8 de junho de 2008

Joinville, hoje e amanhã

O Jornalista e Historiador Apolinario Ternes

Publica no Jornal A noticia de Joinville no dia 23 de maio este texto, brilhante como sempre, porem neste caso especialmente importante. Força ao leitor a uma reflexão profunda sobre o futuro desta cidade. Postamos o texto na integra.


Para complementar os esboços da semana passada sobre possibilidades e expectativas em torno do futuro, cabem referências e comentários no âmbito menor, da realidade local. Não sobre o Brasil, em temporada de acasalamento com o "futuro" - como nunca antes na história deste País - , mas sobre Joinville, a ex-colônia Dona Francisca, outrora conhecida como Cidade das Flores.

O futuro de Joinville, sabem os que aqui vivem e trabalham, é razoável. Basta conferir as transformações vividas pela cidade nos últimos anos. Nascida para ser agrícola, em 1851, conforme planos de seu fundador, a colônia se transformou em cidade industrial, após breve período como entreposto comercial, na virada do século 19 para o 20.

Acompanhando os ciclos da economia brasileira, por sua vez a reboque da economia mundial, Joinville acabou na linha de frente do processo industrial. Foi assim até o final da década passada, na outra virada de século e milênio. Dali em diante, ensaia mudanças. Elas acontecem, puxadas mais por discursos do que por atos e fatos. Por algum tempo, sempre será possível manter as aparências. Depois, se exige profissionalização e é preciso mostrar resultados. Joinville está na última fase, a dos resultados. Que são poucos, como se constata em todos os lugares: na educação, na saúde, na infra-estrutura, na cultura, no turismo e no meio ambiente.

O futuro imediato não é difícil vislumbrar. Serviços, educação, saúde e turismo deverão movimentar a economia, ainda que a base industrial continue isso mesmo, a base. A prova disso é que a GM anuncia sua fábrica de motores, e o discurso oficial é de entusiasmo, com incentivos generosos. No século 21 e em economias competitivas, a GM pediria licença e cumpriria um caderno de exigências. Trata-se de um tipo de indústria do século passado. Desinteressante, poluidora e geradora de (poucos) empregos, antigos. No entanto, aqui, para o poder público...

Hoje, Joinville tem pouco a aplaudir. Apesar da retórica disso e daquilo, temos recordes de homicídios, situação crítica na saúde, trânsito congestionado, rios poluídos, terceiro turno na educação, escolas interditadas e não temos um só quilômetro para uma caminhada segura. A cidade bonita e campeã existe apenas no discurso político, não na vida real do cidadão. Estamos saindo de um tempo de marketing exaustivo para outro, talvez longo, da mesma coisa.

Em 2015, ou daqui a sete anos, teremos, então, duas ou três salas de aula no "campus" da UFSC na Curva do Arroz. Ou alguém acredita que teremos aulas ali em 2009, como prometido? Até 2015, teremos um ou dois dos dez parques que hoje existem apenas no papel. Até 2015, a Cidadela da Cultura estará reformada, com paredes reconstruídas e pintadas. Antes de 2015 - vale o otimismo - , a biblioteca pública terá verba para atualizar o acervo, a estação ferroviária, enfim, restaurada, terá alguma destinação cultural.

As ciclovias, em 2015, permitirão que joinvilenses se desloquem entre um e outro bairro, bem como o acesso ao mirante - com restaurante no topo, de que se fala desde a década de 1980 - atenderá aos locais e visitantes. As festas de outubro, em 2015, retornarão ao calendário. A Festa das Flores será reestruturada, o Festival de Dança e a Escola Bolshoi continuarão rendendo dividendos. Até 2015, as calçadas do centro serão recuperadas, aposte nisso.

Em Joinville, o maior partido político do País e que detém o governo do Estado, está importando candidato para a eleição de outubro. O que comanda a Prefeitura não tem candidato. Como explicar tais paradoxos? Desgaste de marketing?

Joinville continuará mais fabril do que turística. Mesmo com o setor de serviços continuando a crescer, a economia terá na indústria o seu fundamento. A educação não crescerá tanto quanto cresceu na última década, e o setor da gastronomia terá de se profissionalizar ainda mais. O setor público precisa superar o desafio da burocracia, do nepotismo cruzado, da ineficiência e do planejamento zero. Isso depende da política e, em política, não é o Brasil que está atrasado, é o mundo que anda para trás. Vejam a França de Sarkozy, os Estados Unidos de Bush e a Rússia de Putin.

Joinville tem muito pouco a comemorar. Hoje e amanhã. É melhor pular para 2015. E mesmo lá, não conte com o rio Cachoeira despoluído.

( aternes@terra.com.br )

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