19 de agosto de 2008

Sem corrupção não há eleição ?



O texto de Rubem Alves, mesmo escrito em 2005, parece atual. Em Joinville é diferente? O que voce acha? Conhece algum caso de corrupção eleitoral?


Sem corrupção não há eleição

“Enquanto ouvia o depoimento do deputado Roberto Jefferson no Roda Viva, lembrei-me das palavras que Santo Agostinho escreveu há mais de 1500 anos: ‘ Que são as quadrilhas de ladrões senão pequenos reinos?’”

“O que me horrorizou não foi a corrupção desse ou daquele. Corrupções individuais estão previstas na lei e se curam por atos punitivos. E nem foi a suposta corrupção do PT através do “mensalão”. O que me horrorizou foi perceber com uma clareza que eu não tinha antes, que o jogo inteiro é construído pelo acordo tácito entre todos os que dele participam acerca da corrupção. Sem corrupção não há eleição! Sem corrupção, o jogo político, tal como é jogado, entra em colapso.”

“O que está em jogo é a Grande Corrupção, que equivale à grande subversão dos ideais da democracia. Estamos de volta às leis das quadrilhas de ladrões. As regras desse jogo são simples:

Primeira Regra : objetivo supremo do jogo político é a tomada do poder., da mesma forma como a essência do jogo econômico é o lucro. Ser político é lutar pelo poder.

Segunda Regra : uma vez tomado o poder o objetivo do jogo político é permanecer no poder. O político eleito já no dia da posse começa a planejar a sua reeleição.

Terceira Regra enunciada por Maquiavel: para se atingir o poder e permanecer nele o que importa não é a honestidade, mas o parecer ser honesto. A transparência é inimiga mortal do jogo do poder, da mesma forma como é mortal na guerra, a continuação da política por meio das armas. O que é necessário é que o povo acredite nos políticos que pedem o seu voto. Porque a tomada e a permanência do poder só se conseguem através das ilusões do povo. Se o povo não tiver ilusões sobre o jogo político ele se recusará a joga-lo. O povo vota num candidato na esperança de que ele lutará pelo bem comum. Sobre o bem comum falam os políticos em época de eleição.

Quarta Regra: para continuar no poder é preciso dispor de recursos financeiros para a campanha da reeleição que se seguirá. Daí a necessidade de alianças com as empresas que farão as doações. Mas, como é bem sabido, no sistema capitalista, ninguém dá dinheiro a troco de nada. É dar para receber.

Quinta Regra: Enquanto o jogo real da política acontece nos bastidores, longe dos olhos dos eleitores, no palco são mostradas as coisas boas que se fazem legal e administrativamente para o bem estar do povo. Se isso não acontecer haverá sempre o perigo de que algo semelhante à Revolução Francesa venha a acontecer, com cabeças sendo cortadas na guilhotina.

Ao final fiquei com uma pergunta não respondida. Resolvi consultar o santo. Feita a ligação perguntei-lhe: “ Santo Agostinho, meu querido mestre: se são as quadrilhas de ladrões que tem o poder, se são as quadrilhas de ladrões que estabelecem as leis, se não há esperança de que elas, as quadrilhas, voluntariamente, abram mão do poder e mudem as leis, o que pode ser feito para se ter um governo justo?” Do outro mundo o santo respondeu: “ Meu filho, você não leu o meu texto com atenção. Lá está explicada a origem da corrupção: se, pela inércia dos homens fracos este mal cresce ao ponto de se apropriar de lugares... Perdoe-me a palavra que vou usar, tão a gosto dos brasileiros, e tão estranha no meu mundo, o mundo da teologia: esse mal cresceu porque vocês, povo do Brasil, são uns bananas...” com estas palavras ele desligou o telefone.

Rubem Alves

"Sem corrupção não há eleição"

Jornal Correio Popular

26/06/05

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