27 de março de 2011

De Elio Gaspari

FAVELA, ASHWAIYYAT, GECEKONDULAR


Acaba de sair nos Estados Unidos um grande livro. É "Arrival City" ("Cidade de Chegada - Como a Maior Migração da História Está Mudando Nossa História"), do jornalista anglocanadense Douglas Saunders. Ele estudou e acompanhou a vida de um tipo de comunidade das grandes cidades.


No Brasil, chamam-se favelas; no Egito, ashwaiyyat; na Turquia, gecekondular, e na China, cun. Nelas aglomeram-se algo como 800 milhões de pessoas que deixaram o campo em busca do futuro nas grandes cidades, ou descendem de pessoas que fizeram essa rota.


O trabalho de Saunders vem sendo festejado pela audácia de sua conclusão: "A periferia é o novo centro do mundo". Seu livro já foi comparado ao "Morte e Vida de Grandes Cidades", de Jane Jacobs, que mudou a maneira de pensar as políticas urbanas a partir dos anos 60.


Descrevendo essas comunidades, Saunders mostra que nelas não vivem apenas miseráveis marginalizados, mas empreendedores emergentes de um mundo novo, uma nova classe média global.


O mundo pagou caro por não entender a essência das migrações dos séculos 19 e 20. Não entendê-las agora seria um desastre. É emocionante sua narrativa da transformação de Jardim Ângela, um pedaço do inferno paulistano nos anos 80, na comunidade que é hoje.


Quando a periferia tem acesso ao crédito, a escolas, empregos e polícia livre de demofobia, ela decola. E quando seus moradores são pura e simplesmente transferidos para conjuntos residenciais, geralmente as iniciativas fracassam.


Como o livro de Jane Jacobs levou 48 anos para ser editado no Brasil, não custa avisar que a edição do e-book (em inglês) custa US$ 13,99.

De graça, há um artigo de Saunders no sítio da revista "Foreign Policy".

2 comentários:

  1. Perceba uma curiosidade, uma infinidade de loteamentos (geralmente irregulares) que são construídos nas bordas podres (impróprias) das cidades tem como nome ou pré-nome a palavra "Jardim". Jardim Paraiso, Jardim Edilene, Jardim Sofia, Jardimm...... Pois é, este marketing tem origem na corretagem de túmulos em cemitérios particulares, cemitérios parque onde, inexorávelmente, todos iniciam pela palavra "Jardim". Jardim Esperança, Jardim da Paz, Jardim da Saudade, Jardim.... A lógica é a mesma que visa levar ao consumidor a idéia de que ele irá, seja nop sonho da casa própria ou no passamento, para um local fantástico, o paraiso, onde tudo será belo e maravilhoso.

    Nada disto, caro amigo - quando entrar no "jardim", voce está "morto". No primeiro caso o sujeito tem passagem garantida para o inferno. Já, no segundo caso, não se tem um relato exato do resultado.

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  2. Muito bom o seu comentário. Na verdade só faltou o jardim do Eden para que a coleção de jardins este completa.

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