28 de julho de 2009

O Palido Ponto Azul


“Éramos caçadores e coletores.
A fronteira estava por toda parte.
Éramos limitados apenas pela Terra, pelo oceano e pelo céu.
A estrada aberta ainda nos chama suavemente.
O nosso pequeno globo terráqueo é o hospício dessas centenas de milhares de milhões de mundos.
Nós, que não conseguimos pôr ordem sequer em nosso planeta natal, dilacerado por rivalidades e ódios, vamos nos aventurar pelo espaço?
Quando estivermos preparados para colonizar sistemas planetários próximos, teremos mudado.
A simples passagem de tantas gerações nos terá mudado.
A necessidade nos terá mudado.
Somos uma espécie adaptável.
Não seremos nós que chegaremos à Alfa do Centauro e às demais estrelas próximas.
Será uma espécie muito parecida conosco, com mais virtudes e menos fraquezas que nós.
Mais segura, previdente, capaz e sensata.
Apesar de todos os nossos fracassos, a despeito de nossas limitações e falibilidades, somos capazes de grandeza.
Que novas maravilhas, jamais sonhadas em nossos tempos, teremos elaborado em mais uma geração? E em outra mais? Até onde nossa espécie nômade terá errado no final do próximo século? E do próximo milênio?
Nossos descendentes remotos, estabelecidos com segurança em muitos mundos pelo Sistema Solar e mais além, serão unidos pela sua herança comum, pela sua consideração para com o planeta natal e pelo conhecimento de que, sejam quais forem as outras formas de vida possíveis, os únicos seres humanos em todo o Universo vêm da Terra.
Erguerão e forçarão os olhos para descobrir o ponto azul no céu.
Ficarão maravilhados ao perceber como era outrora vulnerável o repositório de todo o nosso potencial, como foi perigosa a nossa infância, como foram humildes as nossas origens, quantos rios tivemos de cruzar antes de encontrar nosso caminho”.

- Carl Sagan, “Pálido Ponto Azul

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