2 de junho de 2013

Arvores são sinal de atraso (Rubem Alves)

Finalmente entendi porque essa fúria dendricida. Obrigado Rubem Alves

JARDIM DO CASTELO: Aconteceu no ano de 2003.. A praça do Castelo era um refrigério para a alma, um jardim com árvores, sombras, pássaros e bancos. Lugar fresco e amigo que convidava as crianças, os namorados, os cansados…

Mas naquele dia, ao olhar para a praça levei um susto. Havia homens com serras e machados (certamente obedecendo ordens de autoridades que não gostam de árvores; árvores são um problema, exigem cuidados e as flores e folhas sujam o chão…) – estavam cortando todas as árvores daquele paraíso… Imaginei que a ordem deveria ter partido de um louco. Lembrei-me de um prefeito do estado de Goiás – foi o que me disseram – que iniciou uma campanha para que se cortassem as árvores na sua cidade porque árvores eram sinal de atraso. Será que ele havia se mudado para Campinas? Sai por ali à procura de esclarecimentos. Mas ninguém me explicou, ninguém me disse o que iria ser colocado no lugar das árvores. Fiquei sabendo semanas depois: uma praça feita de pedras e cimento, sem árvores, sem flores, sem verde, bruta, deserta, sem pássaros e sem crianças mas construída segundo perfeições geométricas.

Ao ver a praça lembrei-me do Niemeyer. O Niemeyer detesta árvores. Ele ama formas geométricas perfeitas por sua beleza imóvel. A beleza imóvel é eterna. Não está sujeita às transformações do tempo. Como as pirâmides e as esculturas de pedra e ferro. Uma vez construídas elas atravessam os séculos. Mas o preço que se pega pela eternidade das formas é que elas têm de estar mortas. Creio que, se ele pudesse, faria árvores de cimento.

Mas agora – o Correio Popular publicou (5/11/11) – cuida-se de substituir a geometria pelo imprevisível da vida. Pode até ser que plantem nela um caquizeiro..


Rubem Alves


2 comentários:

  1. Jordi, retomando a leitura do Rubem, encontrei um sobre o Niemeyer "As Duas Frigideiras". Complementa a visão dele. E achei tão convergente porque num outro ele diz que quer ser cremado (fiquei pensando sobre a nova grande discussão da província, sobre um crematório na cidade) e que suas cinzas sejam enterradas debaixo de um caquizeiro. As questões de atraso, lembranças de Joinville, insegurança e afins foi minha insônia da noite passada.

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  2. Joinville é linda... Repleta de áreas verdes... O verde é e sempre será a cara da minha cidade. Aqui sempre se cultivou o habito de plantá-las... Minha Joinville é verde. Amo!!

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