3 de fevereiro de 2012

Elogio a Feiúra




"se você ainda tem olhos para enxergar feiúras no seu suposto amado, se tem cabeça para lhe descobrir defeitos, é porque não ama." (Rachel de Queiroz).

Estamos de novo às voltas com a forma de olhar a nossa cidade.

É incompatível enxergar a feiúra e mediocridade que toma conta dela, com o sentimento de amor e pertencia?

O amor por Joinville, deve nos cegar ao ponto de não poder mais enxergar a realidade? Ou ao enxergar a realidade, não podemos continuar amando a cidade?

A Joinville que forma parte do nosso imaginário, é uma cidade possível? Ou ela esta irremediavelmente perdida? A construção desta nova Joinville, implicava obrigatoriamente a destruição dos valores e virtudes da Joinville que permanece como modelo e referencia?

A cidade que teima em sobreviver no imaginário coletivo é compatível, com a os novos valores que hoje regem a nossa sociedade? Ou definitivamente este é o modelo de cidade que melhor representa os nossos desejos e anseios?

Se for, porque insistir em buscar um modelo impossível de cidade limpa, ordeira, segura e solidária? Se ela não representaria mais a sociedade que nela hoje vive e trabalha? E se a sociedade, você, eu, cada um de nós, não se sente identificado, nem satisfeito, com este processo de desqualificação e desconstrução desta Joinville recente, porque não se manifesta?

Porque aceitar pacificamente que as referencias urbanas e históricas sejam conscientemente destruídas, para que surja uma cidade feia, amorfa, sem identidade, despersonalizada, sem outros referentes que as marcas de cada nova trapalhada. Uma cidade suja e menos humana, em que todos seremos estranhos e que nos será aléia?

Nada acontece por acidente ou ao acaso, esta Joinville que surge frente aos nossos olhos é a cidade que estamos fazendo juntos. Com a participação de uns e a omissão de uma maioria, que protesta e reclama, no conforto do seu lar e que evita tomar partido abertamente. Que prefere não se posicionar. E que quando o faça, se o fizer, já será tarde demais.

Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC

Um comentário:

  1. Certo dia, e já faz muito tempo, afirmei numa palestra na ACIJ , que havia uma cultura muito ruim na cidade, a de jogar o lixo no terreno do vizinho e depois, denunciá-lo, lavando as mãos. neste mesmo dia, falei que havia um balcão de negócios na Secretaria a qual havia assumido a pasta fazia poucos dias, e que iria fechá-lo. Este balcão atendia "investidores" ou "empreendedores" dos mangues, nas bordas podres da cidade, no 13o. andar (só podia ser construído 12) e outras coisinha mais. Não citei os negociadores, mas eles logo se apresentaram. Ganhei uma página de insultos no jornal assinado por um deles. Não ouve tempo para fazer a faxina, eles eram fortes demais para serem derrubados. Hoje, estes mesmos "emprendedores" querem terras rurais, áreas de risco, baratas, para produzirem as mesmas porcarias do passado e fazer com que os cidadãos paguem por estas porcarias. O pior é que aparecem embaixadores destes canibais urbanos, com mandato, e por isto julgam-se deuses que não devem a ninguém uma explicações lógicas dos absurdos que propõe. A feiura nem sempre é o que vemos, mas certamente tem haver com o que somos. Como diz o ditado popular: "não existe mulher feia, existe mulher mal tratada".

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