17 de junho de 2009

Rua Araquari


Rua Araquari


Moro há 24 em Joinville, 14 dos quais na mesma rua. Quando iniciamos a construção da casa, começamos a nos acostumar com o entorno, os vizinhos, as calçadas, as arvores e plantas dos jardins. Com o tempo aprendemos a conhecer a rua, cada ondulação do calçamento de paralelepípedo, inclusive os buracos e aprendemos a evita-los.


Não sempre conseguimos com o mesmo sucesso, um deles, o maior estava estrategicamente localizado no eixo das ruas Araquari e Marechal Deodoro, na maior parte do tempo evitávamos o encontro entre o buraco e o pneu do carro. O amortecedor agradecia.


Durante estes anos todos, encaminhamos varias solicitações aos órgãos correspondentes da prefeitura, uma hora a Seinfra, outra hora a Conurb, inclusive nas vezes que os prefeitos receberam em audiência a associação de moradores, la estávamos nós com as reivindicações dos moradores e entre elas inevitavelmente o conserto dos buracos.


A gente acaba criando uma relação de amor e ódio, com o descaso, por um lado o buraco que nos desafia a cada dia, que nos olha com orgulho, como dizendo:


- Viu eu ainda estou aqui.


Durante um tempo um vizinho, colocou barro, para tampar o buraco, não durava muito, e acabou desistindo. Outro pintava uma moldura branca em torno do buraco, como avisando que ele estava lá e que era preciso estar alerta.


Um acaba se acostumando a estes incômodos do quotidiano e chegam a ficar invisíveis, deixam de nos incomodar, passam a formar parte do nosso dia a dia, como uma mosca varejeira, a sujeira que o gari não limpa ou o flanelinha que privatizou um pedaço da rua.


No sábado passado repentinamente chegaram eles, com seus uniformes azuis, com seu caminhão novinho e em menos de uma hora acabaram com todos os buracos da rua, os grandes, os pequenos e os médios. Em poucos minutos não restou nenhum. Confesso que fiquei triste, perdi um conhecido de anos.


Depois da tristeza inicial, fui tomado por outro sentimento, se era tão fácil de resolver, porque não foi feito antes? Quantos ofícios, quantos telefonemas, quanto incomodo, para algo que era fácil de resolver. Era só querer. Faltou para os nossos prefeitos de plantão e para os seus secretários, só querer. Algo tão simples. Quantas vezes as coisas não se resolvem, simplesmente porque a autoridade de plantão não quer.


Publicado no Jornal A Noticia

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