17 de dezembro de 2008

30 Pavimentos


O arquiteto Marcel Virmond escreveu um texto, publicado no Jornal A Noticia do dia 17 de Dezembro, que reproduzimos em azul, como sempre, e que merece os nossos comentarios.

Gabarito

Há rumores de que três grandes construtoras de renome nacional estariam interessadas em atuar em Joinville. Mas, para tanto, gostariam que o gabarito de altura dos edifícios na cidade subisse para trinta pavimentos. Isso reacende uma velha discussão sobre o que é melhor: ter ou não ter edifícios altos.

Há alguns mitos que devem ser esclarecidos. Da mesma maneira que antigamente se dizia que era impossível erguer edifícios em Joinville por causa do subsolo – cidade construída sobre o mangue –, hoje se defende os edifícios mais altos para aumentar a densidade populacional e aproveitar melhor as regiões da cidade com grande oferta de serviços públicos.

O argumento é apoiado em uma lógica que não leva em conta as dinâmicas social e econômica de uma cidade, pois, analisando os mapas de densidade populacional de Joinville, vemos que as áreas mais densamente povoadas são os bairros do Aventureiro, Itaum, Floresta e Guanabara, onde a presença de edifícios com mais de quatro pavimentos é mínima. Atiradores, América e mesmo o Centro vêm atrás, apesar de aí serem permitidos, conforme o zoneamento, construir de oito a 21 pavimentos.

O mesmo resultado obtemos quando analisamos a densidade de cidades como Blumenau e Jaraguá do Sul, que têm histórias de ocupação semelhantes a de Joinville. Isso ocorre porque a possibilidade de construção em altura leva a dois fatores de redução da densidade. O primeiro é que quanto mais alto o edifício, maior o poder aquisitivo do seu público alvo, e maior a área de cada unidade habitacional.

O segundo é o encarecimento dos terrenos devido ao aumento do gabarito, o que torna a escolha dos empreendedores seletiva. Assim, de cada quarteirão com potencial construtivo, poucos terrenos são ocupados e os demais ou aguardam a valorização ou deixam de ser interessantes por terem prédios como vizinhos.

Mas os edifícios de trinta andares também não devem ser demonizados. São grandes empreendimentos geradores de emprego e renda e têm seu lugar na dinâmica urbana. O que deve ser discutido é em que lugares e em que condições poderão ser implantados e como compensar seu impacto na paisagem urbana.

marcel@jass.com.br


Parabéns pela coragem do Arquiteto Marcel Virmond Vieira,que escancará, sem meias palavras, a forma como é pensada e planejada a nossa cidade. ... três grandes construtoras de renome nacional estariam interessadas em atuar em Joinville. Mas, para tanto, gostariam que o gabarito de altura dos edifícios na cidade subisse para trinta pavimentos... Mesmo no surpreendendo, assusta a forma como são colocados em discussão temas tão importantes, como o modelo de desenvolvimento urbano. A primeira pergunta que deve ser colocada é se esta discussão se inicia porque Joinville tem um problema de falta de espaço urbano ou de um excesso de ganância?


Destacar, com que precisão coloca, como edifícios deste gabarito impactam a vida de uma cidade como a nossa, não só no aspecto econômico, como principalmente sobre a qualidade de vida, daqueles que terão a "fortuna" de recebê-los perto. A insolação, o aumento da geração de tráfego, e perda da privacidade e influencia destas moles de concreto, sobre os ventos dominantes, são aspectos a considerar, numa cidade, como Joinville , que dispõe ainda de grandes vazios urbanos para ocupar e que com edifícios de no máximo quatro pavimentos, ainda poderia manter uma população de mais de 2.000.000 de habitantes, sem aumentar o perímetro urbano.


Colocar o tema em debate significaria ainda, desconsiderar, que com as recentes aventuras urbanísticas, como a implantação da UFSC, na área rural, esta previsto um aumento considerável do perímetro urbano, para muito alem do que o bom senso recomendaria. Desnecessário dizer que se queremos uma cidade eficiente, precisamos deixar de nos expandir, para atender a interesses econômicos pontuais. O nosso perímetro urbano hoje é quase do tamanho do da cidade de São Paulo e ainda continua crescendo.


Devemos sim demonizar este tipo de propostas, e deixar claro que 30 andares, mesmo que tecnicamente viáveis, são uma proposta que não deveria prosperar em Joinville. Que colocar este tema em discussão é prestar um desserviço a esta cidade. Que o modelo de desenvolvimento urbano que deve ser debatido é aquele que priorize as características históricas e culturais desta cidade, a qualidade de vida e principalmente as pessoas que nela moram.


2 comentários:

  1. ARQUITETURA E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

    Construir altos edifícios aumenta inequivocamente o fluxo de veículos em um sistema viário que foi planejado para o uso das carroças e dos troles. Tanto a arquitetura quanto a engenharia devem reconhecer que passou o tempo do profissional colocar a assinatura arrogante no visual do seu projeto, sem levar em consideração a sustentabilidade e a adptabilidade das construções para as mudanças climáticas.

    Nas áreas de catástrofe - principalmente - nasce uma nova arquitetura que ainda não tem nas faculdades, a grade do bom senso, da humildade e respeito ao cidadão!

    Vamos baixar a arrogancia. Vamos praticar mais a humildade por que morreu gente demais e continuará morrendo, diante do que foi planejado, edificado e implantado de forma tão irresponsável.

    A engenharia e a arquitetura caipira de Joinville e a dos flagelados ambientais - terra natal do Marcel, , está cada vez mais preocupada em tentar encontrar formas de impedir a entrada das águas nas salas de estar, nas cozinhas nos banheiros, nos dormitórios, cujos níveis estão estão se elevando, tenhamos a coragem ou não de reconhecer e menos preocupada em construir edifícios com 25 andares.

    Como construir barreiras para as águas empurradas pelos veículos impedindo que adentrem - em grandes marolas - nas casas, lojas, indústrias e áreas de laser.

    A engenharia e a arquitetura devem reconhecer que o modelo irresponsável de urbanização de fundos de vales, matas ciliares, encostas íngremes, foi um cruel e terrível equívoco.

    O sistema CREA-CONFEA - certamente - descendo o pedestal dourado, doravante deverá realizar seminários, congressos, debates com o pé-no-chão, para resgatar a dignidade e o amargor dos que foram vítimas dum sistema de urbanização mercenário, corrupto e canibal.

    Ao se levantar do tapete toda essa sujeira sutilmente escondida nas prateleiras de papel vegetal, está sendo mostrada escancaradamente os erros e os vícios do planejamento irresponsável e moleque.
    Os prejuízos - certamente - que deverão ser pelos meios judiciarios, pagos equitativamente entre todos os que contribuiram para tantos prejuízos, evitando que se continue dançando o mesmo samba, em respeito aos que desesperançados tinham o pressentimento que iriam morrer e perder tudo.

    Agora entra em jogo uma nova engenharia, a das perícias. Os engenheiros peritos irão buscar as provas e as evidencias duma engenharia e arquitetura levianas e desta forma coloca-las no colo dos magistrados, para que possam imputar as respectivas responsabilidades e o pagamento de danos, aos que causaram tanta desgraça.

    No caso do poder publico, não poderá ser penalizado o contribuinte, mas os que ocuparam os cargos de forma tão desastrada e mensaleira.

    Joinville, 18 de Dezembro de 2008

    Gert Roland Fischer
    Eng Agr. ambientalista e auditor ambiental lider
    Membro do forum climático mundial da ONU

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  2. Caro Jordi, concordo contigo quanto a excelência da abordagem do arquiteto Marcel Virmond.

    Ainda que seja necessário estar atento ao fato de que Joinville em algum momento terá de pensar nas soluções desta natureza, outro aspecto a se considerar, ao meu ver, é quanto à segurança e aos recursos que o município dispõe e que no caso da expansão vertical precisam estar na ordem do dia.

    Me refiro aos equipamentos de combate a sinistros nestas edificações. Seria importante que essas 'grandes construtoras de renome nacional' estivessem não apenas preocupadas com os meandros da legislação, com as mudanças de gabaritos, mas em oferecer apoio à nossa querida corporação de bombeiros voluntários, auxiliando na viabilização, por exemplo, de equipamentos para alcançar esses edifícios. Por sinal, as seguradoras, que tiram benefício direto da excelência dos bombeiros, também deveriam estar mais voltadas a esse mesmo olhar.

    Hoje, em que pese a nossa mais de centária instituição estar bem equipada para a realidade atual, é imprescindível levar em conta o imponderável de uma emergência nos níveis do que assistimos na TV.

    Um abraço, ótimo Natal e 2009 ainda melhor...

    Ronaldo Corrêa

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