A frase, atribuída ao
ex-presidente norte-americano Bill Clinton, foi cunhada por seu chefe de
campanha, James Carville. A mensagem era clara e direta: o importante para os
eleitores é a economia. Se a economia vai bem, os seus empregos estão
assegurados, a arrecadação de impostos aumenta pela maior movimentação da
economia e se gera prosperidade. Hoje, quando o mundo atravessa uma crise de
proporções difíceis de mensurar, ela continua mais atual que nunca.
O debate sobre o aumento do número
de vereadores em Joinville é político. É a oportunidade que a sociedade tem
para pensar globalmente e agir localmente. Bombardeada um dia sim e outro
também pelos abusos que acontecem na longínqua Brasília, ou pelos que sucedem
na Capital do Estado, o eleitor médio se sente impotente para deter não só a
gastança irresponsável de recursos públicos, mas principalmente para se vingar
do deboche com que a casta política ri dos cidadãos. Gente como você e como eu,
que paga seus impostos, cumpre seus compromissos e vê que a cada mês tem menos
dias no seu salário. E que, apesar do trabalho árduo, o dinheiro não chega e os
serviços públicos custeados com a pesada carga tributaria são cada dia piores,
quando não inexistentes.
O sentimento de raiva, resultado
da impotência, materializa-se hoje num movimento de protesto contra a
possibilidade que se aumente o número de vereadores. Nas enquetes realizadas
por jornais e sites, o percentual de manifestações contrárias ao aumento de vagas
oscila entre 85% e 92%, números tão expressivos que dificilmente podem ser
ignorados. Os defensores do aumento do número de vereadores evitam a todo custo
enfrentar uma sociedade que cansou de carros alugados, de assessores
parlamentares em excesso (alguns até fantasmas) e diárias para cursos de
aprimoramento em balneários e resorts do Nordeste brasileiro.
O discurso de uma melhor
representatividade não tem eco. A própria Câmara, para convencer a sociedade de
que seria adequado aumentar para 25 vereadores, propõe um pacote de corte de
despesas, focando o debate na redução de gastos, que a bem da verdade já
deveria ter sido levada a cabo se a administração da nossa casa de leis
aplicasse os mais elementares critérios de economicidade. O que nasceu como um
grito de revolta está se convertendo num movimento organizado, ao que se soma a
cada dia mais e mais gente comum, que sente que pode, sim, fazer ouvir a sua
voz e que se manifesta cada vez com maior intensidade e veemência contra o que
considera um abuso e um desatino.
É normal que no meio do caminho
surjam os Calabares de plantão. Entidades que se posicionaram contrariamente,
num primeiro momento, agora afinam a voz, ajustam o discurso e passam a
sensação de que podem passar a aceitar conversar sobre o aumento de vagas se a
Câmara provar que isto não implicaria aumento de gastos - como se isso fosse
possível na vida real. Quem defende mais vagas esquece e quer que ignoremos que
o orçamento do Legislativo local tem crescido ano após ano, mesmo mantendo o atual
número de vereadores. E que a Câmara tem acumulado sobras significativas.
Aceitar um pequeno aumento, por menor que seja, seria como aceitar que fosse
possível uma pequena gravidez ou um pequeno estupro.
O Estado - e o Legislativo, nos
seus três níveis, é um dos seus pilares - tem se convertido num ogro
insaciável, que devora a cada ano uma quantidade maior de recursos públicos. Na
Europa, o modelo já se esgotou. E, entre a incredulidade de uns e o estupor de
outros, salários de funcionários públicos são reduzidos. Lá, deputados e
senadores já custam menos que aqui e só a permanente vigilância de uma
sociedade atuante consegue deter o seu avanço sobre os recursos finitos. A
redução do custo da máquina pública permitiria que mais recursos sejam destinados
para onde são mais necessários, como educação, saúde ou manutenção e
aprimoramento da infraestrutura pública.
A própria Câmara já o entendeu
qual é o ponto da discussão. E pretende convencer a sociedade que conseguiria
viabilizar o aumento de vagas entregando alguns anéis de pouco valor, como uma
redução temporária do número de carros ou o corte de alguns assessores - nada
que depois não possa ser novamente contratado e voltemos ao patamar de gastos
atuais. É o momento dos legisladores mostrarem sensibilidade e grandeza de
espírito. A história está lhes oferecendo a oportunidade de escrever uma parte
dela. A eles corresponde a decisão de deixar sua marca com honra e orgulho. E
de serem reconhecidos como legisladores responsáveis ou como pusilânimes e venais.
Parafraseando Bill Clinton e James
Carville, é necessário repetir à exaustão: o debate sobre o número de
vereadores "é sobre a economia, estúpido!"
Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC
Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC
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