Os motoristas
Num jantar recente, fui sabatinado duramente por um grupo de motoristas. A conversa serviu para descobrir duas coisas: a primeira, que este espaço supera largamente a uma dúzia de leitores, e já estamos chegando a dúzia e meia, o que é significativo. E ainda que estes leitores lembrem de textos escritos havia mais de 60 dias prova, entre outras coisas, que estão providos de memória excepcional.
A segunda, e mais importante, é de que um grupo significativo da nossa sociedade, quase dois de cada quatro joinvilenses se sentem discriminados e marginalizados pelos textos e iniciativas que defendem a ciclistas e pedestres. O que acabaria deturpando a imagem dos motoristas: os apresentam como vilãos, papel em que não se encaixam, afinal, eles também se consideram vítimas.
Com uma média de 33 automóveis novos emplacados a cada dia neste ano, a frota de veículos já supera o bom senso, Joinville tem se convertido numa armadilha para os amantes dos carros. Símbolo indiscutível do nosso século, monumento a liberdade de ir e vir, rompedor de limites e fronteiras, o automóvel paga o preço do seu sucesso.
Numa cidade com um perfil industrial, os amantes da tecnologia mecânica, da potência e da velocidade representam uma parcela significativa da sociedade. São amantes da potência feita poesia, apreciadores da música contida nos mais de 300 cavalos de alguns motores, ou movidos pela adrenalina da velocidade, do cheiro de pneu queimado ou de gasolina de alta octanagem. Hoje são obrigados a perambular como zumbis, desenvolvendo velocidade de carroça, ultrapassados por pedestres, com velocidades médias maiores e humilhados por maratonistas, que conseguem fazer o mesmo percorrido, num tempo muito menor.
Eles têm razão na sua frustração, foram iludidos por modelos urbanos, que tendo Brasília como referência, priorizaram o veículo. Acreditaram na armadilha de veículos com mais tecnologia, melhores e mais modernos. O acesso a financiamentos mais longos foi o tiro de misericórdia. As ruas desapareceram. Sem ruas para circular, nem lugar para estacionar, os motoristas passam dias a fio a limpar e polir as formas sensuais dos novos modelos, sem espaços adequados, os modernos cavaleiros do asfalto, preparam seus veículos para uma época que não deve voltar. Condenando motoristas e veículos a virar estatuas vivas nos museus ao ar livre, em que estamos convertendo nossas cidades.
Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC
Pedro Alvares descobriu o caminho que colonizou o Brasil.
ResponderExcluirJK e o modelo de palnejamento pós 64 abriu espaço para a colonização do espaço urbano das cidades brasileiras aos veiculos individuais.
Nós somos apenas resultado do processo.
O individual que se estabeleça, o coletivo que se dane!
Planejamento Urbano ou a cidade do futuro é uma bela utopia?
A soma dos individualismos só gera o caos. Para viver em sociedade, num mundo urbanizado,o coletivo deve ser priorizado.
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