Um dos meus amigos defende com a convicção de um iconoclasta, que o planejamento não funciona, que é impossível prever tudo, que as coisas tem que ser deixadas mais soltas, mais livres, com menos regras.
Lembra com dialéctica de aluno aplicado o desastre que foi o planejamento soviético, como destruiu e subverteu a economia de mercado e acabou com a liberdade. Ao mesmo tempo, que reconheço a força do seu argumento, não posso concordar que por conta deste exemplo lamentável, passemos ao outro extremo; planejar tipo caminhão de melancias ou de abóboras, vamos deixando como esta, que no transcurso da viagem os solavancos ajeitam a carga.
Este ultimo modelo de planejamento é bem conhecido dos habitantes desta terra e tem fortes adeptos, entre alguns dirigentes tanto públicos, como privados. Porque lhes permite mudar não só o caminho e as metas, ao seu bel prazer e conveniência, como em alguns casos chegam a trocar o destino ou objetivo, no meio da viagem.
Os dois exemplos, mais interessantes, de forma de planejar, que me vem na memória são os de Cristóvão Colombo e do Infante D. Henrique. O primeiro conseguiu a proeza de reunir uma equipe e organizar uma expedição, ninguém fora dele mesmo sabia aonde se dirigiam, nem conhecia o rumo, nem a duração da viagem. Tanto é que na metade da viagem a tripulação se amotinou e deixaram de confiar no seu capitão. Faltou comida e água, porque a viagem não foi bem planejada e quando alcançaram terra na ilha da Hispaniola, não tenham a menor noção de aonde se encontravam, imaginando que estavam nas costas da Índia, quase a mais de meio mundo de distancia donde pretendiam chegar. Sucesso só justificado pela teimosia de um visionário amalucado, que quase levou a expedição a pique.
O Infante D. Henrique contratou o cartógrafo Damião de Góis e ao redor dele estabeleceu a Escola de Sagres, de fato, o que se criou não foi uma escola no moderno conceito da palavra, mas um local de reunião de mareantes e cientistas onde, aproveitando a ciência dos doutores e a prática de hábeis marinheiros, se desenvolveram novos métodos de navegar, desenharam cartas náuticas e adaptaram navios. De acordo com os cronistas da época, largavam todos os anos dois ou três navios para as descobertas, com o que foram gerando conhecimento, planejando e estabelecendo as bases que permitiram a Portugal, dominar os mares durante séculos.
A capacidade de reunir, liderar uma equipe que a partir do planejamento alcança os objetivos, foi o modelo escolhido pelo Infante D. Henrique. Claro que o Infante não sabia quais seriam exactamente as terras a descobrir, nem os avanços tecnológicos que seriam incorporados. Tinha, porem objetivos muito claros, dominar os mares e estender o império português alem das suas fronteiras.
Dois modelos de planejamento para comparar.
JORDI
ResponderExcluirEste seu amigo deve estar tendo bom frutos da falta do planejamento, só isto explica uma defesa destas. Todas as sociedades que tem algum sucesso tem regras de conduta, em geral debatidas e pactuadas onde a avaliação da história, da conduta do presente e das possibilidades do futuro são determinantes para a definição de estratégias. Não precisam ser estanques, mas devem ser claras para qeu todos entendam suas razões e que tenham a possibilidade de serem reavaliadas para os ajustes que o tempo e as circunstâncias protagonizam num mundo que nada mais rápido que a nossa capacidade de resposta. O exemplo do planejamento soviético é patético pois ele não se estruturou no desejo de uma sociedade e sim das mentes de seus ditadores. Este é o modelo, alías que prevalece em Joinville. Usando uma frase protagonizada por Che Guevara nos primórdios da revolução cubana: "Enganam-se os ditadores em seu desígnio medonho, matando o sonhador pensando matar o sonho." Não serviu para Cuba, mas serve para quem ousa sonhar em tempos melhores, numa sociedade mais igualitária e justa. Os que assim não pensam queram apenas a garantia de seus previlégios. Sonhar e planejar, se caminharem lado a lado, podem se tornar numa agradável realidade.
Sérgio Gollnick