8 de dezembro de 2009

Detalhes


Detalhes

É engraçado como as coisas mais simples ganham às vezes uma importância desproporcional a sua simplicidade. Um beiral, por exemplo, um detalhe singelo de uma construção que pode fazer toda a diferença.

Em alguns casos, esquecemos das coisas que sabemos, o que sabemos determina a nossa historia e os nossos referenciais, a nossa cultura define o que somos e o que seremos. Em outros casos desaprendemos o que gerações levaram anos para aprender, a perda do conhecimento acumulado, nos deixa mais pobres cultural e intelectualmente.

O que tudo isto tem a ver com os beirais? Nada ou tudo, dependendo de com que atenção olhemos as coisas. Que Joinville é uma cidade chuvosa, não é novidade, que os beirais cumprem uma função arquitetônica que os avos e bis avos conheciam e dominavam muito bem, tampouco é novidade.

Quando as construções apresentam em poucos meses um aspecto de abandonado, sujo e lambido, tem quem ainda se pergunta por que não ter colocado um beiral, uma pingadeira, um simples detalhe que protegeria a construção das inclemências do tempo. Ao não prestar atenção às coisas mais simples acabamos desaprendendo o que levou décadas para aprender.

Destinamos a manutenção desnecessária recursos, que fazem falta para investimentos que a nossa sociedade tanto precisa. O resultado de obras mal projetadas, pior executadas e sem atenção para os detalhes é um custo maior para todos.

Os beirais representam uma parte da nossa cultura, da nossa identidade e aos poucos vamos perdendo os nossos referenciais, pintando e repintando fachadas e muros. Desperdiçando recursos, que por limitados mereceriam uma administração mais cuidadosa. E nem estamos falando da cidade, hoje o texto faz referencia a cada um de nós.

Publicado no Jornal A Noticia

3 comentários:

  1. Muito bem colocado. Então fico a me perguntar: Isto é porque somos produto do meio ou, porque o meio é o resultado do nosso produto? Quanto mais nos desprendemos da história, das nossas referências e identidades, menos compromisso teremos com o meio onde vivemos. Assim, o individualismo, o estrelismo se colocam mais relevantes do que o simples e o coletivo. Quase sempre o simples resume em mais beleza e é mais significativo, tanto quanto o coletivo. Podemos até divagar sobre outros temas como bom gosto e mau gosto, etc., mas aí o assunto vai longe..... O detalhe é que estamos cada vez mais sem referenciais.

    Abçs

    Sérgio

    ResponderExcluir
  2. Detalhes...e o rei Roberto Carlos, que sempre deu tanta importância...

    São as casas "cubos brancos", extrangeirismos que importamos de clássicos da arquitetura feitos em terras de pouca chuva. Mas aqui, para nossa realidade, as casas começam a parecer showrroons comerciais. "Eu quero uma casa estilo uma loja".

    E o pior é que fazer uma casa sem beiral parece simples, mas é muito mais difícil de se chegar a um resultado satisfatório. Exige muito mais empenho para se obter um volume interessante que não fique simplório.

    Afinal, do sublime ao ridículo é apenas um passo.

    Belo texto!

    Abraços!!

    ResponderExcluir
  3. Sou fã dos beirais! Brigo muitas vezes por eles! Lembrei muito de Bali! com detalhes maravilhosos nos beirais de qqr construção desde a mais singela.
    Abraços

    Daia

    Adorei o seu artigo de segunda! Como sao ditas as coisas......!

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...