13 de abril de 2010

CLAITON E LUIZ ALBERTO

O Arquiteto Sérgio Gollnick encaminhou este texto em resposta a carta publicada no jornal A Noticia de Joinville, assinada pelo Asessor de Imprensa do IPPUJ:

Li a carta encaminhada pelo Claiton à AN, na Palavra do Leitor, acerca de ditas falácias sobre a PUC. Entendi que a manifestação do Claiton expressa o pensamento do IPPUJ. Sendo assim, como profissional e munícipe expresso meus pensamentos sobre este delicado e espinhoso assunto:

Creio que existem muitas opiniões de pessoas com razoável bom senso e inteligência para supor quais reflexos ou problemas podem surgir com a instalação da PUC na antiga Wetzel. Desdenhar estas opiniões sob o argumento de falácias não é um bom caminho de uma instituição que tem por função precípua planejar, diagnosticar, prognosticar e apresentar soluções para os problemas urbanos, dentre os quais o ordenamento do território e a mobilidade urbana.

A implantação da PUC não tem sido apenas palco de debates por parte dos "urbanistas" aos quais me incluo com muita honra. A propósito, somos nós urbanistas que temos por função e responsabilidade o domínio da técnica sobre esta questão. Por isto talvez nos tornemos tão ligados ao tema. Mas é certo que em outros fóruns e reuniões de empresários e profissionais, o assunto tem sido comentado pois, invariavelmente, surge a preocupação com a mobilidade na região ou na quadra onde se pretende implantar um campus universitário, local que hoje já se apresenta muito complexo já que todos nós transitamos por ali.
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Portanto, não se trata de falácias apenas, trata-se de opiniões com consistência e munidas de informações que são importantes, informações que o IPPUJ deveria produzir, analisar e torná-las públicas para que então tenhamos a tranqüilidade de saber que todos os problemas possíveis estão sob controle.

Um dos pontos de partida destas opiniões surge de um documento produzido pela própria PUC-PR elaborado por um dos mais conceituados urbanistas e especialistas em mobilidade urbana o Doutor em Transporte Eng. Fábio Duarte, que também é professor de PUC. Este documento, denominado PLANMOB, é um plano para tentar equacionar um grave problema gerado pelo tráfego de pessoas e automóveis no campus da PUC de Curitiba. Para tanto, encaminho para vcs duas das páginas do PLANMOB da PUC Curitiba para leitura, avaliação e, eventual precaução. Lembro que a PUC Curitiba fica ainda hoje na borda da área central da cidade, á margem da Linha Verde (antiga BR 116).

No campus de Curitiba, a PUC disponibiliza 3.200 vagas de estacionamento espalhados por 17 setores e, outras 400 vagas em dois estacionamentos próximos totalizando 3.600 vagas estáticas. Em 2008, a PUC decidiu eliminar o campo de atletismo (aproximadamente 12.500 m2) para transformá-lo em estacionamento aos alunos e professores. Para que tenhamos uma relação de dimensão, o Shopping Muller de Joinville tem 1100 vagas estáticas. A participação do automóvel no deslocamento dos alunos da PUC, segundo o estudo, supera os 70%.

É importante destacar que hoje a disponibilidade de vagas é um fator de atratividade no ensino superior conforme pesquisa realizada pela SOCIESC quando da implantação do campus Marques de Olinda.

Pois bem, ao ler o plano da PUC, uma das informações que me chamou a atenção é de que a demanda em hora de pico para os estacionamentos internos é de 3.000 veículos por hora, praticamente 10 vezes mais do que a demanda de um shopping center em dias especiais (natal por exemplo). A PUC Curitiba tem um movimento diário de próximo a 8.500 veículos.

Então podemos deduzir que, na mesma proporção, a PUC instalada na Wetzel (primeira etapa) deveria prever algo em torno 1.000 a 1.500 vagas estáticas para uma demanda de 1.300 a 1.800 veículos/hora nos horários de pico, que serão coincidentes com o pico do Shopping e os demais geradores de tráfego na região/quadra.

Para 1.500 vagas necessitamos de aproximadamente 30.000 m2. Se esta área não existe no terreno da Wetzel, onde ficarão estes veículos?

Apresento aqui alguns números para conhecimento e eventual contestação que se referem a quadra onde está a Wetzel:


* 1 Shopping Center - 1.100 vagas estáticas - 4500 veic/dia - 500 a 600 veic/h no pico;
* 4 Hotéis - aprox. 200 vagas estáticas - 315 veic/dia - 180 veic/h no pico;
* 9 Edifícios multifamiliares - 450 vagas estáticas - 1.030 veic/dia - 560 veic/h no pico (+ 3 edf em construção);
* 18 Restaurantes bares ou similares - 66 vagas estáticas - 1.500 veic/dia - 600 veic/h pico (*);
* 48 Lojas e escritórios - 310 vagas estáticas - 650 veic/dia - 450 veic/pico;
* 1 Estacionamento Privado - 180 vagas estáticas - 300 veic/dia - 80 veic/h no pico (*)

(*) Exceto finais de semana

Obs.: Estes dados são preliminares com base em informações colhidas por fontes ligadas às atividades pesquisadas e, outras foram estimadas com base em relatórios de impacto de vizinhança elaborados, ou estudos técnicos assemelhados.

Segundo alguns estudos sobre mobilidade, esta região deveria ter, contando apenas os atuais empreendimentos já instalados, aproximadamente 5.000 vagas estáticas. Tem pouco mais de 2.200 vagas.

Em Joinville, o comércio, os shoppings e supermercados privatizam as ruas ao destinarem os espaços de recuo ou da via pública para estoque dos acessos. É comum para aqueles que tem área de estacionamento colocarem suas cancelas de acesso no limite do empreendimento com a via fazendo com que as filas de acesso se coloquem nas faixas viárias.

Para conhecimento, em São Paulo, Curitiba e outras cidades, o estoque de espera e acesso tem que obrigatoriamente prever espaços dentro da área do empreendimento ou seja, quanto maior a demanda de acesso, mais para dentro deverá ficar a cancela de entrada, impedindo que se criem filas nas ruas, como acontece no Muller, Angeloni, Giassi, Big etc. e, com isto reduz-se drasticamente a capacidade da via e a mobilidade nestes pontos. É só sair nos horários de maior demanda para confirmar esta afirmativa.

Fiz, juntamente com alguns outros colegas, uma estimativa de que o fluxo no entorno da quadra do Muller/Wetzel deva estar próxima de 25 mil veículos por dia. Nos picos, este movimento chega a 7.500 veículos que se concentram em algumas vias por falta de conexão e inexistência de faixas de serviço adicionais. É o caso da Duque de Caxias, Pedro Lobo e, a própria Visconde que por ter sentido duplo perde seu nível de serviço.

O nível de serviço é medido pela capacidade da cada faixa de tráfego por sentido da rua, definido de forma distinta e por categorias de tráfego. Rodovias do tipo I, nas quais o fator mobilidade é importante, são levados em conta tanto a velocidade média de operação bem como a porcentagem de tempo em pelotão. Nas rodovias do tipo II, o nível de serviço é definido somente em termos da porcentagem de tempo em pelotão, sem consideração explícita da velocidade média operacional.

Portanto, ao olhar de forma preliminar as medidas que o IPPUJ propôs para a quadra, creio que falta uma análise mais profunda que contenha contagens de tráfego, analises de demanda futura, tipologia de tráfego, e avaliação dos níveis de serviço além de todas aquelas informações necessárias para evitar problemas futuros. Caso isto não seja feito, as propostas serão inócuas ou simples exercícios de "acerto ou erro". O problema é que as soluções de hoje comprometem uma região maior, pois qualquer problema no tráfego irá gerar outros gargalos além da área de influência da PUC.

Prevejo que deveremos ter um problemão no tráfego (na verdade já temos) nesta região se não houver um estudo mais apurado e com soluções de abrangência maior, pois sabemos que as vias da região também servem de passagem Sul-Norte e Leste-Oeste e encontram-se bem comprometidas.

Também vejo falta de precaução quando se afirma que aquela região "é de fácil acesso e o terminal está próximo". Penso que isto é uma declaração, no mínimo irresponsável, pois se o tráfego na região já esta comprometido nos horários de pico, deveremos ter então dificuldades de acesso a qualquer dos empreendimentos ali localizados.

O terminal central está a 850 metros da Wetzel. As recomendações para projetos de transporte público nos ensinam que os usuários são desestimulados a usar transporte quando o acesso aos pontos de embarque/desembarque superam a 400 metros. O ponto de embarque de linhas troncais mais próximo (JK) está a 500 metros dos portões de acesso a Wetzel. Portanto, o sistema de transporte público pouco contribuirá com a minimização dos problemas do trânsito.

Sendo uma instituição de ensino privada cujas mensalidades são elevadas, avalio que serão poucas as pessoas que irão se utilizar do transporte público (serviço público que aparentemente está entrando em estado de colapso e pouca confiabilidade) e, o poder aquisitivo dos que irão frequentar a PUC (talvez por isto se explique a alegria do comércio e do shopping) será nitidamente elevado pelo perfil dos alunos de outros campus da PUC no estado do PR. Isto nos sugere que a proporção de usuários de transporte individual deverá ser representativa.

Também é importante analisar o fator de atração externa da PUC, ou seja, a quantidade de alunos das cidades vizinhas e que irão contribuir com o tráfego nos acesso, principalmente a Ministro Calógeras e Duque de Caxias, hoje já congestionadas em horas de pico.

São tantas as análises que nos indicam problemas na mobilidade que seria lógica a elaboração de um Estudo de Impacto na Região antes de qualquer decisão.

Fica a seguinte pergunta ao IPPUJ: Alguém irá fazer isto?

Espero ter contribuído e apenas quero complementar com uma manifestação muito importante. Estou absolutamente convicto de que a vinda da PUC para Joinville é um fato importante e jamais, em sã consciência, seria contrário a esta iniciativa. No entanto, não podemos mais ser obtusos ou pouco inteligentes em não observar alguns critérios que deveriam e são a razão do IPPUJ existir: planejar a cidade.

Ao aceitar, sem qualquer análise mais profunda, implantar um empreendimento que é comprovadamente grande gerador de tráfego num local impróprio, o fato nos coloca sujeitos às criticas e condenações futuras. Ao mesmo tempo, vejo como positiva a utilização da Wetzel para uma finalidade nobre que mantenha, recupere e utilize aquele patrimônio arquitetônico e que, no entanto, seja destinada a uma atividade que gere menor fluxo de veículos de forma concentrada, como é uma universidade. O fato da PUC escolher a Wetzel não pode ser aceita como única opção, especialmente se a opção nos remete a riscos futuros. Eis que surge então a necessidade de um plano estratégico e de condutas nas decisões de caráter público.

Assim, alguns urbanistas persistentes tem se empenhado em propor um debate de assuntos relevantes como este e não usam de falácia, usam dos meios que lhe são possíveis. Estes mesmos profissionais são capazes de elaborar argumentos, fatos e até estudos que permitem fazer conclusões lógicas.

A falácia, em geral, tem valor emocional, de foro íntimo, psicológico e emotivo, mas não tem validade lógica.

Pelo que exponho, penso que não é o meu caso!

Atenciosamente

Sérgio Gollnick
arquiteto e urbanista
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