O texto de hoje é do arquiteto Sérgio Gollnick, habitual colaborador deste blog.
ESPAÇO PÚBLICO
De tantas deficiências que a cidade apresenta, a falta de espaços públicos destinados à população é uma das mais críticas, praticamente inexiste ou pior, paulatinamente os espaço públicos deixam de existir quando se avalia a relação da taxa de urbanização com a disponibilidade destes espaços. Isto é o resultado da inexistência de boas políticas urbanas e de práticas democráticas.
Não somos modernos e atuais, por isto propiciamos uma construção social individualista. Isto não se revela nem se configura a partir do nada, é sim uma construção histórica, que vem sido alinhavada ao longo do tempo pela configuração de uma estrutura econômica e social de exploração do outro. Como agravante, vivemos um período de invenções intelectuais e técnicas, desenvolvidas, principalmente, para se tirar proveitos, criando um domínio muito perigoso focado unicamente no poder político.
O aliciamento oficial da consciência coletiva tem gerado grande apatia e falta de criatividade fazendo crer num falso bem estar, resumido na concentração do poder político em poucas mãos. Expomos diariamente conflitos e aumento de demandas sociais refletidas em diferentes âmbitos da sociedade, principalmente no que diz respeito ao contexto da cidade legal. As formas de domínio de uma cidade são muito abrangente, que se iniciam nas práticas políticas, passando pelas econômicas, sociais e que terminam, em Joinville, com a violação contínua do espaço público da cidade.
Este espaço público é o espaço pertencente à coletividade onde se deveria praticar o encontro, o livre acesso, as trocas sociais, a construção da memória coletiva expressas, de forma bem simplista, pelos parques, pelas praças, pelos passeios, por calçadões, pelas ruas, por lugares de convívio onde se permitam o lazer o ócio, onde se postam os conflitos geradores de expressão e que proporcionam a troca cultural e comercial. Estamos cada dia mais distantes desta oportunidade e acabamos nos conformando com lugares “produzidos”, com nomes pomposos como “vias temáticas” que tem como único propósito garantir o retorno econômico à iniciativa privada, focados num entretenimento de duvidosa qualidade e padrão.
Precisamos entender que o lugar público no espaço da cidade é aquele a que todos têm acesso sem custo financeiro direto. Utilizar o dinheiro público e o planejamento oficial para transformar áreas da cidade apenas como espaços e meio de trocas econômicas é um dos equívocos “estratégicos”
Nossos espaços públicos, que deveriam ser planejados e administrados pelo poder municipal, têm sido alvos de intervenções por agentes externos, como por exemplo, especuladores imobiliários ou grupos ligados à especulação comercial, que se locupletam com o poder estabelecido passando por cima de leis, códigos de ética, do espírito de coletividade, impondo seus interesses sobre alterações ou usos dos espaços públicos visando somente o maior crescimento econômico individual. Isto é, para mim, uma forma de corrupção do espaço urbano público que é incabível e inaceitável.
O mundo moderno de acesso a tudo e de tantas facilidades deve nos permitir um novo olhar, fazendo voltar a pensar e a querer novos conceitos de espaço, espaços ambientalmente saudáveis e seguros, com explícito privilégio ao pedestre e ao deslocamento coletivo, cada qual com seu lugar especifico sem uma concorrência espacial e desleal.
Precisamos urgentemente de uma qualidade ambiental da vida urbana e de uma lógica mais humanista e ambientalmente saudável criando, conquistando e qualificando os espaços destinados à circulação de pedestres como as nossas calçadas, parques, praças, calçadões e todo tipo de ambiente que proporcione a interação social. Este será um dos desafios para que em nossa cidade se possa exercer a cidadania plenamente e que ela seja realmente boa para se viver.
Arquiteto e urbanista
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