23 de junho de 2010

Comissão de Ética

Comissão de Ética

Confesso que quando uma Câmara de Vereadores da região norte de Santa Catarina propôs extinguir a Comissão de Ética, fiquei chocado. A minha primeira reação foi de revolta e de inconformidade. Aos poucos fui compreendendo que os doutos legisladores estavam certos e eu era quem estava errado.

Fica difícil justificar manter uma Comissão, para deliberar sobre um tema tão subjetivo como a ética. Entre os legisladores, tem aqueles que nunca ouviram falar sobre ela, outros não sabem direito o que é. Alguns dos vereadores incluíram a ética no mesmo nível que o sexo dos anjos ou os seres extraterrestres e um grupo mais radical considera a ética, prima irmã do bicho preguiça gigante, que os cientistas consideram extinta há milhares de anos. Um outro grupo mais moderado defende que a ética nunca existiu e que por tanto não poderia ser extinta, porque não se extingue algo que não existe, no que alias, não deixam de ter a sua razão. A minoria, contudo considera que a ética, deve estar no mesmo parágrafo da lei que reúne o Saci Perere, a mula sem cabeça ou a Corupira, por tanto não deve, nem pode ser incluída na pauta do legislativo.

Na verdade, os recentes episódios têm servido para evidenciar que de fato existe um divorcio, quase que total, entre os valores representados pelos princípios da ética e os praticados no exercício da vida publica. Políticos com maior experiência os consideram claramente excludentes. Pertinente por tanto que Comissões como a de Ética, ou Decoro Parlamentar, sejam extintas. Inclusive um dos maiores dilemas que as Câmaras Municipais têm enfrentado é o de definir quem poderia compor estas comissões. Algumas câmaras têm optado por indicar os vereadores que tem a ética intacta, por nunca tela usado nem na sua vida privada, nem muito menos na sua vida publica. Outros legislativos escolheram para compor estas comissões aqueles companheiros que tendo esgotado o seu estoque inicial de ética, hoje ditam cátedra sobre valores morais e cívicos.

Correta por tanto a decisão de acabar com as ditas comissões, e se for para tratar de comissões que sejam outras, as pecuniárias, que são reais, tangíveis. Não pairam duvidas sobre a sua existência e não formam parte do mundo fantástico da ética. Os vereadores e legisladores em geral ficariam desta forma liberados do pesado fardo de dedicar seu precioso tempo a debater sobre temas etéreos e poderiam concentrar toda sua capacidade em temas mais prosaicos.

Publicado no jornal A Noticia

3 comentários:

  1. gostei do texto....é só ver o exemplo dos últimos trabalhos de algumas comissões de ética....chega a ser hilário...um bom ponto de reflexão. parabéns

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  2. Absolutamente hilário. Mais sarcástico, impossível.

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  3. Gostei da coluna sobre a ética, pena que o local no jornal não ajuda, final e com outras colunas. Fica o abraço.

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