A poética de Ideli
Por Guilherme Fiuza
Ficou famosa a frase do bandido Elias Maluco, ao ser apanhado pela polícia: “Prende, mas não esculacha”. Era um apelo ético do torturador e assassino de Tim Lopes.
Agora, a opinião pública também poderia fazer um apelo ético ao governo Dilma. Especialmente ao ver a ministra Ideli Salvatti tomar posse recitando versos de Ivan Lins.
Ideli perdeu a eleição para governadora de Santa Catarina e ganhou de Dilma o cabide do Ministério da Pesca. Continuou remando firme até tomar o lugar do companheiro Luiz Sérgio no ministério das Relações Institucionais.
Luiz Sérgio foi acomodado no cabide da Pesca – criado por Lula para consolar os companheiros que ficam no sereno. Ainda teve que ouvir de Ideli: “Cuida bem dos meus peixinhos”.
É o momento mágico em que uma ex-senadora assume um cargo de despachante, e um ex-despachante assume um cargo irrelevante. E o Brasil só fala disso.
Não dá para entender direito por que esse balé particular das boquinhas do PT domina as manchetes. É assunto deles, ninguém tem nada com isso.
O que deveria interessar ao Brasil (além de um estudo sobre Palocci – o homem, o mito e o consultor) seria se o governo Dilma já tem data para começar, depois da temporada de pantomimas feministas.
Tudo bem. Governar é uma coisa muito trabalhosa, e compreende-se que Dilma e suas meninas não queiram falar sobre isso agora. Mas tentar fazer poesia numa hora dessas já é escárnio.
Saída da repescagem para o ministério do toma lá, dá cá, Ideli Salvatti ornamentou o momento histórico:
“No novo tempo, apesar dos perigos; Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta; Pra sobreviver, pra sobreviver”.
O compositor Ivan Lins jamais poderia imaginar que seus versos fossem um dia celebrar “a luta para sobreviver” nas tetas do Estado.
Como se não bastasse, Luiz Sérgio filosofou sobre as águas da sua nova pasta: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Fernando Pessoa, quem diria, foi parar no Ministério da Pesca.
Em meio a tanta erudição no governo Dilma, só resta mesmo parodiar o clássico de Elias Maluco: “Engana, mas não esculacha”.
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