“À dialogação implica numa mentalidade que não floresce em áreas fechadas e autarquizadas”.
Paulo Freire
No apagar de luzes deste governo municipal, comecei a buscar no plano de gestão do novo prefeito eleito, o que poderíamos considerar como suas maiores propostas ou virtudes. A palavra virtude colocada no plural pode, a principio, parecer deslocada de um texto que pretende analisar uma proposta de governo, principalmente acostumados que estamos nesta cidade aos péssimos exemplos metodológicos praticados nas ultimas gestões. Em conceito, virtude é a disposição em fazer o bem e, ao longo do texto, procurarei fazer entender esta colocação. Na busca do que considero a prioridade fundamental, encontrei na proposta e discurso do então candidato Carlito, a palavra: DIÁLOGO. Portanto aqui começa a analise desta primeira virtude.
Encontrei a mesma palavra em carta enviada do Chile, datada de 1968, pelo educador e exilado Paulo Freire cujo comentário de seu livro “Educação como prática da liberdade”, onde afirma textualmente o seguinte: “é que o tema do diálogo, como essência desta educação”. O diálogo, segundo seus adeptos, “não expressa só seu estilo pedagógico, mas a sua práxis: a convicção de que o homem foi criado para se comunicar”.
Para que esta prática possa ser estabelecida e produza resultados práticos, algumas condições devem ser estabelecidas, começando pelo fim das palavras vazias, aquelas que quando proferidas demonstram um vazio de pensamento, a mentira da incompetência e o cinismo tão característico dos poderosos. A autenticidade do diálogo envolve um processo de revisão e critica continuada, que começa pela humildade de reconhecer erros, defeitos e vícios. Reconheço a dificuldade de implantar tal proposta, pois ela não recai apenas nos ombros do prefeito eleito, mas, sobretudo à sociedade.
O diálogo, conforme proposto pelo novo prefeito, não deve vir como um veiculo de propagação de ideologia alienante, ociosa ou clientelista, mas sim como instrumento para transformar Joinville numa cidade mais justa, democrática e livre. Praticas e provas recentes conspiraram contra a proposta do dialogar, mas espero que este novo governo não contrarie também a minha fé. Uma condição para o diálogo não fracassar esta na organização da sociedade, que diante desta promessa feita não deverá se comportar passivamente, de forma silenciosa diante dos escândalos, de acertos de balcão que, em geral, resultam em traumas ao tecido urbano e à sociedade. A passividade que nos é particular vem como fruto do nosso histórico colonialista em que as “terras doadas a uma pessoa só que, se apossava delas e das pessoas, que vinham povoá-las e trabalhá-las”. Desta visão criou-se todo um ambiente propicio a propagação do “mandonismo” e do paternalismo dependente.
Penso que em parte posso citar como exemplo a prática corrente da atual administração, que governou a cidade sobre o mesmo foco da nossa histórica exploração colonial: uma empreitada comercial, em que não tinha como pauta criar uma sociedade justa e plena no seu direito democrático. Gostaria de deixar claro que a crítica não visa despertar ilusões de uma solução pelo autoconhecimento, da aplicação pura dos novos instrumentos de gestão democrática estabelecidas em lei ou promover um ativismo sectário. A proposta para um novo diálogo deve ser conduzida no campo das idéias, de propostas realistas, onde a grande maioria do usuário da cidade seja atendida.
Diz-se que a gestão das cidades sustentáveis inicia pelo diálogo entre sociedade e governo, portanto, no meu entendimento, se a proposta de governo for cumprida, devidamente amparada num planejamento competente, com participação e voz da sociedade organizada, poderemos parar de nos iludir com o discurso do desenvolvimento e começar a trabalhar por uma cidade para todos.
Quanto ao plural, às outras virtudes são inerentes ao cargo para que foi eleito o novo prefeito, dentre as quais eu destaco: honestidade, preocupação com o bem estar de todos, dedicação e doação ao trabalho que lhe foi incumbido.
Arno Kumlehn
Arquiteto Urbanista
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