21 de setembro de 2010

De Gilberto Dimenstein na Folha

O Aiatolula


A imprensa é uma das razões para Lula ter virado presidente. O PT apresentou-se como um agrupamento ético (e o país acreditou), a partir de inúmeras denúncias e por muitos anos de desvios de recurso no Brasil --até então estávamos, jornalistas, cumprindo a nossa função de fiscalizar. Agora, a imprensa, na visão de Lula, é quase um partido a serviço da desestabilização da candidatura.

Já disse aqui e repito que Lula fez um bom governo por ter colaborado (e muito) para reduzir a miséria e ter estimulado um ambiente de prosperidade econômica. Poderia ter feito mais para estimular a economia, promovendo reformas. Mas a verdade é que vivemos um momento a ser comemorado --tudo isso num ambiente democrático.

Quem valoriza, de fato, a democracia está preocupado com os sinais de Lula --o ataque à imprensa é apenas um deles. Acrescentem-se aí os ataques ao Judiciário, quase beirando o deboche. Ou a frase pedindo o extermínio de um partido de oposição. Democracia, como se sabe, é, antes de mais nada, a garantia do direito das minorias.

Ao se despedir do governo, Lula parece estar seguindo um projeto de aiatolá. Fora do governo, mas mandando como se fosse governo. Esse projeto de 'aiatolula' dificilmente vai acabar bem, por pressupor que a sociedade estará controlada. E, aí, evidentemente, a imprensa é incômodo.

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