20 de janeiro de 2010

ESPIRITO DE PORCO


ESPIRITO DE PORCO


Espírito de porco. Pessoa que interfere em qualquer negócio

“ou assunto, criando embaraços ou agravando os já existentes”

(do dicionário ”Aurélio”)

Minha obrigação profissional é o estudo continuo de urbanismo. Um dos exemplos práticos se manifesta através de constantes declarações e posicionamentos a respeito destas questões em Joinville. Neste texto não faço defesa de uma ou outra corrente urbanística, suas formas de atuar ou seus resultados, somente gostaria de esclarecer que urbanismo não se faz apenas com os técnicos urbanistas, e sim com todos os cidadãos, cujos componentes físicos, sócio culturais, econômicos e político-institucionais, que devem ser utilizados de forma planificada para melhorar a qualidade de vida dos moradores da cidade de hoje e garanta o sustento de um futuro. Portanto urbanismo é uma ferramenta das ciências humanas e exatas que pretende atender as necessidades dos cidadãos.


Estou convicto de que meus pensamentos sobre o assunto nunca encontraram unanimidade, pois não consigo viver todos os espaços e situações urbanas, tanto que me obrigo à presença do contraditório de muitos para que me completem ou ajudem a entender essa cidade. Tal procedimento acredito, poderá contribuir mesmo que de forma mínima na construção de uma cidade melhor.


Tenho conversado com um grande numero de pessoas que mesmo tendo visões diversas sobre a cidade tem apoiado meu comportamento, bem como a de outros que se manifestam a respeito de nosso território de vivência.


Morar 50 anos nesta cidade me faz reconhecer que aceitei as transformações, parte pelo deslumbre do desenvolvimento ou anestesiado pela falta de informações de seus resultados. Hoje estou trabalhando para uma cidade possível para todos os nossos netos, pois os passivos urbanos acumulados nas ultimas décadas não serão resolvidos para que eu possa desfrutá-los em vida em face de falta de priorização no planejamento de longo prazo que nos apresente o cenário de um espaço de vida de qualidade ou sustentável. Como falar de pensar a cidade para daqui a 30 anos se os mandatos executivos municipais tem prazo de validade de 4 a 8 anos.


Para complicar mais ainda nossa situação o executivo municipal se vê diante de aprovar ou vetar o projeto de lei que altera as leis de uso e ocupação do solo, feito de forma a atender os mais diversos interesses, desprovida de embasamento técnico mais profundo ou de uma discussão democrática com os afetado. Jordi Borja no Manual de Gestão Municipal Democrática afirma que “o sistema eleitoral não garante nem representatividade social imediata, nem a competência funcional dos eleitos, além de estabelecer enorme distância entre estes e os eleitores”. Tal afirmação se confirma através das negociações que estão ocorrendo nos gabinetes onde à nova lei, a cidade ou o pensamento de seus habitantes não importa. O importante é achar uma forma em que o chefe do executivo não desagrade o legislativo ou que aos camaristas sejam garantidos seus interesses.


A cidade deveria estar recebendo do executivo e legislativo as novas leis complementares que regulamentam o Plano Diretor onde estão estabelecidas as diretrizes estratégicas do desenvolvimento sustentável, da gestão do planejamento, dos instrumentos de política urbana, dos planos e instrumentos urbanísticos, dos planos de saneamento e integração regional ou do sistema de informações municipais. Por dois anos gastamos recursos de toda ordem no exercício dito hoje de equívocos, gastam agora na tentativa encontrar uma solução negociada enquanto nosso Plano Diretor estava “dormindo em berço esplendido” em alguma prateleira.


Porém tal pensamento é encarado como heresia aos dogmas estabelecidos pelos eleitos de plantão ou seus indicados. Somos tachados de chatos, arrogantes, espíritos de porco e outras siglas. Como escreveu Francisco Daudt, autor do livro “O Aprendiz de Liberdade” descobri estar rodeado de ilustre companhia: “cidadãos trabalhadores; honestos; pagadores de impostos; respeitadores da lei, construtores da prosperidade” do município; “cultivadores de coisas tais como honra, probidade e decência; empreendedores; democratas; defensores do direito das minorias” e “pais que querem seus filhos bem educados, sem catequeses ideológicas”, ou não tenham certas vantagens como carros e motoristas financiados com nosso dinheiro ao contrario dos que necessitam da gratuidade.


Por isso e muito mais me alegra imensamente ser chamado de espírito de porco.


Arno Kumlehn

Arquiteto e Urbanista

Um comentário:

  1. Caro Arno

    Parabéns pelo artigo.......
    me solidarizo e me classifico também como: "Espírito de Porco", mas o do sentido do dito popular!
    Não com o espirito dos porcos da Revolução dos Bichos , de Orwell...
    Ah.......esses são outros.....são os suinos sem Espírito (mas com objetividades: caixinha,
    "rachide", vaidade, hipocrisia e benesses!)
    Haja lama neste embróglio para chafurdar-mos.......
    como diria o Chico do Ernesto: a coisa ta feia.......

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