27 de dezembro de 2009

Em quanto os moradores da zona norte...


...sentem os problemas provocados pelos forte cheiro dos resíduos orgânicos despejados no aterro industrial de Joinville e frente ao mutismo das autoridades.

Recebemos e reproduzimos o texto do Eng Agro. Gert Fischer, que traz importantes informações sobre as causas do problema e sobre as possíveis responsabilidades.

RESÍDUOS DE RESCALDO DE INCÊNDIO

Eng. Agr. Gert Roland Fischer


Quando ocorreu o incêndio nas câmaras frigoríficas em Navegantes,SC, alem da alta temperatura, o rescaldo dado pelos bombeiros causou inúmeros danos ambientais e inevitáveis estragos aos alimentos congelados prontos para a exportação. Tratava-se de impressionante cifra: 14.000 toneladas de frangos congelados a menos 30° Centigrados. A parte superior das pilhas derreteu com o calor do fogo e foram dissolvidas pelos jatos de água do rescaldo.

A operação “apaga-fogo” criou gigantescos problemas ambientais e sanitários: alimentos foram contaminados por agentes orgânicos e químicos, água de rescaldo atingiu o Rio Itajaí, as fumaças tóxicas alcançaram grandes distancias, o estresse social chegou aos picos, entre outros problemas correlatos.

Feito o rescaldo, notou-se que a parte inferior das pilhas não havia descongelado. Essa parte certamente imprestável para o consumo, poderia ser - dependendo das análises da vigilância sanitária animal, transformada em ração ou componente para ração animal.

Para a parte atingida diretamente pelo fogo e jatos de água emulsionados com produtos químicos recomendados para o acidente, o destino não poderia ser outro que uma central licenciada para tratamento de resíduos industriais.

Em Santa Catarina as opções de encaminhamento, considerando-se Navegantes o foco gerador, limitou-se às centrais de Blumenau e Distrito Industrial de Joinville. Tratando-se de um resíduo orgânico que não é considerado industrial, em acelerado processo de putrefação, com atração de moscas e emanações fortes de odores desagradáveis e de risco sanitário, o encaminhamento se transformou num grande desafio com possibilidades de se transformar em caos atingindo as comunidades diretamente impactadas.

As centrais disponíveis estão preparadas para recebimento de lodos galvânicos, resíduos de fundições, resíduos do setor metal mecânico, resíduos de tinturarias, quebras químicas, entre outros. Para esses resíduos que podem ser das classes I e II, a aplicação de técnicas rotineiras não geram problemas de carregamento, transporte, recepção, encaminhamento e tratamento final. São aplicados procedimentos técnicos que não deixam duvidas e as praticas são totalmente conhecidas com resultados otimizados sem seqüelas ambientais e de vizinhanças.

No caso de alimentos contaminados de rescaldo de incêndio e em adiantado estado de putrefação, as centrais de tratamento citadas, não estavam preparadas para recebê-los. A opção foi encaminhar os resíduos putrefatos para Joinville.

Os problemas criados com esse descarte mal-cheiroso foram muitos. Em Navegantes o cheiro se transformou num caos. Moscas, urubus, o odor putrefato e nauseabundo criou problemas sociais de monta. As negociações de destino desse material em liquefação e derretimento pela ação de bactérias foram problemáticas. As decisões tomadas o foram de desespero, certamente.

Negócios paralisados, quedas-de-braço com as agencias de seguros, relacionamento com diversas corporações de bombeiros, contaminação dos recursos hídricos, vizinhanças impactadas, entre outros fizeram parte do rol de problemas a enfrentar, principalmente por ser uma situação totalmente nova e inusitada para a qual não se tinha a devida experiência.

Imagine-se o carregamento dos resíduos em putrefação em caçambas abertas. Imagine-se caçambas sem o devido preparo para resíduos em liquefação com odores tão marcantes. Imagine-se o transporte desses resíduos, liberando chorume putrefato nas vias por onde circularam. Imagine-se passageiro de um veiculo na estrada atrás do comboio de cargas liberando chorume no asfalto. Imagine-se a recepção dessas cargas na central de tratamento. Imagine-se a total falta de experiência no recebimento e armazenamento dessa podridão tão mal cheirosa. Imagine impermeabilizar esses depósitos que poderão contaminar tanto o lençol freático, quanto a superfície livre dos tanques depósitos, todos emanando odores putrefatos. Imagine-se a total falta de técnicas para conter os impactos ambientais e de vizinhanças pelo cheiro. Pior, o caos gerado foi causado por milhares de toneladas.

Daí as reclamações sociais vindas de regiões atingidas pelas camadas de atmosfera contaminada por fortes odores se deslocando de acordo com a direção dos ventos alcançando em alguns casos até 3 km. De distancia. O desespero de moradores, famílias, casas comerciais, restaurantes, escolas, hospitais, templos religiosos, etc. foram atingidos sem que se pudesse dar uma solução imediata. O desconforto durou por semanas a fio.

O exemplo deve ter gerado muita informação. Foram registrados erros, desacertos e soluções. O banco de dados servirá em situações semelhantes no futuro. Autoridades, empreendedores, agencias de seguro, vizinhanças atingidas, todos, geraram informações. Um manual de gestão deverá ser elaborado pelo Estado de SC, o qual servirá de roteiro para situações semelhantes e futuras. Será lamentável a perda desse acervo de informações.

Inúmeras ações judiciais devem ter sido ajuizadas para ressarcimento de danos, lucros cessantes, ressarcimento de multas contratuais entre outros. O tamanho do prejuízo ainda levará tempo para ser totalmente contabilizado.

(*) profissional da área de resíduos.



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