31 de março de 2013

Rua Aquidaban



A Rua Aquidaban

A pacata Rua Aquidaban é uma das fronteiras para especulação imobiliária. A cobiça e a ganância enfrentam a qualidade de vida e um modelo residencial consolidado que equilibra muito verde e permeabilidade, residências unifamiliares e privilegia a insolação e a ventilação.

Não pode ser considerada uma via estratégica para mobilidade urbana,  pois liga nada a coisa nenhuma.A partir da abertura da Avda. Marques de Olinda e sua consolidação como um eixo viário, a Rua Aquidaban recuperou o seu perfil residencial, com redução do fluxo de veículos e potencial para um novo modelo de rua, mais bucólica, com verdadeiras ciclovias, não essas infames ciclofaixas que são uma verdadeira guilhotina para os ciclistas que nelas se aventuram.

Em 12 de abril de 2011 já houve uma tentativa de mudança de zoneamento e principalmente de gabarito. A pretensão do grupo que defende a mudança é que na rua se possam construir edifícios de até 12 pavimentos. no caso de aprovada representaria uma perda significativa de qualidade de vida para todas as residências existentes não só na própria Rua Aquidaban, como em todo o seu entorno e inclusive tendo impacto negativo por varias quadras em volta.

Da audiência daquele dia, duas imagens nítidas ficaram, a primeira foi a insistência dos representantes da proposta favorável a verticalização, que não aceitariam menos que 12 pavimentos, caso contrario o empreendimento pretendido não se viabilizaria economicamente. A segunda e mais aviltante, de que a proposta tinha como objetivo atender praticamente um único imóvel que pelo seu tamanho e localização seria o maior beneficiado com a mudança.

O texto original da LOT prevê que a Rua Aquidaban seja uma faixa viária, o que não é mais que um subterfúgio para permitir a verticalização tresloucada e o adensamento que se estenderá além da própria rua avançando 200 metros para o interior das quadras, a partir do eixo da rua, que tem o seu acesso a Rua XV, totalmente comprometido num extremo e no outro cruza a Rua Otto Bohem que tampouco tem um acesso fácil a Avda. Marques de Olinda.

De nada parecem servir os abaixo assinados, as manifestações claras e inequívocas da maioria, ou quase unanimidade  dos moradores do trecho  ao norte da Otto Boehm, tanto da rua, como de toda a área afetada pelo impacto da autorização de prédios residenciais com até 12 pavimentos ou da ampliação da permissão de usos para comércio e serviços.

 Os especuladores não irão morar lá e  pouco se importam em destruir a qualidade da via e do entorno desde que possam encher seus bolsos, utilizando de todas as formas e argumentos possíveis para transitar com ruborizante desenvoltura pelos gabinetes dos poderes municipais que, a seu turno mostram-se cordialmente receptivos a investidas de caráter pessoal, quando com caráter impessoal deveriam, claro, com cortesia, mas, fundamentalmente com transparência e publicidade, de portas abertas,  dar-lhes a mesma receptividade de modo a separar claramente o público do privado, o lobismo autêntico e democrático, das práticas nada republicanas.

É evidente que a cobiça tem um apetite desmedido e não há dieta que a coloque na linha,  encontrando sempre gente pronta a servir  ou  a se prestar para tão vergonhoso papel.

Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC

5 comentários:

  1. O caso da rua Aquidaban e seus moradores, defendendo sua qualidade de vida e também seu patrimônio, duramente conquistados, é um notável exemplo à sociedade joinvilense, via de regra não muito afeita à contestar os ditames da especulação privada e mais ainda, das autoridades oficiais muitas vezes submissas à esses mesmos preceitos.
    Acompanhei com muito entusiasmo e alegria o desenrolar daquele processo cuja vitória coube aos moradores que souberam manter seus direitos.
    Só que não se sabe até quando, infelizmente.

    Novos ataques estão sendo preparados certamente, e em breve eles surgirão à tona, requerendo esforço ainda maior para rechaçá-los.

    Lamentavelmente meu caro Jordi, instalou-se a falsa crença, hoje já um corolário comum, de que aquela região (e outras também) é dominada pela classe média alta, o que por si só já é motivo suficiente para ser combatida e subtraída de seus "privilégios".

    Sim, porque é cada vez maior a corrente de pensamento que considera direitos como privilégios. Conquistas patrimoniais honestas de uma vida inteira de trabalho? Privilégio. Passar no vestibular da Federal? Privilégio. Conseguir se formar em medicina e passar no concurso do Hospital Regional a alguns trocados mensais de salário? Privilégio...

    E quando esse cidadão classe média reclama do espigão de 20 andares encostado na extrema de sua casa antes ensolarada e arejada, oferecem-lhe um discurso distorcido da prevalência do público sobre o privado,e isso quando não lhe espinafram de egoísta e egocêntrico que só se preocupa com seu "mundinho classe média".

    Ser classe média nesse país, meu caro Jordi, está se tornando subversivo, quando não quase-criminoso.
    O classe média passou a ser citado como o cidadão alienado, que só se preocupa com o seu carro na garagem, suas roupas compradas no shopping, seus filhos na escola "particular", seu plano de saúde e seu esquema de vigilância patrimonial...
    Exceto quando chega a hora de pagar os impostos ao governo. O leão da receita talvez seja o único que o olhe com simpatia, mas claro, com água na boca.

    E pelo que tenho acompanhado nas redes sociais, imprensa e outros meios de comunicação, a luta será contra esses conceitos pseudo-liberais e pseudo-democráticos será ainda mais árdua.





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    1. Prezado Nelson Jvlle

      O maior prazer que tenho ao escrever este blog é o de poder compartilhar textos, ideias e citações com leitores como você.

      O seu comentário é perfeito. Aborda um ponto importante e que em Joinville ganhou força com o discurso patologico que posperou no governo do PT, lembro bem o nivel e volume de sandices de alguns ocupantes de cargos do primeiro escalão.

      Agora me lançou o desafio de discorrer com mais profundidade, não sobre a Rua Aquidaban e sim sobre o que é ser classe media neste pais e nesta cidade.

      Obrigado

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  2. Jordi vou te contar o que é cansativo nessa luta contra o poder podre que assola nossa cidade.
    Vamos para a luta solitária e desgastante contra a máfia, ganhamos, mas sabemos que não terminou a guerra, não se consegue ficar em paz e sim numa vigilia constante, pq eles perdem e logo uma equipe de advogados entram em ação para novo furo no sistema.
    E o que deveria ser o nosso direito de preservar nossa rua, virá uma historia de AA, NA e outras siglas que tem o lema, só por hoje.
    Cansa voce saber que só por hoje venceu o direito de não ter milhares de olhos dentro do seu quarto, vindo de um paredão cinza na sua janela.

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  3. Desistir? Nem pensar. É a luta por aquilo em que acreditamos que nos da forças. Sem medo de enfrentar a patifaria.
    Ganhando novos aliados a cada dia e conseguindo desmascarar os canalhas que não tem principios, nem carater.

    Não desista, ainda falta muito.

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  4. Excelente comentário do Nelson! E, Jordi, espero pelo texto sobre a relação entre direito e privilégio! É uma questão que tem permeado meus pensamentos cada vez que vejo uma notícia aqui, outra ali, um comentário piadista sobre a tal classe média (que, ao contrário do que querem supor, não é mais a mesma de anos atrás e engloba aqueles que estão, normalmente, proferindo o discurso depreciativo).
    Além das falácias que ouvimos já atacando quem somos e que por isso não podemos falar de tal ou qual assunto.
    Não vejo, nessas discussões territoriais de Joinville, a preocupação com a segurança, por exemplo. Ninguém fala sobre isso. Sei que não sou só que tenho problemas com isso! A especulação imobiliária cresce, a cidade recebe grandes empreendimentos e a segurança vai pelo ralo.

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