3 de março de 2013

Beatos, Mitos e Heróis




Acompanho com um misto de preocupação e curiosidade o processo de criar um santo joinvilense à força de marketing e insistência. Imaginar que porque alguém faz o que tem que ser feito, acorde cedo e trabalhe com dedicação já é motivo para erigir uma estatua equestre em praça pública ou reverencia-lo como a um semideus é um exagero.  

Temos uma especial predisposição a criar mitos e eleva-los a condição de heróis, salvadores da pátria ou santifica-los. A facilidade com que isso sucede faz também que tenhamos grandes decepções quando descobrimos que a maioria dos nossos heróis são ídolos com os pés de barro e não sobrevivem durante muito tempo. A própria imprensa tem contribuído a aceleração deste processo de criação e desconstrução de mitos. Quando ex BBBs são promovidos a condição de heróis, ou jogadores de futebol que apenas começam a sua carreira são comparados a estrelas consolidadas ou quando é noticia de destaque a figura da penúltima namorada de este ou daquele passa a ser importante que reavaliemos os nossos conceitos sobre santos, mitos e heróis.

A igreja católica que já esta neste negocio de beatificar e santificar faz alguns séculos, tem abordado este tema com mais conhecimento e experiência, que o que temos mostrado por aqui, para isso criou a Congregação para as Causas dos Santos que tem como função processar e dar seguimento ao complexo trâmite que levará ou não à canonização dos santos, passando primeiro pela declaração das virtudes heroicas e posteriormente propondo inicialmente a beatificação. Isso só depois de elaborado um processo detalhado e preciso em que deverá estar incluída a constatação canônica dos milagres. Só depois deste passo o caso é apresentado ao Papa, que decidirá se proceder ou não à beatificação ou a canonização dependendo do caso.

Gostaria de propor que seguindo a orientação de quem já esta neste negocio a um bom tempo, que antes de sair canonizando santos de forma leviana e irresponsável, iniciemos por identificar e comprovar os milagres que o candidato a beato primeiro e a santo depois tenha realizado, e só depois de confirmados e verificados se de inicio ao processo. No meu parvo entendimento, é exagerado considerar que equilibrar receitas e despesas e cumprir uma parte das promessas de campanha passem a serem consideradas virtudes heroicas passiveis de beatificação. Administrar Joinville é uma tarefa árdua e que exigirá da atual administração um esforço maior que o inicialmente previsto, mas esta longe, muito longe de qualificar alguém para um processo de beatificação.

Publicado no jornal A Notícia de Joinville SC

2 comentários:

  1. Prudência e caldo de galinha, é sempre bom lembrar. Lembro-me de um colega de trabalho, ha muitos anos atrás, cujo desempenho era pífio, mas sempre tomava o cuidado de chegar pontualmente ao trabalho. Jamais se atrasou, ao contrário de muitos outros, mais "preguiçosos", porém onde entre eles havia muitos altamente eficientes.
    Pois chegou um dia em que foi nomeado presidente da empresa um senhor muito exigente e austero, com fama de competente, mais pelas suas origens do que propriamente pelo seu curriculum. Diga-se de passagem que esse senhor era um típico médio-empresário germano oriundo de uma progressista cidade do norte do estado, famosa também por ter nela correndo o rio mais poluído de Santa Catarina.
    Assim que assumiu aquela empresa estatal, nomeado que fôra pelo governador, também oriundo da mesma cidade, promoveu uma verdadeira revolução. Austeridade, disciplina, trabalho eficiente e eficaz, bem ao estilo dos costumes germânicos dos quais tanto nos orgulhamos.
    Lógico que a politicagem continuava correndo solta, afinal era uma empresa do estado...
    Mas, nas internas, nosso personagem acabou criando finalmente um prêmio aos empregados. O prêmio Assiduidade!
    Não lembro mais qual era o mimo oferecido, mas sei que premiava àqueles cuja folha-ponto não contivesse nenhum atraso por um determinado período, seis meses ou um ano, também não lembro.
    Resumindo: O grupo de trabalho ao qual eu estava ligado, conseguiu um excelente resultado no cumprimento de metas, fruto da dedicação e capacidade da maioria dos seus membros.
    Sabem quem foi o único premiado? Exatamente aquele de quem falei no inicio desse comentário. Ele era péssimo em desempenho funcional, mas nunca se atrasava...

    Talvez aqui esteja ocorrendo a mesma coisa. De tanto vermos passar pela Prefeitura uma sequencia de incapazes, ver um que ao menos cumpre horário já é uma grande coisa. Motivo para tecer-lhe loas.

    Espero no entanto que não seja somente mais um "assíduo". Aliás, tenho muita fé no atual prefeito que tem à sua frente uma tarefa realmente gigantesca. Apoia-lo é o mínimo que podemos fazer. E torcer para que consiga manter longe aquele grupo dos mesmos de sempre, que todos sabemos quem são.

    Mas voce tem razão Jordi. Ainda é muito cedo para erguer estátuas.

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    Respostas
    1. Nelson Jvlle,

      Obrigado pelo seu comentário. Tem tambem outra leitura. Quando premiamos o que não é mais que a obrigação e porque chegamos no momento de revisar nossos conceitos.

      Acho que é o caso.

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