores de ônibus sem uma discussão mais ampla, assumindo sua habitual atitude de confronto, neste caso à proposição feita pelo CDL que almejava ampliar a discussão sobre o assunto. Esta atitude é uma marca desta administração desde que, segundo a imprensa, nosso alcaide protagonizou a célebre frase: “quem reclamar vai pro final da fila”. Definitivamente, em minha opinião, esta é uma administração para esquecer. Só lembrarão dela aqueles que beberam de suas “bondosas tetas”. Teria muitas considerações em torno deste tema, mas vou limitar a afirmar que do ponto de vista técnico os dispositivos de canalização de tráfego para ônibus são medidas corretas e tendem a proporcionar, como esperado, um melhor desempenho do sistema de transporte no que diz respeito à redução do tempo de viagem, redução de custos operacionais e do stress do usuário, reduções estas que certamente não serão revertidas em redução do custo da tarifa, mas sim num breve aumento da margem dos operadores. É quase certo que os corredores, dentro da mesma linha de previsão, trarão um maior número de acidentes, resultantes de fatores geométricos, principalmente dos comprimentos de entrelaçamento que são curtos (nas entradas e saídas de vias), onde muitas linhas entram e saem do corredor, da perigosa proximidade do corredor com o trânsito de pedestre, fatores estes que vão contra a idéia da sua própria existência. Tenho absoluta convicção de que os corredores não irão reverter a queda do número de passageiros. Para que isto aconteça, precisamos muito mais do que corredores, precisamos primeiramente de um gestor competente para o sistema. O custo do transporte em Joinville é um dos pontos críticos da evasão de passageiros assim como o modelo adotado precisa urgentemente ser revisto. A adoção de dispositivos de canalização é correta, mas precisamos partir de um planejamento muito mais rigoroso, complexo e abrangente. Uma pesquisa de origem/destino poderia oferecer uma nova visão para soluções voltadas a mobilidade urbana. Mecanismos de discussão mais democráticos permitiriam à administração pública maior segurança nas decisões e daria à sociedade formas acompanhar e prognosticar os projetos e resultados propostos. Numa sociedade moderna não podemos esquecer da análise de impactos de mudanças propostas para com o conjunto sociedade visualizando questões sociais, econômicas e ambientais. Analisar impactos é parte indissociável do planejamento moderno. No entanto, hoje em Joinville isto não passa de uma mera pretensão da sociedade. Lendo as notícias sobre os corredores, li também uma notícia sobre a rápida mobilização do operador do estacionamento rotativo querendo compensações pelas vagas perdidas na implantação dos corredores que, ao que tudo indica, deverá ser prontamente atendido. Já diz o ditado: “para os amigos do rei tudo, já para os inimigos...” O lamentável é que uma medida cujo objetivo poderia reverter em melhorias significativas ao sistema de transporte público e à mobilidade urbana pode vir a ser comprometida pela falta diálogo e de bom senso. Mais grave é que a falta de transparência pode, inclusive, repercutir negativamente em propostas futuras. Uma ação deste tipo, na reta de largada de uma eleição municipal, suscita muitos questionamentos e dúvidas intrigantes. Como não alimento esperança de que esta administração venha a debater com a sociedade, resta aos cidadãos, comerciantes e funcionários do comércio joinvillense esperar uma nova administração municipal ser instalada. Mas tomem cuidados, tem candidato que pretende herdar o modus operandi da atual administração, daí “a vaca não vai sair do brejo”.
Sérgio Gollnick
Arquiteto e urbanista
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