24 de março de 2013

Comer


En la mesa y en el juego se conoce al caballero

(Na mesa e no jogo se conhece o cavaleiro)

O invento de vender a comida por quilo é um invento brasileiro. A historia situa em Belo Horizonte o nascimento desta criação tipicamente nossa, exportada primeiro para outros estados e inclusive para outros países. É importante inicialmente diferenciar modelos semelhantes, o rodízio, a venda por quilo e o buffet livre. No primeiro há um preço fixo e cada um pode se servir quantas vezes quiser. No segundo cada vez que se serve a porção é pesada e o valor é anotado. No terceiro o céu e o limite.

O rodízio em geral beneficia aos glutões, quem come pouco acaba subvencionando os grandes comilões, quem já viu uma mesa de adolescentes famintos num rodízio de pizza sabe muito bem do que estamos falando, o rodízio, principalmente de carne é também um invento brasileiro, como o chamado Café Colonial, que é uma versão pantagruélica do requintado chá das cinco e que não é recomendado para quem quer manter uma dieta austera.  A venda de comida por quilo tem inúmeras vantagens, iniciando pelo preço em geral mais baixo que outras opções de serviço. Também é mais justo, cada um escolhe o que mais gosta e paga pelo que efetivamente foi servido. A redução dos custos de serviço permite ter preços mais baixos.

Mas só no Buffet livre alcança-se o clímax, o superlativo total. Poder comer praticamente sem medida e ainda sem ter que pagar a conta é uma situação que gera quantidades imensas de endorfinas, os rostos de satisfação de gentes de todas as idades, dirigindo-se de volta as suas mesas, com pratos repletos de comida, transparecem prazer. Para um gourmet, minimamente refinado, ver num mesmo prato, salada de folhas tenras misturada com o molho madeira da carne e acompanhada de creme de batata inglesa com postas de robalo e espaguete a carbonara pode não ser o ideal. Mas para os gourmands nada parece satisfazer mais. Todos parecem ter os olhos maiores que o estomago. Sonhar com quantidades infinitas de comida é quase uma visão do paraíso.

 Imaginar o chef que preparou com tanto esmero cada um dos pratos, escolheu os melhores temperos, selecionou os produtos para criar pratos únicos que pudessem encantar os convidados e ver como as melhores receitas e ingredientes acabam convertidos numa gororoba informe, deve provocar uma enorme frustração em quem tanto se esmerou. Redescobrir o prazer das coisas simples, da comida bem feita, sem exageros é um desafio nos dias de hoje, os excessos nos deixam sem referenciais e desaprendemos a saborear o que a vida nos oferece.

Um comentário:

  1. Não resta dúvida de que a comida a quilo ou buffet é mais prática e rápida, como exige o nosso "modus vivendi" do século 21 aqui p'ros lados do ocidente. São esses mesmos parâmetros que nos obrigam a usar automóvel ao invés da bicicleta como querem alguns. Entope tudo, claro, mas é essa a maneira de sobreviver hoje, e não adianta culpar a vaca pelo carrapato.
    Mas voltando ao assunto, sempre me preocupou essa questão da tal "comida a quilo"
    Pô! comida à peso pra mim é ração. É assim que se alimentam as vacas, os porcos e as galinhas nas nossas enormes granjas do oeste do estado, que tanto fortificam nossa economia.
    Infelizmente perdeu-se a noção de "refeição", que é algo completamente diferente. Admiro o povo italiano e o frances por isso. Para eles, a refeição é uma instituição, quase um ritual sagrado, aliás como deve ser. É só perguntar a qualquer médico.
    Comer às pressas, à quilo, comida mais colorida que substanciosa, só pode fazer mal à saude.
    Outro conceito abominável é o da comida administrada por "nutricionista". Ora, isso soa à ração balanceada (novamente).
    Comida pra mim tem que ser administrada por cozinheira, ou cozinheiro. Gente que entende de cozinha, e não de sais minerais, vitaminas e proteínas. Daqui a pouco vamos almoçar em farmácia...

    Mas essa, infelizmente é a direção que o sistema nos impõe, gerando consequencias no nosso modo de alimentação e também de locomoção. Está tudo interligado.
    Como estou fora dessa roda viva, aposentado que sou, tenho o privilégio de fazer refeições feitas por cozinheira (e que maravilhosa cozinheira, minha mulher)
    Para a maioria no entanto, a unica solução é sujeitar-se à "ração balanceada" dos buffets, pois se dispenderem uma boas duas horas num almoço, não terão como cumprir a meta do dia não é?

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