27 de fevereiro de 2009

In –Segurança


Cada vez que se quebra o frágil equilíbrio entre segurança e insegurança, aparecem textos, artigos e opiniões para comentar, com maior ou menor atino, os problemas recorrentes da nossa segurança.
Eu prefiro falar de in-segurança, porque faz muito tempo que não tenho me sentido seguro, ao entrar, ao sair, ao cruzar com alguém na calçada, nem ao entrar em casa estou mais seguro.

O fácil seria culpar a policia. É verdade que a migração de uma boa parte dos policiais militares, para outras funções, como os serviços administrativos, o transito, o policiamento ambiental, o serviço de guarda vidas nas praias, o serviço de paramédicos e inclusive o combate ao fogo, que com tanta competência e seriedade é desempenhado por corporações civis, com sucesso. Tem reduzido o numero de policiais para policiamento ostensivo e para os serviços de prevenção.

Tampouco nos fazemos a nossa parte, poucos de nos conhecemos os nossos vizinhos e frente a uma situação suspeita, na maioria das vezes damos graças a Deus que não é conosco e fechamos a janela. Evitamos chamar a policia e nos envolver. Nos bairros em que os vizinhos se conhecem, em que os muros são mais baixos e as portas e janelas ainda permanecem mais tempo abertas que fechadas, o risco de roubos e assaltos é menor, porque as pessoas se conhecem. Pagamos e pagaremos um preço ainda maior, pela nossa omissão e silencio.

Gostaria de deixar no ar um questionamento, quando com 8 ou 9 anos, comecei a brincar na rua, a sair para ir na padaria, a ir a pé para escola, o primeiro conselho da minha mãe, foi: Se você se perder ou alguma coisa lhe acontecer, procure um policial e diga o seu nome, não se preocupe, ele cuidara de você e fique com ele até que nós cheguemos. Alguém de vocês deu um conselho como este ao seus filhos? Porque será, que não confiamos na nossa policia?

Um comentário:

  1. Trabsxrevo aqui o artigo do Luciano Hulk depois de ter sido assaltado com uma arma apontada para sua cabeça. Por ser celebridade, ele foi até ridicularizado, como se celebridade não tivesse direito a segurança e á integridade da vida. vale a pena ler, pode ser que um dia também queiramos escrever, e se isto acontecer, já foi tarde.

    "Não veria meu segundo filho. Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio. Por quê? Por causa de um relógio.
    Como brasileiro, tenho até pena dos dois pobres coitados montados naquela moto com um par de capacetes velhos e um 38 bem carregado. Provavelmente não tiveram infância e educação, muito menos oportunidades. O que não justifica ficar tentando matar as pessoas em plena luz do dia. O lugar deles é na cadeia. Agora, como cidadão paulistano, fico revoltado. Juro que pago todos os meus impostos, uma fortuna. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa. Adoro São Paulo. É a minha cidade. Nasci aqui. As minhas raízes estão aqui. Defendo esta cidade. Mas a situação está ficando indefensável. Passei um dia na cidade nesta semana, moro no Rio por motivos profissionais- e três assaltos passaram por mim. Meu irmão, uma funcionária e eu. Foi-se um relógio que acabara de ganhar da minha esposa em comemoração ao meu aniversário. Todos nos Jardins, com assaltantes armados, de motos e revólveres.
    Onde está a polícia? Onde está a "Elite da Tropa"? Quem sabe até a "Tropa de Elite"! Chamem o comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade. Tenho certeza de que esse tipo de assalto ao transeunte, ao motorista, não leva mais do que 30 dias para ser extinto. Dois ladrões a bordo de uma moto, com uma coleção de relógios e pertences alheios na mochila e um par de armas de fogo não se teletransportam da rua Renato Paes de Barros para o infinito.
    Passo o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana. TV diverte e a ONG que presido tem um trabalho sério e eficiente em sua missão. Meu prazer passa pelo bem-estar coletivo, não tenho dúvidas disso.
    Confesso que já andei de carro blindado, mas aboli. Por filosofia. Concluí que não era isso que queria para a minha cidade. Não queria assumir que estávamos vivendo em Bogotá. Errei na mosca. Bogotá melhorou muito. E nós? Bem, nós estamos chafurdados na violência urbana e não vejo perspectiva de sairmos do atoleiro.
    Escrevo este texto não para colocar a revolta de alguém que perdeu o rolex, mas a indignação de alguém que de alguma forma dirigiu sua vida e sua energia para ajudar a construir um cenário mais maduro, mais profissional, mais equilibrado e justo e concluir -com um 38 na testa- que o país está em diversas frentes caminhando nessa direção, mas, de outro lado, continua mergulhado em problemas quase "infantis" para uma sociedade moderna e justa.
    De um lado, a pujança do Brasil. Mas, do outro, crianças sendo assassinadas a golpes de estilete na periferia, assaltos a mão armada sendo executados em série nos bairros ricos, corruptos notórios e comprovados mantendo-se no governo. Nem Bogotá é mais aqui.
    Onde estão os projetos? Onde estão as políticas públicas de segurança? Onde está a polícia? Quem compra as centenas de relógios roubados? Onde vende? Não acredito que a polícia não saiba. Finge não saber. Alguém consegue explicar um assassino condenado que passa final de semana em casa!? Qual é a lógica disso? Ou um par de "extraterrestres" fortemente armado desfilando pelos bairros nobres de São Paulo? Estou à procura de um salvador da pátria. Pensei que poderia ser o Mano Brown, mas, no "Roda Vida" da última segunda-feira, descobri que ele não é nem quer ser o tal. Pensei no comandante Nascimento, mas descobri que, na verdade, "Tropa de Elite" é uma obra de ficção e que aquele na tela é o Wagner Moura, o Olavo da novela. Pensei no presidente, mas não sei no que ele está pensando.
    Enfim, pensei, pensei, pensei. Enquanto isso, João Dória Jr. grita: "Cansei". O Lobão canta: "Peidei". Pensando, cansado ou peidando, hoje posso dizer que sou parte das estatísticas da violência em São Paulo. E, se você ainda não tem um assalto para chamar de seu, não se preocupe: a sua hora vai chegar.
    Desculpem o desabafo, mas, hoje amanheci um cidadão envergonhado de ser paulistano, um brasileiro humilhado por um calibre 38 e um homem que correu o risco de não ver os seus filhos crescerem por causa de um relógio.
    Isso não está certo."

    Luciano Hulk

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