Finalmente o brasileiro levantou do seu berço
esplendido, ou melhor, dizendo abandonou o conforto do seu sofá e foi para as
ruas. O espaço que até a pouco estava restrito a uma minoria barulhenta e
politizada passou a ser tomado por uma amalgama de pessoas diversas, de
movimentos, de interesses e de sentimentos encontrados. É bom para o país que
finalmente se crie consciência da força política que a sociedade tem. É muito
positivo que as ruas sejam de volta um espaço de todos, em que caminhe lado a
lado todo o espectro da sociedade. Desde os representantes do MPL, aos
defensores da moralidade pública, os que não suportam mais o mau uso dos
recursos públicos, os que são contrários à homofobia, os que defendem uma
educação publica de qualidade, os que querem mais segurança e os que buscam a
paz e a justiça social.
Pelo inusitado e principalmente pelo pouco
habituados que estamos a exercer os nossos direitos o movimento tem
surpreendido a todos. Os primeiros a não perceber que há no ar um vento de
mudança têm sido os políticos, que nos três níveis, continuam alheios a
realidade do país. Os políticos parecem ter perdido completamente o contato com
a realidade do país. O loteamento do poder para atender os interesses dos
diversos partidos e dos seus lideres são um escárnio. A nomeação do ultimo dos
39 ministros foi a gota demais num copo que já estava cheio.
O estouro do orçamento da reforma do Maracanã
e a sua posterior entrega para a iniciativa privada, junto com a entrega de uma
obra inconclusa e mal acabada, concluiu com uma vaia sonora retransmitida ao
vivo pela televisão e foi outra gota, num copo que já estava derramando.
Mas o que o brasileiro não parece suportar
mais é a volta da inflação, o aumento dos preços, a falta de transporte público
de qualidade, o estado da saúde, a situação das escolas ou a insegurança nas
ruas. Todos têm exemplos próximos de gente à espera de um exame, de escolas
interditadas ou da violência sem sentido.
A voz das ruas e principalmente a força
que adquiriu a sociedade com o uso das redes sociais, da internet e da quebra
do monopólio da informação, mudou de forma definitiva a forma de ter acesso ao
que sucede, democratizou o acesso à informação e proporciona voz a quem até
ontem não a tinha. Contribui ao amadurecimento político mais que a alienação. O
Brasil não vive uma primavera árabe, porque a nossa realidade não é a
mesma. O maior risco é que todo o esforço e a mobilização sejam um desperdício
inútil de energia ou acabem se convertendo numa alegre quermesse, que passe a
ser incluída no calendário turístico das maiores cidades do país, que os seus
participantes formem blocos e vistam abadas. Mas há sim uma mudança no ar. Se
esta mudança será consistente, duradoura e promoverá as mudanças que o país e a
sociedade precisam só o tempo dirá.
Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC
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