23 de fevereiro de 2012

Os dois infernos (*)


Os dois infernos

A idéia que empresas públicas possam ser eficientes se me faz cada dia mais difícil de aceitar. A mistura de politicagem, legislação e incompetência formam um tripé formidável. Seria precisa uma tribo completa de heróis ou semideuses para se enfrentar e vencer a força inesgotável da burocracia. Imaginar que na nossa realidade o transporte público, a tratamento do esgoto, a recolhida do lixo e dezenas de outros serviços públicos possam ser mais bem prestados por empresas publicas eficientes, enxutas e focadas na busca de resultados é algo tão alucinante como os melhores filmes de ciência ficção em 3D.  Tampouco a maquina publica esta orientada e comprometida com a melhoria da eficiência, a redução de custos e o aumento da produtividade. As estruturas públicas se convertem num fim nelas mesmas. Preocupadas quase que exclusivamente em garantir a sua perenização e em criar a maior rede de proteção social e laboral que o dinheiro público possa pagar, até a exaustão das arcas publicas e a inviabilidade do modelo. O mesmo se repete de norte a sul do globo, de Europa e África do Sul, da Ásia a América meridional.

Se bem é verdade que não é uma exclusividade nacional, estamos desenvolvendo as técnicas mais avançadas neste campo, as nossas Câmara de vereadores, as nossas prefeituras e até o nosso judiciário criam a cada dia novas benesses, vantagens e sinecuras que só servem para empregar ou atender apaniguados e drenar a velocidade e com intensidade cada vez maior os recursos públicos.

A fabula que melhor mostra esta realidade é a dos dois infernos. Neste historia dois amigos falecem repentinamente com pouca diferença de tempo e ao chegar à porta do céu, são informados que o seu lugar é o inferno. Ao chegar lá, Lúcifer os estava esperando ansiosamente e lhes propõe a opção de escolher entre os vários tipos e opções que o inferno oferece, desde o inferno alemão, ao japonês, passando pelo brasileiro. Depois de explicar detalhadamente que o velho sistema de fogo e calor tinha sido substituído por um modelo mais sustentável e de menor consumo energético, que consiste em que cada hospede recebe religiosamente um balde de esterco fresco na cabeça duas vezes por dia, uma pela manha e a outra pela tarde. Os dois amigos preferem em função das suas origens étnicas escolher infernos diferentes, o de olhos azuis escolheu o inferno alemão, o outro preferiu o inferno brasileiro. Passados alguns anos e para promover o intercambio de tecnologias e de conhecimentos entre os diversos modelos de infernos e poder avaliar o seu efeito sócio educativo se organizou um congresso reunindo todos os infernos. Os dois amigos se reencontram na fila para fazer as suas inscrições para o congresso e enquanto o que tinha escolhido o inferno alemão emitia um fedor e apresentava um estado geral lamentável, aquele que escolheu o inferno brasileiro estava alinhadíssimo com o seu terno de linho cru e estava pulcramente vestido e perfumado. O primeiro protesto com veemência frente a evidente discriminação e escutou do amigo, que de fato os dois infernos seguem o mesmo ritual, dos baldes diários de esterco fresco por hospede e dia. Só que no seu caso, mesmo depois de tantos anos, ainda não tinha recebido o primeiro. Porque o dia que tinha balde, não tinha esterco, quando tinha esterco e balde faltava o responsável pelo trabalho e esta situação se prolongava por anos a fio.

E fácil pressupor que a fabula pode ser adaptada a maioria de serviços públicos e retrata bem a situação de boa parte de nossos serviços e repartições publicas.  

Um comentário:

  1. Também não acredito no Brasil em empresa pública, que hoje acaba sendo cabide de emprego, baixa produtividade. Não acredito em empresas privadas atendendo a área pública, pois para estas participarem acabam precisando propinar e ficar a mercê dos que estão no poder.
    Acredito sim que precisamos urgente fazer campanhas para informar que ser honesto, estudar, respeitar e trabalhar podemos nos tornar bons políticos e empresários.
    Antes que 100% da população acreditem que o errado é certo. E olha que estamos muito próximos disto.

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