20 de abril de 2012

Um pouco de historia (*)


O historiador romano Tito Lívio na sua obra Historia de Roma relata o nascimento, o crescimento, o esplendor e a queda do império romano. Um Maquiavel mais maduro e realista que aquele que escreveu O Príncipe acrescentou a obra de Tito Livio os seus comentários e a converteu numa obra de leitura obrigatória.

De toda a obra, um capítulo deveria merecer a atenção dos que insistem em defender tanto o maior numero de vereadores como o valor dos seus proventos. Os seus argumentos favoráveis tanto ao aumento, como ao valor deveriam ser analisados a partir do relato que Tito Lívio fez da experiência dos tribunos do povo.

Na Roma antiga, como no Brasil de outra época, os tribunos romanos, equivalentes, no âmbito local aos nossos vereadores, não eram remunerados. Exerciam a sua nobre função de forma gratuita. Eram eleitos pelas suas virtudes e pelos seus méritos. O seu cargo era o reconhecimento de uma vida exemplar e honesta. Com o tempo, novos ricos, gente de virtudes menor e interessada no poder e no reconhecimento que o cargo representava, passaram a buscar ser eleitos e passou a influir nas campanhas eleitorais. O que era uma escolha entre os melhores, se converteu em algo parecido ao que conhecemos hoje. As campanhas passaram a ter custos crescentes. O cargo de tribuno ainda era exercido de forma gratuita, sendo a única vantagem à honraria, à gloria e o poder que o tribuno exercia. Aos poucos as campanhas ficaram cada vez mais caras. Cada voto tinha que ser conquistado duramente e não era raro que fossem oferecidos presentes para convencer os eleitores a votar em um ou outro candidato.

A partir deste momento se estabeleceu uma remuneração para os tribunos romanos que conseguiam recuperar o investimento feito durante a campanha eleitoral. Finalmente na Roma de dois mil anos atrás as campanhas ficaram muito mais custosas a cada eleição, o resultado foi que o total da remuneração que o tribuno receberia ao longo de toda a legislatura passou a ser inferior ao custo da campanha eleitoral. Tito Lívio conseguiu a partir desta situação identificar o surgimento da corrupção de uma forma muito próxima a como hoje a conhecemos.

Como na Roma antiga, também hoje é inexplicável que alguém possa investir centenas de milhares de Reais numa campanha política, para receber uma remuneração muito menor que o custo total da campanha. É possível que haja candidatos que estejam dispostos a fazer este sacrifício pessoal, mas não era lógico na Roma antiga e continua sem parecê-lo hoje.

Um comentário:

  1. Ora Jordi, é um trabalho missionário ser um vereador, quase comparável ao de um frei capuchinho. Vemos vereadores acompanhando processos de licenciamento de obras junto a Prefeitura, na redução de multas dos indefesos, na obtenção de financiamentos e cargos a pobres mortais, na mudança de leis que ampliam o perímetro urbano e tragam vantagens aos coitados que vivem na clandestinidade. Enfim, é um trabalho que Deus paga. Todos nós deveríamos ser canonizados.

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