31 de março de 2012

Pobre cidade rica


Pobre cidade rica

De tanto escutar que a prefeitura não tem dinheiro para nada. Que nenhuma obra pública importante pode ser levada adiante pela falta de recursos para fazer as desapropriações necessárias. Que a capacidade de endividamento da nossa cidade esta comprometida, que é preciso arrecadar ainda mais, confesso que quase acreditei.

Cada vez que o prefeito começa com a cantilena a minha primeira iniciativa era por a mão no bolso e ver se tinha uns trocados para oferecer. Porque o discurso é quase um discurso de pedinte. Daquele que já não tem mais credito e ficou sem dinheiro até para comprar o pão e o leite. Situação constrangedora para a cidade que insiste em se apresentar como a maior de Santa Catarina, a terceira maior economia do sul do Brasil, a Manchester Catarinense e por aí afora. Bater no peito e estar quebrado é uma situação para envergonhar a quaisquer um. Se não morasse aqui, diria que me produz vergonha aleia esta situação de extrema penúria.

Mas surgem dados que mostram que Joinville é sim uma cidade rica, que o seu orçamento é maior que o de muitas cidades de porte e população semelhante, que o que aqui se arrecada graças à pujança da nossa economia é significativo e deveria nos permitir estar numa situação mais confortável. O jornalista Jefferson Saavedra do jornal A Noticia informa que: “A receita de R$ 1 bilhão apurada em 2011 fica acima da media de municípios do mesmo porte. Londrina fechou com R$ 840 milhões e Juiz de Fora, também com 520 mil habitantes como Joinville, teve receita de R$ 830 milhões. Com população um pouco menor, Caxias do Sul teve R$ 962 milhões à disposição no ano passado. Uberlândia atingiu R$ 1,1 bilhão, mas têm 90 mil moradores a mais do que Joinville. As cidades com receitas bilionárias no interior paulista, na faixa do R$ 1,3 bilhão registrado no ano passado, como Sorocaba e Ribeirão Preto, já passaram dos 600 mil habitantes.”

O problema deverá neste caso ser encarado desde outra perspectiva. A da própria administração que se faz dos recursos públicos. O prefeito Carlito Merss divulgou nestes dias que o gasto em saúde aumentou dos 15% exigidos por lei para os atuais 32%, bem mais que os 26% da gestão anterior. Se gastar muito é um indicador bom, eu fico mais preocupado, pode ser que esta forma de avaliação tenha nos trazido até a situação atual. Os administradores defendem que se gaste bem e não que se gaste muito. Se a saúde municipal não estivesse vivendo uma situação de crise permanente até poderíamos encontrar quem concordasse com que o aumento é um bom indicador. O próprio peso da folha, do pagamento de juros e do principal da divida representa um peso significativo no orçamento do município e drena os recursos necessários, não só para a manutenção e recuperação do deteriorado patrimônio público, também para novos investimentos. Hoje é provável que uma analise mais criteriosa destes dados mostre indicadores elevados de desperdício, gasto excessivo e má administração. 

Vivemos numa pobre cidade rica e pagamos o preço por isso.


Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC

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