“Plano Diretor não é balcão de
negócios”,
alerta arquiteto
Em passagem por Londrina, um dos grandes nomes do urbanismo brasileiro em atividade, o arquiteto paulista Decio Tozzi alerta sobre o que chama de “balcão de negócios” em torno dos Planos Diretores país afora. Inovador e crítico, não perdoa cidades que constróem planos com fins meramente comerciais – e onde a população fica em segundo plano. O maior exemplo à mão é o de São Paulo, onde mantém seu estúdio. Ao JL, concedeu a seguinte entrevista:
JL - Por que no cenário de desenvolvimento econômico as cidades ainda ficam para trás e permanecem feias, degradadas, com espaços públicos desvalorizados?
Tozzi - Realmente as cidades explodiram com a população. As cidades não estão preparadas para suportar mais automóveis, mais gente, mais tudo. Equipamentos de infraestrutura para saúde, escola, transporte, serviços urbanos, enfim, tudo fica muito precário porque o grande número de pessoas assola o planejamento. As cidades não previram: apenas vieram a reboque do aumento das atividades econômicas. Oras, é preciso que o sistema municipal de planejamento preveja e antecipe problemas porque senão caminhamos para o caos. E o caos maior, mais visto, é o ambiental. Ocorre que a cidade é colocada como negócio e sendo assim, é sujeita à predação voraz. E o capital entrega mesmo: derruba árvores, casas antigas.... Imaginem: Londrina ainda tem muitas quadras com miolo verde. Cada vez mais esse arvoredo de fundo de quintal, tão agradável nos outros tempos, desaparece. Ninguém percebe que as árvores do quintal foram cortadas, e a cidade começa a ficar um deserto. A flora some. A fauna vai embora. E a nova fauna são os insetos, os ácaros, os fungos. Estamos criando ilhas de calor: segundo os geógrafos, núcleos onde toda a vegetação foi cortada entre o concreto e ao asfalto. E as ilhas de calor mudam o ambiente. O que causa é a verticalização? Ela pode ser feita, mas tomando os cuidados para que não se dizime o verde e o equilíbrio ambiental.
Quando se discute Plano Diretor, estão fundamentalmente presentes imobiliárias e construtoras, além de engenheiros e arquitetos... Como os moradores podem se apossar da cidade e não só os negócios?
Platão dizia o negócio como a negação do ócio. E a cidade deve ser concebida para o lazer, o convívio. Os que compram apartamentos estão ávidos por não serem expulsos. Moravam no chão e compram no 10º andar. Mas não percebem o processo perverso que a cidade como balcão de negócios pode gerar. Sou de São Paulo, cidade que já levou esse processo às últimas conseqüências. Lá é um deserto completo: temos ilhas de calor violentas e diferenças de 7 a 8 graus entre bairros com massa de prédios bairros sem verde. Imagine isso... A fauna se foi: o mais perto que se tem de um passarinho é o pingüim de geladeira. Cidades com até 200 mil pessoas ainda tem tempo de fazer um planejamento sem perder qualidades ambientais.
Contribuição de Sérgio Gollnick
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