28 de novembro de 2008

Texto escrito desde Blumenau


Entre tantas mensagens que circulam pela internet uma me chamou a atenção e transcrevo, em azul e itálico, como sempre. Não posso atestar a sua veracidade, mas é coerente com as noticias que chegam por uns e outros.

Agora, 9 horas da manhã do dia 27, chove bastante aqui em Blumenau.

Graças a Deus, o nível do rio baixou para 4 metros e meio. Nos piores momentos atingiu 12 metros.

Aqui na cidade os carnês de IPTU têm uma particularidade: indicam o nível de perigo para o local (o que influencia no valor do imposto) em forma de comparação com o rio, isto é, a partir de que nível o local passa a inundar.

Aqui passa o rio Itajaí Açú, que é formado na cidade de Rio do Sul pela junção do Rio do Sul com o Rio do Oeste. Recebe, ainda, o rio Benedito, acima de Indaial.

Existem 3 grandes barragens, com muitas comportas, naqueles afluentes, que servem para controlar o fluxo das águas. Nas grandes enchentes de 1983/84 o sistema funcionava precariamente. Atualmente estão em muito melhor estado; isto mais retificações e desassoriações melhoraram a defesa contra as enchentes.

Mas nestes dias o que está causando o grande transtorno não são as chuvas sobre os afluentes mas sim diretamente nas cidades do médio vale, como Blumenau, Indaial, Pomerode, ...

Jaraguá do Sul e Joinville já estão sob outras influências.

Itajai e Navegantes são as cidades que margeiam a foz do rio Itajai-Açú. Portanto, recebem toda a água que desce e muitas partes ficam até em nível mais baixo que o mar. Quando ocorrem as marés altas o rio não consegue desaguar. Pelo contrário, recebe mais água, no sentido contrário. E o resultado é o transbordamento, a inundação.

Apareceu na TV, aqui em Blumenau, um homem mostrando, com o braço para cima, a marca de 2,20 metros que as águas atingiram na rua Amazonas, dentro de sua loja, uma pequena papelaria. Que tristeza!

Já há mais de 78.000 desabrigados, gente que perdeu a casa e tudo o mais e não tem mais para onde voltar. Só em Blumenau estão funcionando 56 abrigos, lotados. A solidariedade é enorme. Centenas de voluntários ajudam bastante.

Em alguns locais isolados pessoas morrem e está havendo autorização para serem enterradas ali mesmo, pelo pessoal da defesa civil, marcando as sepulturas com GPS para que possam ser transferidas mais tarde. Muitos corpos estão sendo guardados em caminhões frigoríficos.

Não há mais sangue nos hospitais. 25% de locais na cidade ainda estão sem energia elétrica. O lixo não é recolhido.

A cidade está imunda, coberta de lama. Há um risco enorme de doenças por bactérias e virus, principalmente leptospirose, que deverão prevalecer por pelo menos 40 dias após secarem as ruas.

Falta água e comida. Em Itajai 7 supermercados foram saqueados; a TV mostrou aparelhos de TV e de informática sendo levados também, entre outros materiais. A segurança pública é NENHUMA.


Um comentário:

  1. Há cerca de 7 anos atrás eu escrevi uma matéria cujo título era, se não me engano, porque ainda não a achei o texto: "A Espera de Uma Tragédia". Havia participado como voluntário na enchente de 1983 e depois, por conta de minha atividade profissional, participei de algumas obras de correção de margens e dragagens no Rio Itajaí-Açu e Itajaí Mirim. Obras muito localizadas, para evitar deslizamentos de encostas ou para melhorar a vazão do braço "morto" do Itajaí Mirim. Naquela época havia o Departamento Nacional de Obras e Saneamento - DNOS, que em Santa Catarina teve papel fundamental na reconstrução após a enchente de Tubarão e na manutenção da vzaão da foz do Rio Itajaí e construção do canal extravasor do Itajaí Mirim. Haviam outros projetos que foram engavetados. Após as enchentes de 1983 e 1984, o Governo de Santa catarina havia realizado um estudo patrocinado pela JICA - para um complexo e necessário arcaboulo de obras de prevenção e correção de cheias no Itajaí Açu e Itajaí Mirim. Seriam aplicados US$ 400 milhões para esta obras que nunca sairam do papel. Os governadores que se seguiram queria só fazer asfalto, porque asfalto dá mais voto. Depois, para completar a desgraça, o Collor extinguiu o DNOS por conta da roubalheira no Nordeste e, nós perdemos o único orgão que tinha como tarefa planejar e executar obras de prevenção e correção para as cheias. Se haviam desvios de conduta, é provável que sim, mas havia alguém que tinha esta missão. Depois disto, nenhum governo, seja ele Federal ou Estadual, se preocupou com as enchentes, as tragédias de Tubarão, de 1983 e 1984 ficaram no passado, na memória. Toda a vez que passava pela Jorge Lacerda e via as margens do Rio Itajái ruindo ou quando via a situação de abandono do canal retificado do Itajái Mirim, ou ainda quando via os loteamentos liberados nas partes baixas da bacia em Itajaí e Navegantes onde o rio atingiu 2,5 metros de altura na enchente de 1983, me vinha a mente aquelas cenas da enchente e, por conta disto dava para prever prenunciar uma catástrofe. Aí então escrevi o texto que fazia justamente uma série de comentários alertando para o fato de que um dia seríamos novamente vítimas dos caprichos da natureza e das nossa ignorância. Agora, estamos novamente nos defrontando com este desastre que não tem culpados, mas está claramente esposta a ferida da omissão e irresponsabilidade pela falta de ações de prevenção. Somos, de fato, uma sociedade onde a memória é curta e, logo, logo estaremos esquecendo este desastre, voltando a ocupar os mesmos lugares onde as tragédias aconteceram esperando pelo próxima, que será maior ainda e mais avassaladora. Oxalá eu esteja completamente errado.

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