25 de setembro de 2011

É a economia, estúpido !


A frase, atribuída ao ex-presidente norte-americano Bill Clinton, foi cunhada por seu chefe de campanha, James Carville. A mensagem era clara e direta: o importante para os eleitores é a economia. Se a economia vai bem, os seus empregos estão assegurados, a arrecadação de impostos aumenta pela maior movimentação da economia e se gera prosperidade. Hoje, quando o mundo atravessa uma crise de proporções difíceis de mensurar, ela continua mais atual que nunca.

O debate sobre o aumento do número de vereadores em Joinville é político. É a oportunidade que a sociedade tem para pensar globalmente e agir localmente. Bombardeada um dia sim e outro também pelos abusos que acontecem na longínqua Brasília, ou pelos que sucedem na Capital do Estado, o eleitor médio se sente impotente para deter não só a gastança irresponsável de recursos públicos, mas principalmente para se vingar do deboche com que a casta política ri dos cidadãos. Gente como você e como eu, que paga seus impostos, cumpre seus compromissos e vê que a cada mês tem menos dias no seu salário. E que, apesar do trabalho árduo, o dinheiro não chega e os serviços públicos custeados com a pesada carga tributaria são cada dia piores, quando não inexistentes.

O sentimento de raiva, resultado da impotência, materializa-se hoje num movimento de protesto contra a possibilidade que se aumente o número de vereadores. Nas enquetes realizadas por jornais e sites, o percentual de manifestações contrárias ao aumento de vagas oscila entre 85% e 92%, números tão expressivos que dificilmente podem ser ignorados. Os defensores do aumento do número de vereadores evitam a todo custo enfrentar uma sociedade que cansou de carros alugados, de assessores parlamentares em excesso (alguns até fantasmas) e diárias para cursos de aprimoramento em balneários e resorts do Nordeste brasileiro.

O discurso de uma melhor representatividade não tem eco. A própria Câmara, para convencer a sociedade de que seria adequado aumentar para 25 vereadores, propõe um pacote de corte de despesas, focando o debate na redução de gastos, que a bem da verdade já deveria ter sido levada a cabo se a administração da nossa casa de leis aplicasse os mais elementares critérios de economicidade. O que nasceu como um grito de revolta está se convertendo num movimento organizado, ao que se soma a cada dia mais e mais gente comum, que sente que pode, sim, fazer ouvir a sua voz e que se manifesta cada vez com maior intensidade e veemência contra o que considera um abuso e um desatino.

É normal que no meio do caminho surjam os Calabares de plantão. Entidades que se posicionaram contrariamente, num primeiro momento, agora afinam a voz, ajustam o discurso e passam a sensação de que podem passar a aceitar conversar sobre o aumento de vagas se a Câmara provar que isto não implicaria aumento de gastos - como se isso fosse possível na vida real. Quem defende mais vagas esquece e quer que ignoremos que o orçamento do Legislativo local tem crescido ano após ano, mesmo mantendo o atual número de vereadores. E que a Câmara tem acumulado sobras significativas. Aceitar um pequeno aumento, por menor que seja, seria como aceitar que fosse possível uma pequena gravidez ou um pequeno estupro.

O Estado - e o Legislativo, nos seus três níveis, é um dos seus pilares - tem se convertido num ogro insaciável, que devora a cada ano uma quantidade maior de recursos públicos. Na Europa, o modelo já se esgotou. E, entre a incredulidade de uns e o estupor de outros, salários de funcionários públicos são reduzidos. Lá, deputados e senadores já custam menos que aqui e só a permanente vigilância de uma sociedade atuante consegue deter o seu avanço sobre os recursos finitos. A redução do custo da máquina pública permitiria que mais recursos sejam destinados para onde são mais necessários, como educação, saúde ou manutenção e aprimoramento da infraestrutura pública.

A própria Câmara já o entendeu qual é o ponto da discussão. E pretende convencer a sociedade que conseguiria viabilizar o aumento de vagas entregando alguns anéis de pouco valor, como uma redução temporária do número de carros ou o corte de alguns assessores - nada que depois não possa ser novamente contratado e voltemos ao patamar de gastos atuais. É o momento dos legisladores mostrarem sensibilidade e grandeza de espírito. A história está lhes oferecendo a oportunidade de escrever uma parte dela. A eles corresponde a decisão de deixar sua marca com honra e orgulho. E de serem reconhecidos como legisladores responsáveis ou como pusilânimes e venais.

Parafraseando Bill Clinton e James Carville, é necessário repetir à exaustão: o debate sobre o número de vereadores "é sobre a economia, estúpido!" 


Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC

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