1 de março de 2008

A cidade impermeável


As enchentes que Joinville viveu nos últimos dias, levam forçosamente a duas reflexões, a primeira é que a maré alta acontece diariamente, duas vezes ao dia, Não é por tanto uma novidade para os joinvilenses, acontecia inclusive muito antes que estas terras fossem ocupadas por caiçaras e tupis-guaranis. A maré de lua acontece com a regularidade de um relógio lunar a cada 28 dias, também desde tempo imemorial.

As fortes chuvas são também uma constante da região, desde o el Niño e la Nina, por tanto mesmo que estes acontecimentos sejam intensos, não podemos nos deixar surpreender, por algo que a natureza, teimosamente nos oferece como os amanheceres e os entardeceres.

Nada mais injusto que culpar a Natureza, e as inclemências do tempo pelos transtornos que ocasiona, como dizia Moscatelli A natureza não se defende... ela se vinga!!!

A segunda nos leva a procurar entender melhor, porque os estragos são cada vez maiores, porque o prejuízo para os cidadãos é maior e mais freqüente. Inclusive não tem sido poucos os depoimentos de joinvilenses, que a cada chuva, mesmo as menos fortes, tem sofrido enchentes e perdido os seus bens duramente conquistados.

Devemos buscar os responsáveis por este agravamento dos problemas ocasionados pelas chuvas, e devemos responsabilizar aqueles que permitiram de forma criminosa que a cidade se expandisse por áreas que historicamente sofriam alagamentos, alagamentos que no passado não revestiam maior gravidade, por acontecer em áreas pouco populosas ou inclusive rurais. A ânsia de dinheiro fácil levou loteadores e políticos irresponsáveis a autorizar loteamentos em áreas sujeitas a enchentes.

E ainda, a constante impermeabilização da cidade, que perde a cada dia os seus jardins e quintais, não constrói novas áreas verdes, não as exige por lei e não toma medidas para proteger as poucas que ainda permanecem. Faz que a cada nova nuvem os joinvilenses olhem o céu com apreensão e temor.

A cada dia a água da chuva, sem espaço permeável para se infiltrar no solo, percorre com maior velocidade as ruas e calçadas, em direção aos pontos mais baixos e em menor tempo se produzem enchentes mais graves, que não dão tempo a se proteger e defender. A proposta de construir piscinões, comentada pela imprensa recentemente é mais uma destas idéias, que aparecem em ano eleitoral, como o Flotflux ou a construção de um bulevar as margens do Cachoeira, nada que mereça ser levado muito a serio.

Publicado no AN Cidade

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...