23 de junho de 2013

O Brasil levantou do sofá

Finalmente o brasileiro levantou do seu berço esplendido, ou melhor, dizendo abandonou o conforto do seu sofá e foi para as ruas. O espaço que até a pouco estava restrito a uma minoria barulhenta e politizada passou a ser tomado por uma amalgama de pessoas diversas, de movimentos, de interesses e de sentimentos encontrados. É bom para o país que finalmente se crie consciência da força política que a sociedade tem. É muito positivo que as ruas sejam de volta um espaço de todos, em que caminhe lado a lado todo o espectro da sociedade. Desde os representantes do MPL, aos defensores da moralidade pública, os que não suportam mais o mau uso dos recursos públicos, os que são contrários à homofobia, os que defendem uma educação publica de qualidade, os que querem mais segurança e os que buscam a paz e a justiça social.

Pelo inusitado e principalmente pelo pouco habituados que estamos a exercer os nossos direitos o movimento tem surpreendido a todos. Os primeiros a não perceber que há no ar um vento de mudança têm sido os políticos, que nos três níveis, continuam alheios a realidade do país. Os políticos parecem ter perdido completamente o contato com a realidade do país. O loteamento do poder para atender os interesses dos diversos partidos e dos seus lideres são um escárnio. A nomeação do ultimo dos 39 ministros foi a gota demais num copo que já estava cheio.

O estouro do orçamento da reforma do Maracanã e a sua posterior entrega para a iniciativa privada, junto com a entrega de uma obra inconclusa e mal acabada, concluiu com uma vaia sonora retransmitida ao vivo pela televisão e foi outra gota, num copo que já estava derramando.

Mas o que o brasileiro não parece suportar mais é a volta da inflação, o aumento dos preços, a falta de transporte público de qualidade, o estado da saúde, a situação das escolas ou a insegurança nas ruas. Todos têm exemplos próximos de gente à espera de um exame, de escolas interditadas ou da violência sem sentido.

 A voz das ruas e principalmente a força que adquiriu a sociedade com o uso das redes sociais, da internet e da quebra do monopólio da informação, mudou de forma definitiva a forma de ter acesso ao que sucede, democratizou o acesso à informação e proporciona voz a quem até ontem não a tinha. Contribui ao amadurecimento político mais que a alienação. O Brasil  não vive uma primavera árabe, porque a nossa realidade não é a mesma. O maior risco é que todo o esforço e a mobilização sejam um desperdício inútil de energia ou acabem se convertendo numa alegre quermesse, que passe a ser incluída no calendário turístico das maiores cidades do país, que os seus participantes formem blocos e vistam abadas. Mas há sim uma mudança no ar. Se esta mudança será consistente, duradoura e promoverá as mudanças que o país e a sociedade precisam só o tempo dirá.

Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC

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