25 de setembro de 2011

Amor impossível


Amor impossível


Mesmo sabendo desde o primeiro momento que não tinha como dar certo, não tinha como não ficar profunda e intensamente apaixonado. Quando cheguei, ela já estava lá, parecia que estava me esperando desde fazia tempo. Bela, elegante, esbelta, imponente. Não teria como não notá-la. Na verdade ocupava com sua presença todo o espaço disponível.


O primeiro contato foi meio sem graça, nos olhamos e reconhecemos no instante que algo mais forte e mais intimo tinha surgido. A primeira reação foi olhar para outro lado, fazer de conta que nada tinha acontecido, querendo negar, ou não querendo reconhecer que algo tinha mudado para sempre entre nos dois. A cada dia, a sua presença ficou mais intima, mais próxima e mais intensa. Ao sair para minha caminhada diária, ela estava lá impassível. Um sorriso, um olhar cúmplice.


Não passaram muitos dias sem que tudo nela me interessa-se, queria saber seu nome, suas historias, conhecer seus sonhos. Quanto mais a conhecia mais queria aprender sobre ela. chamá-la pelo nome:  Caesalpinea peltophoroides, pareceu pouco intimo, o apelido Sibipuruna é mais simpático, mais eufônico e ainda que alguns a chamem de Sibipiruna, ela prefere o primeiro. Sem ninguém atrapalhando tem vida longa, chega a mais de 100 anos, e ainda que alguns leigos a confundem com os seus primos o Pau Ferro e o Pau Brasil, ela é mais elegante, mais miúda e ocupa menos espaço.


Entre setembro e novembro as suas flores amarelas alegram e embelezam a rua, primeiro nos galhos mais altos, depois com as chuvas da primavera acabam caindo na calçada e formam um tapete, menos chamativo que os dos ipês, mas bem mais duradouro e delicado. Ao longo dos anos a sua presença, a sua sombra, a cor das suas flores e a beleza da brotação primaveril passaram a formar parte do meu quotidiano.  Arrependo-me hoje de não ter dado maior importância a sua presença, a monotonia do dia a dia, nos endurece e deixamos de perceber o que é importante. Deixamos de valorar o verde e a qualidade de vida que nos produz.


Até que um dia chegaram eles, armados de moto serras e desprovidos de sensibilidade, As tribos bárbaras que nos invadiram, os novos talebans do paver, destroem tudo na sua volta, em nome de uma nova xariá chamada de requalificação, derrubaram em segundos a sibipuruna aqui na minha rua. Só ficou o toco, que durante dias ficou supurando seiva, numa ferida aberta que não queria cicatrizar. Eu fiquei triste e desconsolado, chorando pelo meu amor impossível. Um caminhão da Conurb levou os pedaços da minha amada.


Publicado no jornal A Noticia de Joinville SC

Um comentário:

  1. morei na ministro calógeras entre 83 e 87, em frente a minha casa na calçada tinha uma árvore frondosa, não sei se parente de sua sibipuruna e um dia vieram umas pessoas decididas que essa árvore estava em lugar indevido, ela destruia as calçadas com suas raízes, coitada, então surgiu não sei de onde um casal que não teve dificuldade para subir em seus galhos para numa atitude desesperada impedir que a cortassem, não adiantou e eles foram gentilmente obrigados a descer e a árvore foi derrubada. joinville tinha quantos habitantes na época se só dois foram contra o corte dessa árvore? nem eu que morava em frente acrescentei resistência àqueles dois, na verdade achamos sempre que as autoridades, os entendidos tem razão, será que tem? será que tinham na época? pobres sibipuruna e suas familiares que só tem de forte suas raízes que não são tão fortes pra resistir as motoserras e as decisóes de quem manda!
    abraços!

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