23 de dezembro de 2011

Verão


Caranguejo

Nada tão nosso e tão de esta época do ano como o caranguejo, não estou falando daqueles que você puxa um e vêm todos juntos, estou falando dos que são servidos no verão, acompanhados de uma salada de cebola e tomate e de umas cervejas, melhor se vem acompanhados de muitas cervejas. Os outros aqueles que se você puxa vêm todos juntos, são outros que não se comem e se alimentam de recursos públicos, de corrupção e de compadrio.

Lembro como se fosse hoje o meu processo de iniciação a esta terra e a esta cidade, hoje faz mais de 28 anos, a primeira prova foi passar uma semana em Joinville, no mês de agosto, dos sete dias choveu ou garôo durante sete dias e sete noites, para alguém criado e crescido no mediterrâneo isto era o mais próximo do que alguém poderia chegar dos quarenta dias e quarenta noites do dilúvio de Noé. O amor fez milagres e sobrevivi a primeira prova. A segunda, uns meses depois quando enfrentei o que seria, na opinião de minha mulher, a prova definitiva. A florada do jacatirão marca o inicio da temporada do caranguejo, grupos de sambaquianos se lançam aos mangues que teimam em sobreviver às margens da lagoa de Saguaçu para capturar dúzias de caranguejos machos que serão servidos cozinhados numa mistura de água e ervas mágicas e misteriosas, cada cozinheiro ou mestre cuca mantém guardados a sete chaves os ingredientes e a sua proporção, o tempo de cocção e principalmente a origem dos crustáceos. Para alguns não tem melhores que os da Vigorelli, para outros o melhor vem de Florianópolis, quem prefere os importados, escolhe os de Guaratuba e agora já tem fornecedor oferecendo os Super graúdos de Cananéia.

Pela expressão e o sorriso de satisfação de minha mulher passei na prova, não fiz feio, me dei bem como martelinho e ainda que as primeiras marteladas fossem excessivamente fortes, aos poucos comecei a adquirir habilidade na arte de combinar o martelinho com a elaborada técnica da sucção. O caranguejo é a comida perfeita, com baixa caloria, consegue um equilíbrio perfeito entre a energia que proporciona e a energia consumida para sua ingestão, fazendo que seja possível consumir dúzias e mais dúzias. O momento para parar é quando os lábios começam a sentir o impacto do sal ou quando os dedos já ficam sensíveis e começa a não compensar o esforço de quebrar, desgarrar e separar cada uma das patas e garras do animal. Gostar e saborear um bom caranguejo e um dos ritos de passagem que tem que superar os recém chegados, como o foi a cerveja da Antarctica na sua época e ainda hoje o continuam sendo as empadas do Jerke. E a partir desta passagem nos integramos a esta cidade que nos recebeu de braços abertos. 


Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC

2 comentários:

  1. Até onde eu saiba o momento certo de parar é quando o caldo começa a escorrer pelo braço e passa a pingar no chão.

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  2. Sambaquianos + caraguejadas = joinvilenses. É isso aí, meui caro Jordi! Texto memorável para esta terra encharcada. Grande Jordi!

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