Apresentamos aqui a versão completa, porem resumida, do projeto elaborado para melhorar a comunicação, visualização e facilitar a utilização do transporte coletivo em Joinville - SC
Lamentavelmente por limitações tecnicas deste blog, não é possivel visualizar todas as imagens do projeto
Este projeto foi objeto de varios post anteriores. O mapa do tesouro e O Mapa do Tesouro ( 2)
Sinalização visual de paradas de ônibus de Joinville, voltada para estrangeiros ou analfabetos.
Bus stops´visual signs from Joinville, special made for foreigners or blind people.
Mateus Szomorovszky, Miguel Cañas Martins
Palavras-chave: ergonomia, sinalização visual, arquitetura, mobiliário urbano.
Resumo: Paradas de ônibus representam um artefato arquitetônico e urbano, os quais devem comunicar inúmeras informações de forma rápida, de modo que o usuário as selecione e processe-as imediatamente. Para garantir o sucesso da transmissão da mensagem do público alvo em questão, o estudo de fatores ergonômicos específicos torna-se fundamental na composição de sua sinalização visual.
Key-words: ergonomics, visual signs, architecture, urban furniture.
Abstract: Bus stops represent a very important urban furniture that must communicate a countless of information in a quickly way. The reader must select the message and prosecute it. In order to guarantee the success in transmission of the visual signs to the target audience, ergonomic requirements must be considering in graphics design project.
Introdução
Se por um lado uma parada de ônibus poderia representar em seu valor poético um espaço regido pela efemeridade e pela transitoriedade, ponto claro do encontro de passados e futuros diversos, ao mesmo tempo ponto de chegada e despedidas, também representa um artefato do mobiliário urbano capaz de proteger, localizar e direcionar.
Um eficiente projeto de parada de ônibus tem como principal função orientar seu usuário, além de proteger-lhe por alguns instantes de possíveis intempéries. Deve sinalizar, situar e abrigar o pedestre. Sugere ao mesmo tempo uma direção, um caminho e um sentido, e por si só pode representar a qualidade de uma política de transporte público local.
É também capaz de informar ou entreter através de informes publicitários e ainda proporcionar conforto através de assentos, lixeiras, telefones públicos, etc. Por abrigar tantas funções num espaço quase sempre muito reduzido torna-se um grande desafio para arquitetos e designer projetar um espaço que possa desempenhar adequadamente seu papel comunicativo e urbano.
Agrava-se a essa questão o fato de ser um local de curta permanência, além de competir visualmente ao seu redor com um cenário urbano quase sempre repleto de estímulos visuais. Ou seja, deve ser capaz de transmitir a informação de forma rápida, de modo que o usuário selecione as informações relevantes e as processe imediatamente.
Infelizmente, o que se encontra com mais freqüência são paradas que atuam mais como abrigos físicos do que como plataformas de orientação. Aquelas que às vezes possuem algum recurso de sinalização estão mal elaboradas, prejudicando sua funcionalidade informativa.
Neste sentido, a sinalização visual aplicada a esse mobiliário urbano deve ser um projeto global pensado em conjunto, para que consiga comunicar de maneira eficaz e transmitir rapidamente uma informação a fim de facilitar sua principal função: a orientativa. Desse modo, na concepção do projeto arquitetônico e do projeto de sinalização é muito importante incorporar aspectos de percepção visual e aspectos abrangentes de ergonomia física, de produto, cognitiva e informacional.
Objetivos:
Objetivo geral:
- Redesign dos elementos de sinalização dos pontos de ônibus padrão de Joinville com o intuito de permitir a compreensão de usuários estrangeiros ou analfabetos.
Objetivos específicos:
- Analisar a situação da sinalização padrão existente.
- Com base na análise, desenvolver uma proposta de sinalização por meio de símbolos gráficos e elementos visuais pictóricos que oriente o usuário.
Justificativa
A escolha do ponto de ônibus como objeto do trabalho se deu por se tratar de um mobiliário urbano no qual normalmente percebe-se de forma mais explicita a relação entre os projetos arquitetônicos e de sinalização visual. Portanto, procurou-se aliar o objetivo gráfico do trabalho a um elemento arquitetônico, demonstrando a interdisciplinaridade das duas áreas complementares.
O trabalho foi realizado em cima do ponto de ônibus número nove, da Rua João Colin, pertencente à Linha Norte/Sul.
Constata-se em Joinville que existe uma preocupação em tentar resgatar a tradição da colonização germânica no desenho dos pontos de ônibus locais, utilizando materiais típicos das técnicas construtivas alemãs, como: estrutura de madeira (enxaimel), tijolo aparente e telha cerâmica.
No entanto o projeto de sinalização é extremamente precário. Além de serem escassos, os elementos informativos que existem são mal elaborados e confusos, acabando por desorientar o pedestre e não contribuir como elemento de comunicação.
Metodologia
Através de uma pesquisa exploratória, coletou-se informações com relação à ergonomia e percepção visual em referência bibliográficas específicas. De outras fontes visou-se coletar informações sobre o sistema de transporte da cidade, como: empresas envolvidas, órgãos municipais fiscalizadores, linhas de ônibus existentes, tipos de transporte coletivo, etc.
Em seguida realizou-se um levantamento fotográfico e análise in loco da situação das paradas de ônibus existentes nas ruas Blumenau e João Colin.
O resultado das pesquisas e análises resultou nas informações orientadoras para a elaboração de uma nova proposta de sinalização visual para os pontos de ônibus, capazes de serem interpretadas por estrangeiros ou analfabetos.
Desenvolvimento
Joinville e seu sistema de transporte público
Primeiramente precisa-se entender como funciona todo o sistema de transporte público de Joinville e sua história, pois a partir desses dados foi possível elaborar de maneira mais eficaz os elementos gráficos do projeto, como: informativos, mapas, rotas, etc.
A população do município de Joinville é atendida por um serviço público de transporte por ônibus e por microônibus, ambos geridos pela municipalidade, através da Divisão de Transporte e Vias Públicas (DTVP), da Secretaria de Infra-estrutura (SEINFRA) e pelo serviço público de transporte por ônibus, de natureza intermunicipal, gerido pelo governo do Estado, através do DETER-SC. Institucionalmente a gestão do transporte joinvilense está a cargo da SEINFRA, através da Divisão de Transporte e Vias Públicas.
A estrutura viária de Joinville pode ser explicada pela intensa abertura de vias, que remonta ao período de fundação e desenvolvimento da colônia. A necessidade de acesso aos lotes deu-se à medida que estes iam sendo comercializados e a necessidade associada às características físicas e naturais locais - elevações, restingas e manguezais - acabando por configurar um sistema extremamente espontâneo, sem critérios urbanísticos acadêmicos. Isto fica evidenciado pelas vias de acesso a cidade e áreas pioneiras de ocupação que determinam o desenvolvimento da malha urbano predominantemente na direção Norte – Sul, linha escolhida para se desenvolver o presente trabalho. Estão configuradas através das ligações entre Curitiba e Florianópolis, mas se estabelecem outros eixos de orientação Oeste-Leste, a partir das ligações entre a serra e os portos de Joinville e de São Francisco do Sul.
Complementar a estes, uma malha sem critérios urbanísticos foi implementada ao longo do tempo preenchendo as áreas planas entre os eixos principias e posteriormente nas áreas periféricas, linearmente acompanhando os próprios eixos.
Tais fatos e seu desenvolvimento ao longo do tempo têm reflexos no funcionamento do conjunto urbano, quer do ponto de vista da operacionalidade quer da estrutura viária em si.Os problemas daí resultantes relacionam-se com as atividades do cotidiano da cidade e começaram a adquirir maior importância no quadro de suas deficiências, como por exemplo:
características físicas indiferenciadas, sem identidade visual que demonstre a hierarquia das vias; instabilidade do funcionamento da estrutura, causada por período de pico bastante definido de acordo com o horário de funcionamento da indústria, comércio e serviços; nivelamento, geometria viária, pavimentação, sinalização, estacionamento e deslocamentos significativos de carga pesada no meio urbano devido à localização industrial dispersa; ligações viárias com descontinuidades físicas notáveis.
O serviço municipal de transporte por ônibus está organizado fisicamente em uma rede de 135 linhas, sendo 123 de operação regular e 12 que realizam atendimentos especiais, periódicos ou em determinados momentos do ano. A concentração de viagens oferecidas com destino ao centro é evidente. Na hora pico da manha, 65% da oferta do serviço municipal está neste conjunto de linhas, valor que se repete na hora pico da tarde. A estrutura urbana de Joinville está configurada por eixos viários que partem da área central e por uma malha viária de conexão micro-regional, com eixos numerados de
A produção do serviço de transporte coletivo esta organizada, basicamente, em duas regiões geográficas operacionais. As regiões são operadas por duas empresas permissionárias do serviço, sendo a Transporte e Turismo Santo Antonio S.A. na região norte e Gidion Transporte e Turismo S.A. na região sul.
Figura 1: Itinerários da Transtusa Linha Norte-Sul
Linha: | [Norte] Norte/Sul |
Código: | 0200 |
Tipo: | Troncal |
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Origem: | Terminal Norte |
Destino: | Terminal Sul |
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Itinerários: | INICIO: Terminal João Colin, Rua Blumenau, Rua Henrique Meyer, Rua Nove de Marco, Av. Jucelino Kubitschek, Av. Getulio Vargas, Rua Santa Catarina; RETORNO: Terminal Vera Cruz, Rua Santa Catarina, entra na Praca Getulio Vargas, Rua Monsenhor Gercino, Rua São Paulo, Rua Ministro Calogeras, Av. Jucelino Kubitschek, Rua Dr. João Colin, Terminal João Colin. |
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Bairros: | América Centro Floresta |
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Extensão: | ida: |
A parada de ônibus atual
Na tentativa de preservar a cultura da colonização germânica, a cidade de Joinville tenta, ainda que de forma tímida, resgatar alguns elementos típicos. Além da moda, das artes, da música e da gastronomia, a arquitetura é mais uma forma de resgatar a história.
Através de referências arquitetônicas características da construção alemã os pontos de ônibus são feitos de alvenaria de tijolos aparentes e estrutura de madeira com telha cerâmica como cobertura. O estilo enxaimel aparece reinventado, apenas insinuado na mistura dos materiais.
Figura 2: Foto de ponto de ônibus local.
No entanto, a sinalização visual existente nesses pontos é muito precária. Primeiramente, porque não há informações importantes como: identificações legíveis das paradas, mapas da cidade, trajeto do ônibus, nome ou número das linhas, rotas, etc. Apenas uma pequena placa indica o número daquela parada e o nome da rua, porém a informação não é clara. O tamanho reduzido impede uma leitura eficiente, principalmente para um local onde a transmissão da informação é feita de forma rápida, de modo que o usuário selecione as informações relevantes e as processe imediatamente.
Além disso, o posicionamento da placa não é eficaz. Localizado ao lado da parada, impossibilita que seja lido pelos passageiros que transitam em velocidade, ou mesmo que estacionam em frente ao ponto. Agrava-se a isso o fato que o beiral da construção a esconde.
Graficamente duas linhas, uma vermelha acima do nome e outra verde abaixo, completam o layout. Porém, por estarem muito próximas dificultam sua legibilidade, que tende a aproximar-se do nome a medida que o pedestre se afasta. Também não se percebe nenhuma relação ou referência da escolha das cores.
Figura 3: Placa de identificação da parada.
Proposta de adaptação da sinalização
Segundo DONDIS (1997) emitir ou entender mensagens visuais são capacidades intrínsecas ao ser humano: dificuldades surgem quando há uso de sofisticação excessiva ou de simbolismos complexos.
A proposta de redesign dos elementos que compõem a sinalização das paradas de ônibus buscou-se a representação do relevante e visualmente essencial, sem perder a percepção do todo, afim de que o espectador seja capaz de compreender instantaneamente o fluxo lógico dos elementos da mensagem visual e apreender seu conteúdo.
Além disso, a Gestalt através dos conceitos de “boa forma” e as claras relações figura/ fundo, limites, encerramento, simplicidade e unidade, também torna-se o principal norte na orientação da construção dos elementos gráficos. Possibilita reconstruir o objeto - modelo gráfico - a partir dos modelos mentais. Baseando-se nesses princípios perceptivos, a proposta sugere o que se segue:
1. Adotar o amarelo, branco e preto, a fim de dialogar com as cores do ônibus, unificando todos os elementos que fazendo parte do sistema de transporte. A fonte utilizada é a Impact, para os grandes textos, que por ser uma fonte gotesca possui grande facilidade de comunicar à distância. A Arial é adotada para as informações dos mapas dos arredores, por ser sem serifa e fácil compreensão.
2. Uma testeira com o número da parada e o nome da rua, localizada na elevação frontal da parada com cerca de
3. Nas faces laterais o nome da rua é posicionado na vertical em grande formato, de modo a ser percebido tanto pelo pedestre como pelos motoristas. O número do ponto aparece em cima da alvenaria, em letra caixa. Os pilares de concreto são pintados de amarelo, remetendo a cor o transporte. As letras em branco contrastam com o tijolo aparente.
4. Completando a sinalização visual, um mapa da cidade localiza e instrui o pedestre sobre diversas informações. A partir da simplificação do traçado urbano e da utilização de vários pictogramas é possível identifica, por exemplo: localização da parada na cidade, identificação da rota, pontos de ônibus da ao longo do trajeto, a rota do ônibus, localização do Terminal, locais de referências, pontos de interesse turístico e áreas verdes.
Figura 4: Elevação frontal do ponto de ônibus
.
No caso do mapa criado, a simplificação das formas dos elementos visuais pretende facilitar a compreensão do usuário de forma mais rápida, eficiente e econômica, através dos pictogramas e símbolos ilustrativos.
Para RIBEIRO (1988) pictogramas constituem-se de uma imagem ou de um conjunto de imagens integrantes de uma escrita sintética: o aspecto da síntese é fundamental para expressar suas características e finalidades
Os sinais gráficos sugeridos assumem as características e transmitem o sentido do objeto real. O objetivo a ser alcançado são a leitura e a compreensão obtidas com o uso do menor esforço cognitivo possível por parte do observador e, conseqüentemente permitindo a maior rapidez possível de leitura, principalmente por uma pessoa analfabeta ou mesmo um estrangeiro, como confirma MASSIRONI (1982): o objetivo é transmitir informações essenciais a um grande número de pessoas de idiomas diferentes, mas com traços socioculturais comuns e a quem não é fornecido nenhum ensinamento para a decodificação das mensagens.
Figura 5: Mapa dos Arredores: adaptação a estrangeiros e analfabetos.
A Ergonomia Informacional é a área que lida com as questões de conforto e eficiência da transmissão de informações entre um meio de comunicação visual (como o mapa) e o indivíduo. Nesse sentido, uma situação de projeto deve permitir maior exploração dos aspectos ligados ao estudo da forma, não apenas em seus elementos estéticos, mas considerando sua função comunicativa no contexto onde estará inserida.
Por esse motivo procurou-se trabalhar a identidade visual completa do ponto de ônibus, sem interferir na construção, mas melhorando sua imagem como identidade de um artefato urbano e organizando os elementos gráficos que dele fazem parte, como: espaço publicitário, mapa e identificação, buscando-se uma configuração formal fundada na organização de seus atributos visuais.
Figura 6: vista lateral da parada de ônibus
Figura 7: Vista interna.
Conclusão
A essência de uma boa sinalização está na propriedade de sintetizar a informação, transmitindo-a de forma rápida. Isso porque o observador pode estar distante ou mesmo em movimento em relação a parada de ônibus. A mensagem deve ser clara e concisa. A atenção do observador deve ser conquistada, permitindo a interação imediata com o elemento.
Além disso, quando o usuário percebe um estudo mais cuidadoso sobre um bem público acaba por respeitá-lo, compreendendo sua função. No caso da parada de ônibus passa de um simples ponto a um patrimônio de todo cidadão.
Referências
MUNARI, Bruno. Design e Comunicação Visual. Editora Martins Fontes. São Paulo, 1997.
DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1991
MASSIRONI, Manfredo. Ver pelo desenho: aspectos técnicos, cognitivos e comunicativos. São Paulo: Martins Fontes, 1982.
RIBEIRO, Milton. Planejamento visual gráfico. Brasília: Linha Gráfica: 1987.
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