3 de maio de 2009

A identidade das empresas de Joinville

O texto do jornalista Claudio Loetz, publicado na sua coluna de domingo no jornal A Noticia, merece ser guardado e utilizado como material de estudo e analise.


EMPRESAS GLOBAIS, IDENTIDADE LOCAL

O crescimento econômico e o processo de globalização, características do capitalismo das últimas décadas, resultam em mudanças de perfil de gestão de companhias tradicionais em todos os lugares. Em Joinville, não é diferente. A industrialização, iniciada no País nos anos 50 do século passado, no pós-Segunda Guerra, impulsionou a expansão dos negócios.

Na mais industrializada das cidades catarinenses, Tigre (plásticos) e Tupy (metalúrgica) garantiram expansão em suas trajetórias já naquela década. As têxteis Döhler, Lepper, Lumière e Arp se destacavam nos anos 60 e 70. O ex-prefeito Wittich Freitag fundou a Consul ainda nos anos 50 e, nos anos 70, criou a Embraco. A Lumière e a Arp morreram. No espaço da Lumière há uma universidade com matriz no interior paulista (Anhanguera); no da Arp, um shopping center (Cidade das Flores, no Centro de Joinville).

Digo isto para evoluir aos dias de hoje: são poucas as empresas joinvilenses de maior porte que continuam com controle e gestão locais, com administração familiar e efetivamente integradas à vida comunitária.

O último episódio a revelar o que ocorre no mundo global é a troca de comando na Embraco, na terça-feira passada. A vinda do executivo João Carlos Brega, do México, indica exatamente isso: a administração é dos controladores, e os executivos são mandados para qualquer lugar do mundo.

Os fundos de pensão (Previ à frente) já tocam a Tupy desde os anos 90. Foi em 1995 que a família Schmidt vendeu a empresa, porque não tinha mais condições de torná-la competitiva.

A Consul e a Embraco tornaram-se Whirlpool, sediada nos Estados Unidos. Atualmente, Consul é uma marca de geladeira e condicionadores de ar na memória do consumidor; a Embraco passa à condição de fábrica de uma corporação global. Aqui, na província, não se decide mais nada de estratégico.

A Tigre, sob gestão profissionalizada desde 1995, criou conselho de administração, trouxe executivos de fora e se reinventou. Recuperou fatias de mercado, após as incertezas causadas pela disputa pelo controle travada por irmãos, num lance totalmente vencido. Isso já faz 14 anos. Negócios à parte, o mérito da Tigre é ter se mantido ligada à comunidade, via Instituto Carlos Roberto Hansen. E, mais recentemente, com o apelo do esporte, com o patrocínio do time de vôlei masculino.

Os nomes mais representativos do empresariado local e vinculados às indústrias são poucos. E os mesmos de anos atrás. Ainda agora, Udo Döhler, que dirige a empresa familiar centenária, também preside, pela quarta vez, a influente Associação Empresarial de Joinville (Acij).

Já tivemos José Henrique Carneiro de Loyola (Lepper), que foi senador e vice-prefeito. O atual presidente da Celesc, Sérgio Alves, já foi executivo na Lepper. Dirigiu, também, a Corretora Manchester, que, há algum tempo, pertence à XP Investimentos. Alves também passou pela presidência da Acij e comandou a Secretaria da Fazenda.

Mais: a metalúrgica Schulz, comandada pelo experiente Ovandi Rosenstock, incorporou métodos administrativos inovadores e, no rastro da expansão da indústria automobilística dos últimos cinco anos, ganhou o mundo.

Muito importante também é a Ciser (H. Carlos Schneider), que, sob o comando do discreto e eficiente Carlos Rodolfo Schneider, é líder latino-americana em produção de fixadores (porcas e parafusos). À típica gestão familiar austera, nascida no século passado, foram adicionados e aprimorados na atual geração processos que resultam em ganhos de produtividade.

A exemplo das demais companhias citadas, a Ciser caminha para ter atuação cada vez mais global, de olhos no longo prazo. Sempre respeitando as peculiaridades de mercado e de suas contingências, derivadas de crises estruturais, como a que vivenciamos. A lembrar: Schneider dirigiu a Celesc na primeira gestão de Luiz Henrique da Silveira como governador. E, a partir do próximo mês, sucederá Udo Döhler na Acij.

Ainda no setor metalúrgico, a Wetzel ganhou maior importância nos últimos sete ou oito anos. O retorno de Norberto Cubas da Silva à direção (depois de um período turbulento, quando o falecido Rodolfo Bertola comandou a operação) fez bem aos negócios. Auxiliado pela maré favorável da atividade no mundo, fechou negociações bem sucedidas com o Fisco no trato de dívidas. E mudou a sede, do Centro da cidade, para o Perini Business Park, na área industrial, em busca de crescimento.

A contemporânea área de tecnologia de informação também passou por mudanças essenciais em Joinville. A Datasul, criada por Miguel Abuhab em 1978-79, encorpou-se com a política protecionista para o segmento de desenvolvedores de softwares, colocada em prática pelo governo de José Sarney na segunda metade dos anos 80.

Não por coincidência, Luiz Henrique era o ministro da Ciência e Tecnologia naquele período e auxiliou as companhias brasileiras a se protegerem da concorrência mundial. No ano passado, a Datasul foi incorporada. Como a Logocenter também já tinha sido. Agora, pertence à poderosa Totvs. Resta a Joinville a sorte de ter Abuhab, que, sempre empreendedor, coloca a Neogrid igualmente do ramo de tecnologia de informação, num patamar mundial, com clientes e negócios em muitos países.

Ainda a destacar o Laboratório Catarinense, dirigido por Nei Silva, numa administração familiar que valoriza o investimento em pesquisa e detém alguns dos mais conhecidos medicamentos vendidos em farmácias: Melagrião e Catuama.

Não dá para falar de pioneirismo sem pronunciar o nome de Harold Nielson, o criador da Carrocerias Nielson (hoje Busscar Ônibus). A morte prematura, em acidente aéreo, do empresário rígido e disciplinado, que tudo fazia para atingir metas e desenvolver o negócio, trouxe apreensão.

A empresa, que tem tecnologia de alta qualidade e é reconhecida internacionalmente por isso, está às voltas com delicada situação financeira. O filho, Cláudio Nielson, lidera o processo de ressurgimento. Superado embate familiar, travado há alguns anos, e as dúvidas do mercado sobre o futuro, precisa de dinheiro para o curto prazo. E, assim, atender a um mercado desejoso pelos seus ônibus. A empresa também deve cumprir acordo de pagamento de débitos feito com credores, em 2003. Joinville e mundo ainda vão rodar para frente em veículos da Busscar.

A importante área de materiais de construção também foi afetada pelas mudanças do capitalismo. E não só mexeu com a Tigre, como já vimos. A Akros acabou quando a multinacional Amanco (grupo Nueva) a comprou, em 1999-2000. Hoje, a Amanco pertence ao grupo Mexichem. Em Joinville, sobraram fábricas, e não mais o processo decisório.

Uma importante e tradicionalíssima fabricante de materiais de construção da cidade mantém-se familiar. É a Docol, sob a liderança de Ingo Doubrawa, que soube se cercar de executivos de ponta para crescer. Produtora de materiais sanitários, resiste e se torna referência quando o assunto são itens economizadores de água. Nada mais atual, na era da sustentabilidade. Até porque é pela água que os homens vão travar a próxima grande guerra.

Esqueci algum nome essencial? Se esqueci, desculpem.

Um comentário:

  1. ..................................pois eu acho que até esqueceu; além de ser também uma empresa antiga, embora antigamente sucursal da Catarinense, é bastante sólida e dirigida por um empresário de ponta, creio eu, alguém que vai despontar cada vez mais no cenário joinvillense, haja vista a diversidade dos negócios
    (sempre bons e lucrativos); é a Incasa/ Jet Bus / Opa Bier ? etc....etc....e o Vica Weege tem uma visão e uma estrela incríveis......esqueci alguém? se esqueci, desculpe, rs

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