Nada tão nosso e tão de esta época do ano como o caranguejo, não estou
falando daqueles que você puxa um e vêm todos juntos, estou falando dos que são
servidos no verão, acompanhados de uma salada de cebola e tomate e de umas
cervejas, melhor se vem acompanhados de muitas cervejas. Os outros aqueles que
se você puxa vêm todos juntos, são outros que não se comem e se alimentam de
recursos públicos, de corrupção e de compadrio.
Lembro como se fosse hoje o meu processo de iniciação a esta terra e a
esta cidade, hoje faz mais de 28 anos, a primeira prova foi passar uma semana
em Joinville, no mês de agosto, dos sete dias choveu ou garôo durante sete dias
e sete noites, para alguém criado e crescido no mediterrâneo isto era o mais próximo
do que alguém poderia chegar dos quarenta dias e quarenta noites do dilúvio de Noé.
O amor fez milagres e sobrevivi a primeira prova. A segunda, uns meses depois
quando enfrentei o que seria, na opinião de minha mulher, a prova definitiva. A
florada do jacatirão marca o inicio da temporada do caranguejo, grupos de
sambaquianos se lançam aos mangues que teimam em sobreviver às margens da lagoa
de Saguaçu para capturar dúzias de caranguejos machos que serão servidos cozinhados
numa mistura de água e ervas mágicas e misteriosas, cada cozinheiro ou mestre
cuca mantém guardados a sete chaves os ingredientes e a sua proporção, o tempo
de cocção e principalmente a origem dos crustáceos. Para alguns não tem
melhores que os da Vigorelli, para outros o melhor vem de Florianópolis, quem prefere
os importados, escolhe os de Guaratuba e agora já tem fornecedor oferecendo os
Super graúdos de Cananéia.
Pela expressão e o sorriso de satisfação de minha mulher passei na
prova, não fiz feio, me dei bem como martelinho e ainda que as primeiras
marteladas fossem excessivamente fortes, aos poucos comecei a adquirir
habilidade na arte de combinar o martelinho com a elaborada técnica da sucção.
O caranguejo é a comida perfeita, com baixa caloria, consegue um equilíbrio perfeito
entre a energia que proporciona e a energia consumida para sua ingestão,
fazendo que seja possível consumir dúzias e mais dúzias. O momento para parar é
quando os lábios começam a sentir o impacto do sal ou quando os dedos já ficam sensíveis
e começa a não compensar o esforço de quebrar, desgarrar e separar cada uma das
patas e garras do animal. Gostar e saborear um bom caranguejo e um dos ritos de
passagem que tem que superar os recém chegados, como o foi a cerveja da
Antarctica na sua época e ainda hoje o continuam sendo as empadas do Jerke. E a
partir desta passagem nos integramos a esta cidade que nos recebeu de braços
abertos.
Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC
Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC
Até onde eu saiba o momento certo de parar é quando o caldo começa a escorrer pelo braço e passa a pingar no chão.
ResponderExcluirSambaquianos + caraguejadas = joinvilenses. É isso aí, meui caro Jordi! Texto memorável para esta terra encharcada. Grande Jordi!
ResponderExcluir