2 de março de 2010

Matroca

CRESCER À MATROCA

Se fossemos vizinhos de Winston Smith, vivendo no país do Grande Irmão, criado por George Orwell no livro 1984 poderíamos utilizar os conceitos da Novilíngua” para decifrar a palavra MÁ-TROCA: fazer uma permuta de má qualidade ou trocar com maldade. Ciente do aprovado na Lei do Plano Diretor acreditei que o executivo através do IPPUJ utilizaria de ferramentas atuais, didáticas e democráticas na confecção das regulamentações das leis que nos direcionariam no rumo da cidade sustentável.


A falta de explicações mais detalhadas à sociedade por parte do executivo sobre a regulamentação do macro-zoneamento vai confirmando não só o despreparo, os vícios adquiridos de gestões passados e a arrogância no trato da gestão do planejamento participativo digna de mérito nos bons tempos da ditadura. Desconsiderar a necessidade de reavaliação e validação de conceitos nos tempos ditos da informação e transformação implica no dizer não ao ato de planejamento. Vale lembrar que saímos lentamente de uma crise econômica mundial datada após a aprovação do Plano Diretor e gostaria de saber se as diretrizes estabelecidas quanto à promoção econômica continuam validas, pois o combate a crises oferece oportunidades de expandir serviços de infra-estrutura vitais para a qualidade de vida dos mais carentes, ou se alguma orientação do COP-15 poderia ser introduzida às diretrizes do plano de nossa cidade sustentável.


As palavras de ameaça do executivo ao afirmar que “se for reabrir essa questão, vamos ter de parar a Lei de Ordenamento Territorial e trabalhar em questões que já estavam prontas”, é uma demonstração clara da falta de entendimento com a cidade, pois reabrir significa dialogo, trabalhar é o que não se pretende e prontas ficaram as cidades antes de iniciar seu declínio. Dita pronta, Joinville é uma cidade em declínio?


Já se vão quatro anos do ultimo grande fórum de discussão sobre a cidade deixando remédios urbanos de possível validade vencida. Se executivo e legislativo tiveram dois anos para desperdiçar nas alterações destituídas de critérios mais profundos da lei de uso e ocupação do solo, é pedir muito a validação de conceitos para a materialização de nosso plano de estruturação territorial, que aprovado irá repercutir sobre inúmeras outras regulamentações. Estamos deixando de lado o necessário dialogo, confronto e objetivos na busca de um equilíbrio entre a cidade legal e ilegal na utilização de conceitos e comportamentos ultrapassados que irão reforçar a cidade de guetos econômicos e sociais.


Todos os atores da cidade devem exigir de si e dos representantes eleitos, de Conselhos, Associações de Bairro, Entidades de Classe, Sindicatos e outras formas de representação, que Joinville não continue a crescer à matroca (ao acaso, sem pensar nas conseqüências ou sem planejamento qualificado e cuidadoso) atendendo possíveis interesses individuais ou deficiências de gestão, pois tal comportamento aumentará seus custos sobre a constante diminuição de sua qualidade de vida. Não avaliar as conseqüências da elevação da temperatura, diminuição de áreas verdes e públicas, destruição do patrimônio construído, qualificação dos modelos de mobilidade, falta de infra-estruturas e equipamentos públicos, modelos econômicos e sociais que garantam o acesso a cidade, avanço sobre nossas áreas de preservação permanente e mananciais hídricos, reciclagem de resíduos ou na gestão competente de recursos que priorize a qualidade de vida do joinvilense entre outras, nos afasta cada vez mais da cidade que possa suportar todas as nossas vontades.

Arno Kumlehn

Arquiteto e Urbanista

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