12 de junho de 2008

O Antigo e o Velho

O Antigo e o Velho

Numa cidade com pouco mais de 150 anos, como Joinville, a história mais antiga está presente demais. É fácil em esforço de memória ou perguntando aos mais velhos recuperar os nomes e as anedotas de cada uma das poucas gerações que formam a nossa história.

É neste contexto em que se situa o debate entre o que é velho e o que antigo, ou, em outras palavras, o que tem valor e deve ser preservado e o que pode ser destruído em nome do progresso. Não é uma escolha fácil numa sociedade como a nossa, que está destruindo a passos agigantados a sua memória, porque tudo parece velho, sem que nada ganhe a categoria de antigo.

Em culturas e sociedades com uma história mais longa e rica que a nossa, a diferença entre o velho e o antigo, muitas vezes é de mais de dez séculos. Fica fácil, portanto, estabelecer uma linha clara e bem compreendida, mesmo pelos menos esclarecidos.

Joinville está terraplanando a sua memória e está perdendo os referenciais que um dia podem servir para contar a história do que foi esta cidade. Há dificuldade para reconhecer entre a velharia e o que representa parte da nossa identidade e da nossa herança. Faz que em nome do progresso estejamos soterrando partes do passado, que seriam alicerces do futuro.

Poucos dos casarões que conferiam a Joinville um ar senhorial e aristocrático, construídos ao longo da rua Procópio Gomes, permanecem em pé e dos que permanecem, a maioria está em péssimo estado de conservação e de uso.

Quase nenhum dos jardins que tanto impressionaram ao presidente Affonso Pena na década de 30, quando visitou Joinville e a chamou "Cidade Jardim do Brasil" mantem o seu encanto e a sua cor. Quase nada queda da rica vida cultural de outrora, da qualidade dos nossos artesãos e da riqueza cultural, que fizeram desta uma cidade grande.

Vivemos uma invasão de trogloditas culturais, que em nome do desenvolvimento, não estão deixando pedra sobre pedra, da sua passagem fica só um rastro de destruição e ignorância, que nos transporta as épocas mais escuras da história. Joinville não merece que estes aiatolás do concreto, estes fundamentalistas ignaros que destroem tudo ao seu passo, tenham feito desta terra o seu alvo.

A cidade em nome do progresso tem dado passo a uma nova fisionomia, que parece renegar do seu passado e da sua origem. Uma Joinville que parece condenada a ficar velha, sem ter tido a oportunidade de um dia alcançar a elegância clássica, que está reservada só aquelas cidades que foram capazes de tomar as decisões certas para equilibrar preservação e desenvolvimento. Preservando o velho, para que um dia possa chegar a ser antigo.

Publicado no Jornal A Noticia

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