“Não acho correto. Mas também não acho crime um deputado dar uma passagem para um dirigente sindical ir a Brasília. Eu, quando era deputado em Brasília, muitas vezes convoquei dirigentes da CUT, de centrais para se reunir com passagens do meu gabinete. Graças a Deus nunca levei nenhum filho meu para Europa. Acho que um deputado levar a mulher para Brasília, qual é o crime?”
O site do jornal A Noticia divulgou (acima) a infeliz declaração do presidente Lula, ao mesmo tempo em que expõe de uma forma real e direta a grave situação em que se encontra a ética e o bom senso. Quando a sociedade, representada pelos seus políticos, que a rigor representam o País, não consegue separar mais o certo do errado, perde a capacidade de discernimento mais elementar.
Estamos às portas de uma crise de valores. O presidente não percebe que há crime, de que não haveria se ele quando deputado pagasse a passagem dos dirigentes da CUT do seu salário. Faze-lo com o dinheiro do contribuinte é crime. Que não houvesse controle, como parece que continua sem ter, não justifica o erro.
Penso que na medida em que a mesma situação se repete em maior ou menor escala em todos os Estados e municípios do País, transpusemos a porta para entrar na sala. Em quaisquer uma das esferas federativas que olhemos é possível identificar não um caso isolado e sim centenas de situações que já se tornam corriqueiros de mau uso do dinheiro público.
O escândalo das passagens, amplamente noticiado é o desta semana, e não fica restringido a Brasília. Nos Estados, é comum que deputados, além de viajar em primeira classe em viagens internacionais, levem também mulher e filhos em missões, pagas as despesas com dinheiro público.
Cabe lembrar que mulher e filho não são funcionários públicos e não viajam por tanto a serviço. Podem sempre acompanhar o deputado, desde que custeando integralmente todas as despesas, com os seus recursos próprios, aliás os salários e benefícios que recebem permitem que assumam estes custos.
A Câmara de Vereadores de Joinville mostra dificuldades em achar o prumo. O distanciamento da sociedade que representa e que a elegeu é cada vez maior. O episodio do aluguel dos carros vem se somar ao valor da verba de gabinete, a criação de mais cargos comissionados e outras ações que pela freqüência com que se produzem já começam a formar parte do nosso cotidiano.
O grave desta situação é a sensação que nada tem de errado, que é normal, que sempre foi assim e que um erro justifica outro. No caso da nossa Câmara, resta ainda um fio de esperança. Pela forma sigilosa e sorrateira como conduziu o tema do aluguel da nova frota de veículos, evidenciou que sabia que estava errada e que a população não aceitaria esta nova afronta. Existe ainda o discernimento do que é o certo e o errado. O próprio presidente num momento de lucidez afirma timidamente, “Não acho correto”.
Publicado no Jornal A Noticia
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