10 de fevereiro de 2009

Onibus e Picanha (2)

Um dos leitores deste blog, que optou por não se identificar, postou o seguinte comentario, em azul:

O problema Jordi é mais complexo ainda quando o passageiro que vai para os "Jardins" (Edilene, Sofia, etc) paga mais barato e com isto a cidade incentiva ou induz a ocupação de áreas marginais e impróprias deixando vasta porção de terra em áreas mais centrais e melhor infra-estruturadas para especulação.

O problema é que a infra-estrutura fomos nós que pagamos assim como pagaremos o custo de uma cidade cuja amplitude a coloca inviável para a prática da justiça social. No passado eu achava que este discurso era de esquerda, que a questão de ocupar os vazios urbanos tinha um viés de descaracterizar o direito a propriedade e hoje, vendo que os antigos discursos foram rasgados, vejo que de fato só existe uma solução que será o estado intervir no modelo de exploração do solo urbano. Regras rígidas e justiça social mediante a aplicação de instrumentos jurídicos e tributários que invertam esta lógica brutal de exclusão social do qual o transporte público é um dos maiores propagadores.

Tô pra vê prefeito com coragem para fazer um intervenção desta! Intervir não significa estatizar, significa equalizar direitos e deveres, redefinir o fluxo de investimentos, fazer a cidade produzir mais valias com a eliminação dos bolsões de miséria e desprovidos de infra-estrutura. Mudar a regra dos transportes neste modelo de exploração que apenas dá aos operadores as vantagens, que protagoniza o serventilismo dos gestores pela pressão econômica, que faz do usuário uma simples carga sem qualquer consideração de humanismo e dignidade.

Tô afiado hoje. Precisamos de uma revolução, no caráter, na moral, no respeito ao próximo e menos favorecido, na obediência as leis, na concessão de dignidade aos menos favorecidos..... Ufa!!!! è bom desabafar de vez em quando....


Tive o cuidado de transcrever a integra, mantendo a abordagem coloquial, preservando toda a clareza do raciocino e da proposta. Se por um lado reconheço que o tema é muito mais complexo que o que pode ser abordado em poucas linhas, pelo outro, não vejo a menor discrepância entre o texto do blog e o comentário do leitor.

Sem mudar os parâmetros e sem propor mudanças estruturais da cidade e conseqüentemente do transporte coletivo, continuaremos discutindo só o INPC ou as supostas planilhas do transporte coletivo. Planilhas estas que formam parte do mitológico e do imaginário desta cidade.
Porque se existissem, devem ter sobrevivido a mais de 30 anos de concessão, a mudanças no sistema, a implantação da passagem unica, da bilhetagem eletrônica, a planos econômicos e a uma dezena de administradores municipais e outras tantas eleições. E mesmo depois de tanta planilha o índice utilizado para o reajuste continua sendo o INPC. Será que as planilhas não estão se mostrando totalmente supérfluas e desnecessárias?

O jornalista Jefferson Saavedra do Jornal A Noticia, escreveu esta nota, com a mesma linha de raciocínio deste blog, a nota em azul:

Tem algo curioso no aumento dos ônibus. As empresas pediram 12,2% e a Prefeitura estuda se concede – ou não – reajuste baseado no INPC (leia mais na página 7). Daria quase 10%, mas pode significar cinco centavos a menos. Até aí, tudo bem.

Mas é se é para conceder aumento baseado na inflação, recomenda-se o fim das planilhas. Não que esteja se defendendo aumento correspondente à inflação (ou para mais ou para menos), mas se INPC virar indicador, a planilha perde o sentido.

4 comentários:

  1. Jordi, quando falei que o tema é mais complexo, não fiz, nem pretendi nenhum desmerecimento ao seu texto. Ao contrário. O que ocorre é que o transporte público em Joinville vem se resumindo agora a uma discussão de custo de tarifa, como vc mesmo mencionou, e perdemos o bonde do tema central. Não se discute qualidade de serviços, finalidade do transporte público como um instrumento de mobilidade, de indução ou retação da ocupação urbana pra correção de desvios e equívocos. O transporte assim como a aprovação de loteamentos populares, por exemplo, supre um segmento de empresários que se beneficiam da cidade sem nenhuma reciprocidade. Esta reciprocidade também poderia vir de outros setores do segmento imobiliário pela aplicação de um isntrumento dispónóvel pela legislação que é a Outorga Onerosa, instrumento que o IPPUJ solenemente ignorou no Plano Diretor. Os subsídios cruzados da tarifa também deveriam ser avaliados de forma mais profunda e a sociedade deveria avaliar o que deveríamos ou não subsidiar, na mesma linha de raciocínio da outorga do solo urbano. O transporte é portanto muito mais que tarifa, ela em sí é o resultado de um complexo planejamento e monitoramento onde centenas de itens e condicionantes devem ser avaliadas constantemente. Nós nos acostumamos a ver os empresários do sistema pedindo aumento e aí o tema vem a mente. O poder público deveria zelar pelo ususário, monitorar dioturnamente o sistema e saber seu custo. Assim, poderiam ter como resultantes medidas compensatórias que somente podem ser apropriadas com um avaliação sistemática do custo de operaçao. Conheço algumas cidades que há mais de 5 anos não aumentam a tarifa por causa das sazonalidades, ou seja, períodos de alta rentabilidade suprem as de baixa rentabilidade e isto ´so se consegue com GESTÃO COMPETENTE. As condicionantes também ocorrem aqui mas não ninguém monitora e, portanto, perde-se esta referência e o custo é levado por dados médios genéricos e muitas vezes duvidosos. Não só o transporte sofre deste mal de falta de gestão dos serviços. O sistema de água e esgoto tem o mesmo problema: Quem conhece a avaliação dos seus custos? Nem mesmo a concessionária, eu garanto!. O suso do solo urbano idem, caso contrário não teríamos ocupações em áreas impróprias ou de risco. Justiça social é uma palavra que nos aparenta meio de esquerda, mas não é! É o único meio de ver este país singrar mares mais tranquilos que reflitam em dignidade e cidadania para todos. Enquanto isto, empresários que choram as pitangas defilam com carros importados do último tipo e prefeitos ampliam seus patrimônios de forma quase mágica, certamente retirados do erário, dos favores ou da completa incompetência da gestão de serviços públicos. Ganhar dinheiro não é pecado, no segmento da exploração de serviços públicos, mas há um ponto que separa este ganho e ele está na linha da conduta da moralidade, probidade, responsabilidade e respeito ao cidadão. Se a gestão do que é público fosse feita dentro desta ótica veríamos este país ser um gigante, não para quem vê de fora, mas para quem nele vive. Nós é que somos os principais responsáveis para que estas mudanças de conduta ocorram.

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  2. Como por força do destino tenho passado muito tempo em Porto, PT, utilizo o transporte coletivo diariamnete (onibus- aqui chamado de autocarro e metro). Carrego no começo de cada mes um cartão magnético que me permite utilizar qualquer dos dois transportes, QUANTAS VEZES EU PRECISAR E QUISER, dentro do mes. Como estudante (doutorado) pago 26 euros para o mes inteiro, para me locomover dentro da cidade do Porto (320 mil habitantes). Mas este cartão me dá o direito, se eu pagar, de andar pela grande Porto..Maia, gaia, Matozinhos, etc...que tem preços variados conforme aumenta a distância, o que diga-se de passagem é justo. Aqui utilizaram um sistema de zoneamento. Vem de encontro ao que disse o anõnimo "quem anda mais, paga mais"! Outra coisa interessante é que o Conselho (prefeitura) está incentivando o retorno das pessoas aos apartamentos do centro antigo, reformando e alugando-os a preços melhores.O ganho de infraestrutura e custo cidade é óbvio...Aplicar o Estatuto da Cidade (Lei 10257), quanto às áreas sem uso - espaços urbanos vazios, através do IPTU progressivo, também ajudaria em muito a ocupação destas. Como O nosso Prefeito (imagino), votou a favor desta lei, (2001) pois ele era deputado federal, entendo que pode ter força e coragem para utilizá-la.

    Anselmo

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  3. Em tempo.

    Aqui a integração se faz no próprio meio de transporte, através do cartão magnético. A cada entrada você valida a passagem passando o cartão no sensor. Entendo o nosso sistema com terminais, mas entendo também que estes já estão ultrapassados, com o foram o telex e o fax.....Quem sabe possa se dar outro objetivo aos terminais, e o custo da manutenção, poderia ser descontado no bilhete. Outro ponto: catraca e aquele monte de ferro atrapalhando o interior e encalhando os gordinhos, passa a ser um absurdo...aqui também deve ter quem burla o sistema, mas existe fiscalização estatística e quem for pego sem a passagem validada ou sem cartão "morre" com oitenta euros........
    Anselmo

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  4. Em nenhum momento senti que você estivesse criticando o texto, sou ciente das limitações de colocar toda a complexidade de um tema como transporte coletivo em debate.
    O papel deste espaço é o de promover o debate e a troca de idéias e os seus comentários muito tem contribuído para isto.
    A linha de discussão que defendemos é a mesma que a sua, buscando pensar de uma forma mais abrangente, fugindo da discussão simplista, de INPC, de aumento de tarifa e sim propondo um debate mais amplo e aberto.
    Obrigado

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