Morro da Viuva – Rio de Janeiro.
Fui intimado a escrever sobre o
verde urbano. Não vou aqui discorrer sobre dados e estatísticas para dizer que
temos pouco verde. Mas vou me socorrer de dados apresentados pelo engenheiro
agrônomo Gilberto P. Gayer, leitor assidou deste blog, para quem os indicativos
de referência de área verdes existentes são questionáveis.
Para o IBAMA/FATMA seria de 8 m²
por habitante (indicativo usado para calcular as áreas verdes previstas nos
licenciamentos ambientais de loteamentos e condomínios).
Já a Organização Mundial de
Saúde (OMS) indica um mínimo de 12m² por habitante, mesmo sem ser clara a
metodologia aplicada para chegar a este número.
“De qualquer forma, adotando o
que a OMS define, em Joinville deveríamos ter um mínimo de 6 milhões de m² de
área verde.
Há quem
diga que temos algo próximo de 80 m² por habitante, o que seria espantoso.
Porém, se considerarmos os
mangues, rios, margens de baías e lagoas, cumes de morros e encostas mais
íngremes, todos estes já são garantidos por lei federal (por enquanto).
Acrescenta-se os vazios urbanos
que são privados e podem sumir a qualquer instante.
E sobra muito pouco. As cotas 40
são espalhadas e privadas.
Por isto há a necessidade de políticas de criação de Unidades de
Conservação (como a ARIE do Boa Vista e Iririú), e principalmente de
arborização urbana”, diz Gayer.
A EMOÇÃO DO VERDE - Não tem como não se emocionar ao chegar a
Joinville pela primeira vez. Eu continuo me emocionando quando a chegada é por
avião. Sobrevoar a Baia da Babitonga, a Lagoa de Saguaçu e as áreas de mangue é
um espetáculo. As áreas remanescentes de verde nos morros do Boa Vista e do
Iririú e a vista do verde intenso da Serra do Mar não podem deixar a ninguém
indiferente.
Se a chegada é por carro, seja
pela BR- 376 ou pela SC- 301, descendo de Curitiba ou de Campo Alegre, a
impressão não é menos intensa. Esta impressão nos deixa com a percepção que
Joinville é – ou deve ser – a capital internacional do verde e que contamos com
percentuais de verde invejáveis para cada cidadão.
Mas estes dados, como tantos
outros que nos são apresentados a cada dia, para nos convencer disto ou de
aquilo, podem ser incluídos numa teoria científica bem consolidada, a “Teoria
do Frango”. O estudo prova que se eu comi dois frangos e você nenhum, na média
cada um de nos comeu um frango.
A maioria das áreas verdes que
um turista poderia observar ao sobrevoar Joinville, na metade da década de 90,
já não existe mais. As áreas foram desmatadas, ocupadas, urbanizadas e
continuam a ser com intensidade e velocidade cada vez maior. O avanço da
urbanificação sobre as áreas rurais tem o estímulo descarado do poder público
em nome do desenvolvimento.
Gosto de citar, um caso
emblemático do Rio de Janeiro, o Morro da Viúva as margens da enseada de
Botafogo.
Além da imagem que ilustra
este post, e que mostra o Morro da Viúva rodeado por uma muralha
de prédios. Duas imagens uma anterior a construção do aterro do
Flamengo e a outra bem atual, servem para evidenciar a ameaça real que os
nossos morros sofrem, com bandos de aloprados gananciosos estimulando o
adensamento e a verticalização em volta dos morros do Boa Vista e Iririu.
ECOCHATOS E DESOCUPADOS - O verde preservado pela legislação federal,
como os topos de morro, os manguezais e as margens de rios e lagoas, são
espaços de preservação permanente e não podem ser considerados espaços para o
lazer urbano, não atendem a estas necessidades. No caso de Joinville o avanço
criminoso feito sobre os rios, as suas margens e os fundos de vale exigirá
pesados investimentos públicos. Segundo os números apresentados pelo poder
público, pouco mais de R$ 1 bilhão. Desnecessário dizer que estes recursos não
existem e não devem aparecer facilmente.
O verde por habitante deve ser
considerado pelo conjunto de praças e parques, por um lado, e pela soma do
patrimônio que representa a arborização urbana do outro. Joinville tem perdido,
de acordo com os dados do próprio poder público, mais de 40% das árvores que
existiam nas vias públicas na década de 90. E além de não terem sido repostas
as perdas, tampouco tem continuado o plantio.
O problema principal pode ser a
percepção muito forte de que há um enorme estoque de verde urbano. De que esta
é uma das cidades que mais perto está do paraíso. E também de os defensores da
preservação da qualidade de vida representada pelo verde são uma minoria
absoluta de ecochatos e desocupados.
O discurso desenvolvimentista
dos talibãs do tijolo aproveita bem esta percepção da maioria. E é por isto que
o verde que você já viu, hoje não vê mais. Como por arte mágica, ele está
desaparecendo. Mas, ao contrário, das apresentações de mágicos e ilusionistas,
ele não reaparece em outra parte do cenário.
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