14 de novembro de 2008

Chuva, Enchentes e Responsabilidades


(Foto de Aline Carlessi Pacheco - Jardim Sofia - Joinville SC)

Ao leitor mais desavisado pode parecer que as enchentes que vivemos, são resultado exclusivamente das fortes chuvas que de uma forma pertinaz, visitam Joinville, ou "Rainville" ou “Chuville” como uns e outros a chamam de maneira mais carinhosa, que critica.


Dizer que ninguém pode ser responsabilizado pelas fortes chuvas e pelos estragos que ocasionam, pode parecer um contra-senso, e mesmo assim permaneço forte na minha convicção que as enchentes, ou melhor, dito os estragos, as perdas de bens e o elevado custo social, econômico e ambiental não são causadas pelas fortes chuvas e sim ela imprevidência, a irresponsabilidade e a ganância.

Não é de hoje que temos enchentes no Morro do Meio, em Pirabeiraba, Quiriri, no Jardim Paraí­so, na Vila Nova (Annaburg e Neudorf), no Panaguamirim, no América, e no Centro, por citar alguns dos nossos bairros.


Sempre teve, porque a proximidade com a Serra do Mar e a topografia da planície onde foram construí­das as primeiras moradias na Colônia Dona Francisca definiram as condições e fazem de Joinville uma região sujeita a enchentes. O que mudou? O que mudou foi alem da impermeabilização (asfalto), o desmatamento, as terraplanagens (cortes e aterros dos morros), a construção de moradias junto às margens dos rios e canais que drenam as bacias hidrográficas da cidade, a autorização criminosa para a ocupação com loteamentos e ocupações regulares de Áreas que sempre foram sujeitas a enchente, Não é de hoje que o Rio Águas Vermelhas (Há registros oficiais de inundação do Ribeirão das Águas Vermelhas em 1852) inunda grandes Áreas da Vilanova ou do Morro do Meio, só que antes estas Áreas não estavam ocupadas e funcionavam como bacia de detenção para amortecimento das ondas de cheias, ninguém corria o risco de perder bens, os impactos na vida das pessoas eram menores), porque a área urbanizada da cidade era menor do que atualmente, bem como sua população. No caso da região da Estrada de Ilha sempre alagou, se perdiam a safra da agricultura, gado, vidas humanas. Mesmo construíndo em cota topográfica um pouco mais elevada que a topografia natural do terreno, a comunidade luterana da Estrada da Ilha sofreu muito com as inundações.


Quem autorizou a ocupação das áreas alagadiças? Se já desde o Plano Diretor de 1.973 Joinville conhecia, mesmo que superficialmente, o mapa das suas enchentes. A Comissão de Loteamentos e os demais órgãos da Prefeitura Municipal envolvidos na questão, precisam usar as ferramentas técnicas adequadas, por exemplo na Lei de Loteamentos, e de planejamento urbano antes de emitir licenças a respeito da implantação de loteamentos. Porque alguém autorizou loteamentos e residenciais em áreas que enchem a cada chuva? Terraplanar um imóvel antes de construir não garante que ele ficará protegido de eventuais inundações, pois a cota poderá ser superada na próxima enchente.


Deve ser responsabilizado quem autorizou a construção de casas e inclusive edifícios sobre os rios Morro Alto, Jaguarão e Mathias, inclusive muitas destas construções não tem Alvará de construção, estão irregulares portanto, comprometendo a sua manutenção e limpeza e condenando grandes áreas da cidade a enchentes regulares a cada chuva, mesmo as menores e menos intensas.

Seguir o rastro do lodo, que trazem as enchentes, não é um trabalho difícil, os nomes de cada vereador que aprovou, em nome do desenvolvimento e da especulação imobiliária, as leis, que permitiram esta ocupação, de cada secretario que elaborou os estudos técnicos, se é que foram feitos, e de cada prefeito, que encaminhou projetos de lei reduzindo a permeabilidade da cidade para atender aos interesses da uns e outros e condenando outros cidadãos, população de baixa renda principalmente a viver sob a ameaça constante de enchentes a cada pingo d’água. Os nomes e sobrenomes estão ao alcance de quem quiser chafurdar na historia da Colônia Dona Francisca já desde a época de Hermann Guenther em 1850.


Um comentário:

  1. Quem percorreu a cidade hoje, dia 22 de novembro, pode perceber que a natureza é implacável e, chuvas desta natureza são recorrentes. Já diz uma famosa frase de que a pior enchente é aquela que ainda não aconteceu. Então, se continuamos a desfiar a natureza devemos pagar algum preço. O problema é que a conta cai para os mais pobres que, na busca de dignidade pagam lotes em áreas impróprias a agentes imobiliários inescropulosos assim como as autoridades sempre se eximem de culpa, dando aos antecessores a responsabilidade. Hoje, várias ruas e casas sofreram inundações, encostas ruiram e os prejuízos foram imensos. Cobiça, avareza e falta de responsabilidade são as principais causas. Quando se fala em proteger as faixas de drenagem dos rios, protegar as encostas e mater a massa vegetal que as sustenta, muitos são contrários, defendendo ferozmente o desenvolvimento a qualquer custo. Eis a conta Senhores!

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...