21 de setembro de 2011

Navegar é preciso

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:

"Navegar é preciso; viver não é preciso".

Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.


"Navigare necesse; vivere non est necesse" - latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu]


“NAVEGAR É PRECISO; VIVER...*

“A ORDEM de abandonar o navio foi dada... desnecessária, porque àquela altura todos sabiam que o navio estava condenado e já era hora de desistir de tentar salvá-lo. Não houve demonstração de medo e apreensão. Lutaram incessantemente e haviam sido batidos. Aceitaram sua derrota apáticos, estavam simplesmente cansados demais para se incomodar.”¹

Os detalhes acima são do naufrágio do navio “Endurence” que pela pressão do gelo naufragou no Mar de Wendell, na Antártica em 1915. O “Endurence” foi planejado e construído para navegar em condições polares, mas afundou a 400 km da Ilha de Joinville, e longe de seu objetivo. O que poderia ser considerado uma derrota e morte certa pelas condições climáticas (frio intenso e ventos como furacões) e um dos mares mais perigosos do planeta, foi transformado numa incrível aventura e que resgatou com vida todos os 28 membros da expedição.

Não vou abandonar o barco, quer dizer a cidade, apesar de pressões gélidas dos que sempre criticaram e agora não aceitam outras formas, que não as suas em conduzir realidades coletivas. Afirmam que nossa nau não fazer água e os ratos são apenas fruto de imaginação. As desculpas que impedem nossos avanços em investimentos generalizados a todos os setores são creditados nas banquisas de gestões anteriores.

É neste embate que “penetramos num labirinto de dificuldade e contradições. Vemos as mesmas coisas, o mundo é aquilo que vemos?”² Ao que parece estamos num jogo de posições relativistas, cheias de revanchismos e invejas, que conforme a posição do observador vê claro um ou no máximo três lados do cubo, ficando seus cinco lados em completa escuridão ao conhecimento, em alusão a kantiana “Teoria do Abschattungen.”³

O debate proposto apenas pelo viés ufanista ou crítico, não irá representar avanço em rumos seguros e melhores, pois está lhe faltando o caráter propositivo no campo das idéias e ações necessárias na solução de uma cidade sustentável. “Se sabe navegar, o planejador urbano (em conjunto com políticos e sociedade civil, grifo nosso) poderá levar a cidade ao porto seguro de seu destino coletivo. Depois de compor seus objetivos com as forças sociais, políticas, econômicas e ambientais que decidem o destino humano das cidades.” 4 Estamos esperando o convite do comandante de nosso navio para essa incrível viagem!

Arno Kumlehn
Arquiteto Urbanista

APOIO BIBLIOGRÁFICO
* Fernando Pessoa
1. Lansing, Alfred – A Incrível Viagem de Shackleton – JOSÉ OLYMPIO 1995
2. Merleau-Ponty, Maurice – O Visível e o Invisível – PERSPECTIVA 1971
3. Kant, Immanuel – Crítica a Razão Pura – Marin Claret 2009
4. Alva, Eduardo N. – Planejamento Urbano Participativo – IICM 1989

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