O Aquário
Entre os muitos hobies que as pessoas gostam de cultivar, alguns tem maior aceitação e se formam verdadeiras comunidades, que transcendem fronteiras e classes sociais, aficionados ao cultivo de orquídeas, a criação de canários ou a filatelia formam sociedades que se comunicam e intercambiam informações e fazem inclusive negócios e trocas em todo o mundo. Verdadeiras redes sociais se formam a partir de afeiçoes comuns e dos interesses compartilhados.
No Brasil e também em Joinville, desde faz alguns anos, nesta época do ano se desenvolve uma especial afeição pelos aquários, não especificamente aqueles para peixes de água doce ou de água salgada, e sim a aquariofilia de pessoas. As residências são tomadas por aquários de diversos tamanhos e tecnologias, porem em que dominam os de 32 polegadas e tela plana. Alguns porem são bem maiores e mais sofisticados.
Colocar uma dúzia e meia de desocupados, sem outra atividade que não fazer nada durante todo o tempo em que permaneçam na gaiola de vidro, e estimular a milhões de brasileiros a acompanhar a monotonia deste quotidiano irreal, feito de brincadeiras infantiloides, com o objetivo de manter ocupados, os desocupados. É a nossa nova versão do aquário, em que dia após dia acompanhamos a vida dos peixes que o ocupam, os alimentamos virtualmente, lhes damos nomes e apelidos, estabelecemos uma relação com eles.
A televisão se converte umas horas por dia num gigantesco aquário, em que milhões de pessoas seguem abobadas, como zumbis, o movimentar preguiçoso dos peixes coloridos. Olhamos suas lentas evoluções, ficamos hipnotizados, frente a sua vida pequena e inútil. Escutamos suas confissões, acompanhamos suas estratégias, para eliminar os seus possíveis competidores. Gostamos mais de uns, construímos e expressamos as nossas preferências, tomamos partido em favor de uns e em contra de outros. Pagamos por votar em uns para ficar ou para que saiam outros. Construímos uma relação oca, superficial, unidirecional, com peixes de aquário, que se comunicam por bolhas de ar.
Numa relação, em todo assemelhada, a que manteríamos com o aquário, com os seus limpa vidros, gupies, pequenos bagres, néons ou peixes anjo. Ficamos embasbacados, ouvindo e vendo bobagens, com o olhar fixo no vidro do aquário. Fica cada vez mais dificl identificar de que lado do vidro estão os peixes.
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